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Foi durante uma tarde de verão que eu o conheci. O céu estava azul, o sol escaldante e todas as sombras pelo caminho ocupadas. Havia um punhado de pessoas apressadas com seus diversos afazeres, indo para lá e para cá, me deixando tonto ao olhar através do vidro da grande entrada da livraria onde eu trabalhava.

Os livros pareciam tão entediados quanto eu, com todas as fofocas de minhas colegas de trabalho sobre o casamento de uma amiga em comum, e nem mesmo Percy Jackson conseguia me tirar do clima tedioso.

Quando ouvi o som do sino que indicava a presença de alguém ali, não dei importância – Minji ou Jisoo atenderiam quem quer que tivesse entrado, no fim das contas. Entretanto, para minha surpresa, Kim Jiwon era mais rápido que as noonas e não demorou para chegar no balcão onde eu estava.

Claro que, naquele ponto, ainda não sabia seu nome e nem mesmo que o sorriso de coelho, tão comum aos meus olhos numa primeira vista, faria meu coração falhar diversas vezes pelo resto de minha vida.

Mesmo que eu faça esforço para lembrar, minha memória me traí quando o assunto é aquele primeiro contato entre nós. Eu provavelmente lhe dei aquele gentil "boa tarde" que éramos obrigados a dizer a qualquer um que se aproximasse, e pensei – o pensamento em questão me lembro claramente de tê-lo – que ele devia ter entrado ali por conta do ar condicionado, porque sem chances de alguém tão descolado, usando roupas como aquelas ser tão ligado em leitura a ponto de enfrentar o calor do lado de fora apenas para conseguir um exemplar. Obviamente eu estava errado a seu respeito.

Jiwon me perguntou sobre um livro e novamente minha memória volta a falhar nesse ponto, pois mesmo que eu faça grande esforço para lembrar o título do exemplar que ele me pediu, não consigo recordar. Arrisco, porém, dizer que era um dos livros didáticos de matemática – grande parte de suas procuras estavam relacionadas a isso. E eu descobri, mais tarde, que os números eram sua verdadeira paixão.

Ele fora apenas mais um cliente aleatório que entrou ali em busca de algo, acabou não encontrando o que desejava e em seguida foi-se. Nem ao menos tive o pensamento de que não mais o veria, ja que aquilo era óbvio.

Grande foi a minha surpresa ao ver seu rosto novamente naquela semana quente. Ele apareceu todos os dias, e cada um deles trazia um livro diferente na ponta da língua.

Lá pela quinta ou sexta vez em que aqueles livros puderam apreciar o sorriso brilhante de Jiwon, Minji-noona quis sanar sua curiosidade e lhe perguntou seu nome.

"Kim Jiwon." respondeu, de prontidão. "E o seu?" perguntou, e percebi que ele parecia me olhar de canto, como se esperasse a resposta vinda de mim e não da coreana a sua frente.

Eu nada disse, não houve necessidade, Minji respondeu por nós três em alto e bom som: "Sou Minji. Aquela é Jisoo e aquela coisinha fofa ali é Kim Hanbin." Corei ao passo que Jiwon riu.

Acredito que passaram-se quase duas semanas antes de termos nossa conversa de verdade, surpreendentemente sendo iniciada por mim ao perguntar qual era a dele com todos aqueles livros com números – nunca entendi bem o pessoal de exatas, já que eu fugia do que eles tanto gostavam desde que me entendia por gente.

Lembro do brilho em seus olhos quando disse que os números eram mágicos, a língua universal, que faria deles seu futuro.

Naquele dia, aprendi que Kim Jiwon amava o infinito. "Como algo pode nunca ter fim?" perguntou, retórico. "Isso é incrível, Kim Hanbin."

Aprendi também que Jiwon gostava muito do meu nome, repetindo Kim Hanbin ao menos sete vezes durante todo nosso diálogo.

Conversamos todos os dias depois disso, as vezes sobre assuntos sérios, outras apenas sobre banalidades. Era sempre bom e eu sempre aprendia algo a mais sobre ele.

Spring day «double b»Onde histórias criam vida. Descubra agora