x Sofia x
Não consigo assimilar o que está a minha volta. Fui conduzida para um pequeno escritório, mas não tenho ideia de como é o caminho que me trouxe até aqui. Estou encarando as paredes abarrotadas de livros, tentando ler os títulos. Tentando não pensar.
Desviando do assunto a ser evitado, faço uma pergunta irrelevante.
— Como alguém pode ter tantos livros? — digo estranhando minha própria voz.
— É isso que quer saber? Bom, foi uma herança. Mas coletei alguns ao longo da vida por mim mesmo. Não são tão difíceis de se encontrar, se você sabe onde procurar. — Martins me responde de sua cadeira antiquada. Estou sentada de frente para ele. Ainda não olhei nos seus olhos. Meus olhos.
Nossos olhos são iguais.
— Como sabe? Como pode ter certeza? — ele sabe o que estou perguntando. Mas, não existe ninguém como eu. Não há possibilidades de enganos.
— Você se parece com sua mãe. Fiquei com isso na cabeça desde o momento em que te vi na praça. De início ignorei, mas eu precisava perguntar. Eu tinha certeza que você estava morta. — ele me responde em um tom controlado.
— Mas, como? O que me contaram foi que meus pais haviam me deixado. Você não me quis? Não quis uma criança defeituosa? — pergunto o que sempre esteve rondando minha mente em busca de reposta.
— O quê? Não! Nós te amávamos. Nada poderia interferir nisso. E você era perfeita para mim. Sua mãe não chegou a saber sobre sua ausência de habilidade. Mas, isso não importava realmente. Você era nossa filha. Você é. — a voz agora carrega tanta emoção que não consigo evitar olhar em sua direção.
— Então, o que aconteceu? — pergunto sem mais resistências. Preciso saber a verdade.
— Só posso supor, não possuo provas. Mas, imagino que tudo tenha sido obra de sua avó. Ela sempre foi uma pessoa ambiciosa. Ela tem aspectos assustadores quando se olha de perto. Sempre traçando um objetivo e não medindo as consequências pelo caminho. Ela nunca teve consciência.
Quando conheci sua mãe, Tereza planejava um grande futuro para ela. O objetivo era a liderança da capital, comandando assim todas as comunidades. Mas, sua mãe me conheceu e escolheu ter uma família. Os planos de satisfazer sua avó ainda permaneceram no coração da minha esposa, mas ela decidiu que nossa família era mais importante.
Quando descobrimos que teríamos uma criança, tudo mudou. Sua mãe ficou extremamente fraca, e sua avó estava sempre ao lado, cuidando para que tudo corresse bem. Agora me pergunto se ela realmente estava tentando ajudar ou se ela fez alguma coisa que te afetou antes do nascimento.
Mas, você nasceu. Cabelos negros como o da sua mãe. Era perfeita. Eu te segurei por pouco tempo. Notamos que sua habilidade não se manifestou. Sua mãe estava sofrendo um colapso, por isso fiquei ao lado dela, confiando em sua avó para cuidar de você.
Naquele dia mais tarde, ela veio com a notícia de que você não havia resistido por não possuir habilidade. Eu quis te ver, mas ela não permitiu. Disse que seu corpo já havia se deteriorado. Eu fui estúpido por acreditar nela. Me perdoe, por favor! Eu nunca vou ser capaz de me perdoar, mas talvez se você puder fazer isso eu encontre um pouco de paz. — ele está chorando. Não respondo ao seu pedido. Ainda não sei se sou capaz de perdoar alguém neste ponto da minha vida.
— Minha mãe... ela morreu? — uma mãe que provavelmente nunca encontrarei.
— Não. Ela ficou meses inconsciente, tentando se recuperar. Ninguém entendia o que estava acontecendo com ela. Quando por fim ela voltou a si, só perguntava por você. Ela escolheu seu nome, Sofia. Não contamos a ela que você havia nascido sem habilidade, apenas dissemos que você não tinha resistido. Com tudo que ela mesma havia passado, não fez muitas perguntas. Mas, quando eu confessei que tinha ficado com ela e não te acompanhado, ela se voltou contra mim. E ela estava certa. Como pude te deixar sozinha?! De qualquer modo o amor se transformou em rancor e por fim em um ódio que ainda não consigo suportar. Ela não podia mais olhar para mim, então partiu. — ele tenta conter o sentimento ao falar sobre ela, mas é evidente que ainda sente algo profundo por minha mãe.
— Você sabe onde ela está? — falo com a voz baixa.
— Sim. Ela se estabeleceu em Civitas. Nós nos encontramos ocasionalmente nos últimos anos, mas nunca chegamos de fato a ter uma conversa. Perder um filho, no fim das contas, é algo devastador demais para os pais. Sua mãe nunca mais foi a mesma. — Civitas. Minha mãe esteve esse tempo todo ao meu lado?
— Qual o nome dela? — tenho medo do que ele possa responder.
— Laura. Laura Ignis. — ao ouvir esse nome,levanto da cadeira antiga e saio correndo da sala deixando o homem que diz sermeu pai com palavras tão perigosas para trás.
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A Lenda das Estrelas
Ciencia FicciónLendas do amanhã 1 Os homens da ciência antiga nunca acreditaram que o mundo sobreviveria tanto. A nação que antes era de gigante natureza, sofreu para resistir a grande devastação provocada pelo próprio homem. Mas eles encontram uma solução, alter...