Quantos metros é possível correr até que as suas pernas começam a falhar? As minhas já estão bambas.
Piso em falso várias vezes enquanto corro por entre as árvores. Não sei a quanto tempo estou correndo e nem onde estou, mas não posso parar. Não posso deixar que ele me alcance.
Meu cabelo molhado roça em meu queixo e pescoço. O pano que restava das minhas roupas cobria pouca coisa, estava sujo e rasgado. Minhas pernas e braços passam por pequenos galhos que me arranham a cada passo que dou. Sei que estou muito machucada mas não sinto nada porque estou cansada. E o cansaço me serve como uma espécie de anestesia.
Pena que minha mente não está anestesiada e tudo que ela me passa é medo. Medo de não conseguir sair daqui.
(Esse pequeno enredo não é de minha autoria.)
***
Acordo novamente suada e com a respiração ofegante. Até quando eu iria continuar com esses pesadelos? Até quando iria viver com isso?!
Já fazia três anos que vinha tendo o mesmo pesadelo. Mas claro não exatamente o mesmo, e sim alguns acontecimentos daqueles piores dois dias da minha vida, os dois piores dias que fez da minha vida um inferno, os dois piores dias que me assombram até hoje.
Meus pais ja me levaram a muitos psicólogos e psiquiatras para ver se me ajudavam mas nada do que eles falavam adiantava, nada do que eles falavam ia me tranquilizar.
Em todas as sessões de terapia que eu ia me perguntavam se eu podia explicar o que aconteceu durante aqueles dois dias. Claro que eles sabiam o que havia ocorrido, só queriam saber se eu conseguia falar sobre aquilo. Eles me falaram que se seu falasse mas rápido sobre o assunto mas rápido eu iria superar mas eu não falava, não conseguia.
Mas eles estavam errados eu não superei. Sei que essa coisa de "superação" demora. Fiquei durante um ano ouvido alguns deles me falarem coisas reconfortantes e outros não tendo muita paciência comigo falavam que eu era caso perdido. Se isso me afetava? Não muito, acho que entendia eles. Quem é que aguentaria uma garota com um trauma sem falar uma só se quer uma palavra durante três meses de terapia? Bom, os que realmente queriam ajudar aguentaria dois, três, quatro meses ou até mais, pois as pessoas assim como eu ainda estavam em choque.
E foi por uma dessas questões que eu parei de frequentar psicólogos e psiquiatras. Eu não conseguia mas me encontrar.
Levanto da cama em direção ao banheiro para tomar banho bem gelado pra tentar relaxar.
Muitos falam da minha beleza. Que eu tenho uma beleza diferenciada e natural. Eu não sabia da importância da minha beleza, com meu corpo magro, pele muito branca, cabelos loiros naturais, olhos extremamente verdes puxado um pouco pro azul, enfim uma beleza natural. Me falavam que muitas mulheres mesmo da minha idade e as mais velhas matariam para ter uma beleza natural igual a minha. Mas claro eu não achava isso, eu sabia que era bonita porém não para tanto.
Saio do banheiro depois de quinze minutos ainda enrolada na toalha e vou até a janela fico olhando através dela o movimento lá fora que ainda estava escuro. Peguei meu celular para ver as horas e vi que faltava pouco para amanhecer.
Volto para dentro do banheiro e pego um maço de cigarro tiro um de lá o coloco na boca e o acendo. Fico ali pensando como minha vida mudou depois de tudo o que aconteceu. Como devem ter percebido faço coisas que antes não sentia prazer em fazer mas hoje não consigo evitar. Passei a ser uma pessoa digamos de mal com a vida, não me importava com nada. Além do mas, minha vida acabou quando aquele homem pôs as mãos em mim. Então passei a fumar e beber, a bebida além da droga era um tipo de anestesia para mim quando tudo o que aconteceu vinha com tudo na minha cabeça.
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Como Tudo Começou
RandomDoce e ingênua, duas simples e pequenas palavras que definiam Mila Singer. Mas, que agora não a definem mais, não depois do trauma que sofreu e destruiu completamente sua vida, a três anos atrás a atormentando até hoje. O livro tem erros ortográfico...