Capítulo 9 - How Can I Go On?

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Recomeçar. É difícil, quase impossível, eu diria. A princípio a gente acha que nunca mais será capaz de levantar da cama. Tornamo-nos extremamente dependentes das pessoas à nossa volta. E a possibilidade de tudo voltar ao normal parece remota. Bem, na verdade, nunca mais seremos os mesmos. A perca de alguém é um trauma insuperável. Mas não podemos nos deixar ficar eternamente abatidos, então acabamos sendo obrigados a levantarmos e, no máximo, nos acostumarmos com nossa nova situação.

O gatilho sendo puxado. O disparo. A felicidade de estar viva. O rosto de Akira com uma bala na testa. Fugindo do atirador. Ligando para a Emergência. Sendo escoltadas pela SWAT. O corpo dentro do saco. A poça de sangue. As ambulâncias, a imprensa, a polícia. A sensação de solidão e medo. Tudo isso se passava repetidamente em minha cabeça, enquanto encarava a parte de baixo da mesa de madeira da cozinha.

— Claire? – chamou uma voz conhecida, e logo soube que era Rebecca – Sua mãe disse que você surtou de novo. Você está bem? – disse, e virei minha cabeça, vendo suas pernas paradas perto da mesa. Não respondi nada, até que num piscar de olhos ela se abaixou para me olhar – Ficar embaixo dessa mesa para sempre não vai ajudar. – afirmou, e eu apenas fiquei a encarando, sem reação – Saia daí, vamos. – ordenou, e eu continuei imóvel, fazendo-a suspirar – O que você quer que eu faça? – perguntou, rendida. Ao notar que eu não respondia, a mesma se enfiou debaixo da mesa e deitou-se ao meu lado, me olhando nos olhos – Nós temos que ir... O hospital precisa da gente. Temos que salvar vidas, é o que fazemos, lembra? Ou você não quer evitar que pessoas se sintam como você está agora? – concordei com a cabeça em resposta, fazendo-a sorrir – Que bom... Agora nós vamos sair daqui no três, e você vai se arrumar para o trabalho, e rapidinho porque já estamos nos atrasando. Eu sei que você já é acostumada com isso, mas eu não gosto de chegar tarde. – riu fraco, tentando aliviar o clima – Vamos no três... 1... 2... 3! – segurou meu braço e me puxou para fora da mesa.

Fiquei sentada no chão por mais um tempo, até que finalmente tomei coragem e fui tomar um banho. Rebecca ficou comigo o tempo todo, falando sobre qualquer bobeira, apenas para me distrair. Saí do banheiro e fui até meu antigo quarto na casa da minha mãe me trocar, e quando estava finalmente pronta, partimos para o hospital, não antes de Cooper garantir à minha mãe que eu estava bem e que ela manteria os olhos em mim.

3 meses haviam se passado desde o acontecido, e depois de um trauma tão grande, minha mãe decidiu que eu tinha que morar com ela e meu pai, por tempo indefinido. Eles moravam em Seattle mesmo, porém numa casa um pouco longe do hospital. Quanto ao meu relacionamento com Rebecca, depois de tudo que passamos juntas, estávamos bem próximas. Acabei descobrindo que ela podia ser uma boa pessoa, apesar de aparentar ser uma completa cretina. Não sabíamos muito da vida uma da outra, mas acabamos sendo o suporte para a outra, e minha mãe confiava muito nela.

Chegamos no hospital depois de um tempo, e Cooper estacionou em uma das vagas próximas à entrada do prédio. Virou-se para mim ao desligar o motor, me estudando com o olhar.

— Está pronta? – questionou, e eu assenti com a cabeça, olhando para baixo e depois para a fachada do prédio.

A jovem saiu do carro e poucos segundos depois eu fiz a mesma coisa, levando minha bolsa comigo. Fomos até o vestiário em silêncio, e quando entrei no local, todos os internos olharam para mim, como todos os dias. Todo mundo estava sabendo da interna que havia perdido o namorado para o atirador, e todos me olhavam com pena o tempo todo, o que estava me deixando extremamente desconfortável.

Ignorei os olhares e fui até meu armário, e ao abri-lo dei de cara com uma foto minha com Akira, que tiramos no refeitório do hospital. Suspirei me perdendo em memórias, e Rebecca, ao notar que eu estava prestes a surtar novamente, tocou meu ombro, fazendo-me olhá-la.

Claire's AnatomyOnde histórias criam vida. Descubra agora