16º Capítulo

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Deixo-me deslizar pela porta da casa de banho com os dedos enfiados nos meus fios de cabelo. Já não consigo controlar-me mais e os soluços aparecem um atrás do outro cada vez mais fortes. A minha respiração tornou-se mais pesada com o passar do tempo, o meu peito parecia arrebentar a qualquer momento, a minha cara estava completamente lavada nas minhas próprias lágrimas que pareciam não ter fim.

As memórias dos anos passados continuavam na minha cabeça, mas por mais que tentasse abstrair-me deles era inútil.

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'' Então mamute, por onde pensas que vais? '' a voz encontrava-se ao pé da sala de onde ia ter a aula de ciências.

Ignorei e continuei o meu caminho.

'' Oh elefante, vai com calma. '' riram-se em uníssono. '' Woow o chão está a tremer. A mamute está a chegar '' e fingiram que o chão estava mesmo a tremer. Idiotas. Parvos. Sacanas.

Abaixo a minha cabeça e respiro fundo ao entrar na sala, sabia que nas aulas este ambiente piorava.

A professora estava a dar os diferentes tipos de rochas, eu não me interessava muito nesta disciplina mas admito que até esta matéria é das poucas que capta a minha atenção.

É então que sinto algo a bater-me à cabeça. O que é isto? Passo a minha mão pelo cabelo e não sinto nada. Outra e outra vez sinto cada vez mais algo a vir contra a mim, volto-me para trás e reparo que o chão estava cheio de pequenas bolas de papel e ao fundo estavam um monte de idiotas a rirem-se. 

'' Cesto! ''

'' Épá alto fail! Não acertas-te! ''

Eram as mesmas vozes que exclamavam, não percebi na altura o que se estava a passar ou o porque de de vez em quando dizerem '' cesto'' mas não me importei, pelo menos estavam entretidos com alguma coisa sem ser eu.

'' Ignora Victória. '' Pensei para mim e respirei fundo mais uma vez. Toda esta situação estava a deixar-me nervosa e por consequente, enjoada. 

'' Professora, posso ir à casa de banho? Estou um pouco mal-disposta... '' a professora dá a sua autorização e eu levanto-me.

Sinto as minhas costas ligeiramente mais pesadas mas ignoro por momentos.

'' Estás mal-disposta por causa da quantidade de açucar dos bolos que comes '' Se eu pudesse matava este Diogo. Ele é o gordo dali e eu é que fico com a ''fama''.

Ignoro novemente e abro a porta da sala. Como solavanco da abertura da porta, sinto e ouço um monte de bolinhas de papel a cairem diretas no chão e os risos de toda a turma.

'' Já não te sentes? '' Gritou um rapaz qualquer tambem a rir.

Ai percebi tudo, sacudo o meu capuche e de lá caem ainda mais bolinhas de papel.

Só eu sei a vergonha que passei, a dor que sentia por estar a ser gozada pela turma toda e a professora apenas olhava para mim sem expressão. O que mais me revoltou foi ela ter aberto a boca para dizer: '' Victória, já viste a porcaria que fizeste? Pede à funcionária uma vassoura e varre tudo. ''

Apetecia-me desaparecer. Eu sei que não devia chorar à frente deles mas a humilhação era demasiada que não aguentei e desabei ali mesmo. Saiu da sala a correr ainda com bolinhas no capuche e vou em direção à casa de banho. Foram 3 anos de puro tormento, tenho 12 anos e sofro destas humilhações desde os 10. Porquê? 

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Quero gritar, gritar e gritar até os meus pulmões explodirem mas não posso, por isso mordo com força o meu braço e choro. Se há algo que já fiz em demasia nos meus 16 anos foi chorar. 

o nosso erro || l.tOnde histórias criam vida. Descubra agora