26 • Imaginação

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Passeei pelo parque durante alguns minutos até que parei e olhei em volta. Estou à procura de quê, mesmo? Inspiração é algo que se encontra num local específico? Se é, eu preciso de o encontrar rapidamente, senão vou dar em maluca por não conseguir ter uma única ideia.

Irritada comigo mesma, ou melhor, com o meu cérebro que parece estar a dormir hoje, continuei a dar voltas pelo parque. Acabei por me fartar, por isso decidi sair do mesmo e ir dar uma volta pelas ruas para ficar a conhecer melhor a vila.

O guarda do parque estava demasiado entretido com o ecrã do computador para reparar em mim, por isso consegui sair sem problemas.

Caminhei lentamente pelas ruas desertas e estudei atentamente todos os pormenores de tudo o que via, mas continuei vazia de espírito.

Vi um café situado mesmo no fim da rua e decidi entrar. Lá dentro apenas se encontrava um homem idoso a ler o jornal e uma senhora que deve ter mais ou menos a idade da minha mãe a limpar as mesas. Dirigi-me ao balcão e pedi um sumo e uma tosta.

Quando me sentei vi o idoso a observar-me atentamente, sem nunca desviar o olhar. Senti-me um pouco incomodada, por isso, quando a senhora trouxe o meu pedido não consegui evitar perguntar-lhe:

- Sabe porque é que aquele senhor não pára de olhar para mim?

Senhora - Bem, ele deve estar a estranhar estares aqui porque normalmente nunca cá aparecem jovens. Ou estão na praia a torrar ao sol ou fechados em casa com a cabeça enfiada nas tecnologias. Tu não és de cá, pois não? Acho que nunca te vi por estes lados...

Eu - Não, estou só de passagem. Estou enfiada no campo de férias.

Senhora - Ah, muito bem. É um ótimo sítio para os jovens, devia ser mais aproveitado. Só por curiosidade, porque é que estás aqui sozinha? Não tens amigos no parque?

Eu - Não, só lá há cachopos desinteressantes e eu não tenho nada para fazer com eles.

Senhora - Não digas isso, as crianças também são interessantes. Se as tentasses conhecer melhor percebias que são mais do que cachopos barulhentos e irritantes. Podem não ter tanta maturidade como tu, mas têm uma grande imaginação que se for bem usada consegue criar coisas fantásticas.

Nesse momento entraram no café dois meninos a correr um atrás do outro. Um deles subiu para cima de uma cadeira e gritou ao outro:

- Ganhei-te! Não vales nada, és uma batata podre!

O outro aproximou-se dele e tentou enfiar-lhe a cabeça num vaso pousado no parapeito da janela, ao mesmo tempo que lhe dizia:

- Fizeste batota, seu cabeça de boi! Assim não vale!

O senhor largou o jornal, levantou-se e foi ralhar com eles, enquanto eu continuei especada a olhar para o ar. Isto é que é um uso fantástico da imaginação?

Senhora (rindo) - Bem, existem algumas exceções! Existem alguns cuja falta de juízo é irremediável!

Eu - Pois, já reparei que sim...

Entrou no café um casal e a senhora foi atendê-los. Aproveitei para sair discretamente, antes que os "meninos bem-comportados" se lembrassem de testar a sua "fantástica imaginação" em mim.

Borboleta Lutadora (✔)Onde histórias criam vida. Descubra agora