Prólogo: O Bar na Estrada

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   O sino do bar soou quando a porta se abriu naquela noite, chamando a atenção de todos aqueles que ali estavam, três homens sentados ao balcão dividindo uma garrafa de whisky barato que tinha gosto de açúcar queimado; dois sujeitos vestindo roupas elegantes que jogavam sinuca e jaziam com os tacos de cedro em mãos; quatro velhos que se sentavam em uma das mesas juntas e jogavam cartas, cujos seus cigarros queimavam em cinzeiros enferrujados; e um homem negro que estava na máquina de Jukebox, que começara a tocar "I Can't Stop Loving You" de Ray Charles.

O sujeito que entrara no bar era um homem alto de aproximadamente quarenta anos de idade, tinha cabelos escuros como a noite e barba rala, vestia um sobretudo creme e uma calça preta, em seus pés jaziam sapatos de camurça da mesma cor de suas calças. O homem tirou um cigarro do bolso direito de seu sobretudo e o levou a boca, acendendo-o com um isqueiro Zippo que tirou de sua calça, guardando-o logo em seguida. O estranho andou soltando fumaça pelo nariz e se sentou perto dos homens que bebiam whisky no balcão.

Uma senhora se aproximou do outro lado do móvel para atendê-lo. Tratava-se de uma mulher gorda, sua pele era clara e seus cabelos vermelhos como fogo, assim como as sardas que tinha espalhadas pelo rosto. O homem calculou que a mulher já devia ter passados dos cinquenta, pois as rugas que começavam a aparecer em seu rosto indicavam que ela já tinha muita história para contar, não que isso a incomoda-se, pois ela não usava maquiagem para esconder as marcas.

- Pois não? – a mulher perguntou – O que o senhor deseja?

- Uma dose da sua melhor vodka – o homem soltou fumaça pela boca quando falou – E um cinzeiro.

A mulher tirou um cinzeiro debaixo do balcão e colocou do lado do homem, que percebeu que o aço do objeto jazia amassado e em uma de suas beiradas ele notou algumas manchas de sangue seco, provavelmente o cinzeiro deveria ter acertado a cabeça de algum bêbado durante uma briga. Em seguida, a atendente colocou um copo de vidro na frente do sujeito, o enchendo de cubos de gelo e depois de vodka. O estranhou tomou um gole da bebida e em seguida depositou seu cigarro no cinzeiro.

- Você não é dessas bandas – a gorda disse – De onde o senhor veio.

- Washington – o homem respondeu, dando outro gole em sua bebida e tragando o cigarro em seguida.

- Washington? – a mulher parecia surpresa – É o segundo de Washington que passa por aqui hoje.

- É mesmo? E quem foi outro?

- Um homem muito jovem esteve aqui hoje mais cedo, queria usar o banheiro e depois pediu um copo de água. Acho que ele era padre, pois usava aquele colarinho estranho em sua camisa. Uma pena, pois ele era muito bonito – a mulher sorriu, mostrando os dentes amarelos.

- Então ele já chegou? – o estranho disse para si mesmo.

- Vocês se conhecem? Desculpe estar me intrometendo, mas acho que duas pessoas de Washington vindo para o mesmo lugar em Luisiana não deve ser coincidência.

- E a senhora está certa – o homem deu mais uma tragada no cigarro e soltou a fumaça – Eu sou um ex-agente do FBI. Eu vim aqui para investigar os desaparecimentos no pântano de Danton. O padre que esteve aqui mais cedo vai me auxiliar.

- Um ex-agente do FBI veio investigar pessoas desaparecidas no pântano? – a mulher parecia confusa – Quem é o senhor.

- Edward – o ex-agente bebeu mais – Edward Mercy.

- Edward Mercy! – a voz da mulher soou alta pelo bar.

Os dois homens pararam de jogar sinuca, os velhos abandonaram o jogo de pôquer e os três bêbados esqueceram do gosto ruim do whisky e começaram a encarar Edward, porém o homem negro continuava perto da máquina de Jukebox, sem olhar para os lados.

Edward não ligou para os olhares e continuou bebendo sua vodka e fumando seu cigarro. Os homens começavam a cochichar entre eles e o ex-agente pode ouvir que algum deles riam baixo, provavelmente fazendo alguma piadinha sobre ele, as quais ele já estava acostumado.

- Eu ouvi muitas histórias sobre o senhor – disse a mulher.

- Aposto que sim – Edward esboçou um sorriso – E qual é o seu nome?

- Oh! O senhor me desculpe, eu devia ter dito o meu nome antes de perguntar o seu. O meu nome é Pollyanna, mas todos me chamam de Polly.

- Muito bem, Polly – Edward bebeu mais um gole da vodka – Me diga, estou muito longe do meu destino?

- Não senhor. Basta seguir a estrada e em quinze minutos o senhor estará em Danton. Eu nasci lá. Abri um bar na cidade, porém digamos que tive alguns problemas e então comprei esse velho casarão na beira da estrada e abri o meu negócio aqui.

- Que tipo de problemas a senhora teve? Por um acaso tem relação com os desaparecimentos?

- Pode se dizer que sim – Polly suspirou – Danton nunca foi uma cidade muito alegre, senhor Mercy. Acho que foi por causa do passado sangrento que ela teve. Muitas histórias terríveis são contadas desde a época da colonização da área pelos franceses.

- Que tipo de histórias? – Edward apoiou os cotovelos na mesa e começou a prestar atenção nas palavras de Polly.

- Existem várias histórias sobre o pântano Danton, senhor Mercy. Crocodilos enormes que se alimentam de carne humana, plantas e sapos venenosos, águas fundas que lhe puxam para baixo. Não me admira que pessoas que entrem lá desapareçam. Sempre evitei entrar no pântano. Lembro-me de uma vez uma garotinha ter entrado lá para procurar seu cãozinho perdido. O nome dela era Patty Anne. Foi encontrada três dias depois boiando nas águas do pântano. Oh, Deus! Foi terrível.

Polly começou a chorar e levou as mãos para enxugar as lágrimas. Edward percebeu que a mulher tinha uma tatuagem no antebraço que estava quase totalmente coberta pela manga de sua camisa, mas mesmo assim ele conseguiu ver que se tratava de uma cabeça de cobra, mas o resto dela não conseguira ver.

O homem olhou em volta do bar e percebeu que o homem perto da Jukebox agora o encarava com um olhar ameaçador. Edward temia que ele o atacasse a qualquer momento, por isso achou melhor ficar um pouco mais esperto com sujeito, se virando lentamente para voltar a encarar Polly, que já se recuperara.

- Me perdoe por isso, senhor Mercy – a mulher sorriu – Muitas pessoas desaparecem no pântano há anos. Por que só agora o senhor veio até aqui?

- Isso eu não posso lhe contar. É um sigilo que prometi entre mim e meu cliente.

- Seu cliente é o Hoffmann, não é senhor Mercy – um dos velhos que bebia whisky disse para Edward – O filho dele desapareceu no pântano há algumas semanas atrás e as autoridades não conseguiram encontrá-lo vivo e nem mesmo o corpo, porém o número de pessoas que afirmam terem visto fantasmas vagando pelo pântano à noite aumentaram.

Edward não disse nada, apenas encarou o velho, que tinha o rosto coberto de rugas e barba branca como a neve, um de seus olhos era totalmente branco, o que indicava que o pobre homem perdera a visão daquele órgão.

- Diga-me, senhor Mercy, quanto aquele canalha disse que pagaria? Uma maleta com um milhão de dólares? Tudo para não sujar os sapatos caros dele com lodo do pântano. O senhor tem ideia de quantas pessoas sumiram naquelas águas malditas e ninguém apareceu para ajudar? Mas parece que é só o filho do homem cheio da grana desaparecer que até o exército americano aparece para queimar todo o pântano.

- Eu tenho que ir! – Edward tirou sua carteira do bolso e retirou dela uma nota de cinquenta dólares e a largou em cima do balcão, se afastando sem ao menos esperar o troco.

O homem percebeu que o estranho perto da Jukebox havia desaparecido. Ele saiu do bar, mas um pequeno detalhe chamou sua atenção: no meio da porta havia um símbolo entalhado na madeira que lembrava muito um sol, mas Edward também percebeu que manchas vermelhas estavam em volta do símbolo. Sangue provavelmente.

O homem se afastou e andou em direção ao carro que deixara estacionado na frente do bar, um Opala SS 1974 vermelho que ele havia alugado quando chegara em Luisiana. Porém Edward notou que havia um papel preso no limpador de para-brisa do carro. Ele o segurou em mãos e percebeu que se tratava de um bilhete onde estava escrito "Vá embora!".

- Ótimo – Edward amassou o papel – Mal cheguei e já começo a receber bilhetes anônimos.

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⏰ Última atualização: Mar 02, 2017 ⏰

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