Capítulo 18

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"Me diz de novo o que estamos procurando." Michel alternou os manches do iate e girou o volante, fazendo a embarcação circular por entre as ondas.

Eu me pendurei para fora da janela e forcei os olhos na direção do horizonte. Já navegávamos há quase duas horas avistando nada além do oceano azul e o céu acobreado da madrugada. Em breve eu precisaria ir trabalhar. O nervosismo começava a esmagar meu peito.

"É uma ilhota de pedras negras, não muito grande." Repeti, pela décima vez.

Michel suspirou, vasculhando o oceano infinito com seu binóculos.

"Escuta, Gabe, não é má vontade da minha parte, mas os mapas não indicam ilha alguma. Tem certeza que não sonhou com esse lugar?"

"Não é tão longe da praia. Tem sinal de celular." Falei.

Eu temi que Michel fosse desistir, mas ele manobrou a embarcação novamente, e continuamos procurando. As ondas suaves da manhã sem brisa faziam ondular o iate, e carregavam um cheiro dolorosamente nostálgico de maresia.

Tentando acalmar minha angústia, eu espiei o painel cheio de luzes da cabine de comando. Tudo no iate do Michel era impressionante. No deck haviam uma hidromassagem, piscina, e vários sofás com compartimentos secretos, que guardavam bebidas refrigeradas e champanhe. Se o quarto era tão bonito quanto a parte superior, eu não sabia. Não era bobo de acompanhar Michel até lá.

Enquanto eu afinava os olhos, tentando avistar qualquer coisa que não fosse o oceano e o sol do alvorescer, ouvi um apito vindo do painel.

"O que é isso?" Perguntei, ao ver piscar uma luzinha vermelha.

"Pouco combustível. Precisamos voltar." Respondeu Michel.

"Não! Nós ainda não encontramos a ilha!" Segurei seu braço antes que girasse o volante.

"Desculpa, Gabe. Não podemos ficar à deriva." Michel alisou os cabelos loiros para trás, começando a demonstrar impaciência.

Eu baixei meus olhos, me segurando para não chorar. Não devia ter criado tantas expectativas. E se fosse uma dessas ilhas mágicas, como nos filmes? Apenas o predestinado do Dylan poderia encontrá-la, e agora que rompemos tudo estava perdido.

Não, eu estava pensando como um louco. Até os caras da guarda costeira estiveram lá, e não me xingaram pouco por precisar ser resgatado duas vezes.

Aos poucos, a linha da cidade voltou a aparecer no horizonte, com seus prédios baixos e areia branca.

"Podemos procurar de novo outro dia." Michel afagou o lado do meu rosto. "Desculpa."

"Tudo bem." Respondi, mas claro que não estava tudo bem. Eu abracei minha barriga e tentei aceitar que não reencontraria o Dylan nunca mais.

E então algo atraiu minha visão. Um pequeno ponto preto no meio do oceano, quase desaparecido no centro do sol nascente.

"Ali! É a ilha!" Eu me joguei nos braços do Michel, apontando para a frente em histeria completa. Ele resmungou qualquer coisa sobre precisar abastecer, mas a minha insistência o venceu com facilidade.

Em poucos minutos ela estava diante de mim. A ilha em que comecei minha história com o Dylan. Os rochedos negros e brilhantes empinavam para o alto, sempre castigados pelas ondas do alto-mar.

Felizmente chegamos por trás da ilha, e Michel não pôde avistar a entrada da caverna.

"Tá certo, é um monte de pedras no meio do mar, e agora?" Michel arqueou uma sobrancelha pra mim.

"Agora você me deixa aqui e vai pra casa." Falei, abrindo a porta da cabine e já correndo para fora. "Te ligo se precisar que me busque."

Eu corri para o deck e me preparei para saltar, quando Michel segurou firme o meu pulso.

O Amante Do Tritão (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora