39. O fim de tudo

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Ela disse:
"Machuque pessoas"
— Olivver the Kid

***

O barulho do oceano ricocheteia em algum lugar abaixo da escuridão. Meus olhos tentam captar qualquer sinal de luz, mesmo que esta seja uma tentativa muito falha. Após alguns segundos, sinto meus movimentos sendo limitados por cordas grossas que quase desfazem a fina pele de meus pulsos. Mais uma vez, a estranha sensação de estar sendo observada me atinge de supetão.

— Thomas?— Tento me virar para trás, mas os nós me doem demais. Meu irmão respirava de forma pesada enquanto eu sentia o sangue em sua nuca em contato com a minha. — O que aconteceu?

Um raio atravessas as janelas altas, uma boa chance para que eu perceba sua situação quase desumana, em que os lábios estão cortados em horizontal, a testa totalmente rachada e sangue cobrindo seus cabelos loiros a ponto de ficarem ruivos. Não posso dizer que estou em melhor situação, pois sinto uma dor latejante na têmpora e baques em minha cabeça que parecem não ter fim.

Olho ao redor, uma tentativa falha de entender como paramos ali. Ou melhor, estou pensando em quem pode ter nos armado mais essa. Não sei se vamos sair daqui com vida, mas, com o passar dos meses, eu pude entender seu jogo de assassinatos, e tenho certeza de que estamos aqui por causa disso.

Ela parece ler meus pensamento.

— Estou atrapalhando o reencontro?

Não imaginei que pudesse vê-la de novo após tantos anos, ou até mesmo ouvi-la em um local que não fossem meus piores pesadelos. As peças parecem se encaixar cada vez mais ao passo em que o pânico me consumia de forma abrupta, igual a um vírus letal que não me deixaria viva por muito tempo.

Engulo em seco, amaldiçoando o cativeiro à medida que meus olhos se adaptam. O farol. O barulho do mar contra as rochas misturado ao cheiro de peixe podre eram únicos.

— Quem é você? — Pergunto, querendo nos dar mais tempo para pensar em uma fuga.

— Acho que você soube desde o início.

— Do que ela está falando?

A pergunta de meu irmão é um alerta. Quando a mulher de preto aparece das sombras, com os olhos tão verdes quanto uma floresta profunda e um broche esmeralda digno de hipnose em seu pescoço, não posso conter um grito.

— Não está feliz por poder me encontrar depois de tantos anos?

— Pode apostar que não.

Os braços da mulher esbranquiçada me apertam e posso sentir uma frieza forte, o que conheço como o ódio incontrolável que ela sente por mim.

— Sabia que você tinha alguma coisa a ver com toda essa confusão.

— Um incêndio não poderia me parar, não é, querida? Não pensei que sua tolice fosse tão parecida com a de seus pais.

Me seguro para não gritar, pois o tempo para escaparmos da morte é curto demais.

— O que você quer?

Seus olhos verdes reviram, mas nunca havia notado o quão idênticas éramos uma da outra. A semelhança chega a ser assustadora. Não deixo de admirá-la apesar de tudo.

— As pistas estavam em todos os lugares através dos anos. Pensei que entenderia depois que conseguiu matar sua família.

Arregalo os olhos.

Ela finalmente admitiu. De repente, o alívio e a raiva são os únicos sentimentos que consigo sentir. A mulher me confessara que havia me tirado tudo o que eu amava, mas também me tirara a dúvida de um ano inteiro sobre minha participação em um crime hediondo.

Hell Girl | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora