Meu jeito inseguro

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  Bem que eu gostaria de ser a mulher que minha mente está criando nesse exato momento, a mulher poderosa que sairia de peito aberto pro que está por vir, que vestiria sua melhor roupa e sua melhor lingerie pensando exatamente na hora que Nora tiraria peça por peça de mim, mas infelizmente não sou isso. Eu sempre tive muita atitude, era eu que ia atrás de Nora quando ela não estava nem aí pra mim, eu que teimava em ajudar ela ou achar um pretexto qualquer pra estar cada vez mais próximo, cada vez mais perto dela, dos seus olhos capazes de me devorar e seus lábios que serão eternamente o meu vicio, que vou ter que lutar diariamente pra não cometer o mesmo erro. Vou de um lado pro outro do quarto estou pronta, mas não tenho coragem de sair, não estou pronta pra ver ela, pronta pra encarrar tudo que ela pode me dizer, nunca estive pronta pra Nora, tudo era tão inusitado, empolgante e fascinante, como se tudo fosse uma primeira vez, algo épico, não me lembro do meu primeiro beijo direito, mas lembro-me perfeitamente do primeiro beijo que dei em Nora, da primeira vez que ela me tocou, que eu senti que ela realmente me desejava.
Sinto que a mulher da noite passada desapareceu, a mulher disposta a apenas deitar com Nora mudou de idade, eu nunca conseguiria apenas fazer sexo e ir embora sem amar cada vez mais ela. Um beijo já me dá esperanças, o toque dela então me causaria um mar de ilusões onde eu nadaria calmamente em expectativa e acabaria me afogando em decepções. Porque com Nora era assim, está tudo indo muito bem e do nada desabava, sumia tudo, apagavam-se as luzes e eu ficava no meu quarto chorado a procura de explicações, perguntas que até hoje eu não tenho resposta. Por que eu gosto tanto de você? Se você realmente gostasse de mim não ficaria apenas comigo? E seu marido? Você o ama? Você o deseja como me deseja?
Já está quase na hora que ela marcou pra me encontrar, desço as escadas, Kelly está sozinha e Júlia esta deita no sofá balançando as pernas enquanto colore um livro, pelo visto Bill não chegou ainda, vou até a cozinha e abro a geladeira vendo os olhos de Kelly me seguindo.
— Vai sair filha? — pego o leite da geladeira.
Kelly o que você gostaria de ouvir? Sim, mamãe vou sair com um cara rico, agora eu gosto de homens, nunca mais vou beijar uma mulher, como você disse mamãe minha sexualidade é só uma fase.
Vai se foder Kelly.
— Ia, mas resolvi ficar em casa— o cabelo loiro platinado está amarado em um coque, ela passa os dedos por uma mexa solta enquanto desliga o fogo e coloca uma panela em cima da mesa, abro o armário e pego um copo.
É estranho estar com ela, não parecemos mãe e filha é uma diferença e tanta, acho que esse foi o motivo das nossas brigas, ela sempre quis o melhor pra mim, entendo isso, mas o ponto de vista dela, bom ... É bem diferente do meu, pois casar com alguém que não amo e manter e alimentar isso por conta do dinheiro não é pra mim um plano nem um objetivo a ser alcançado a todo e qualquer custo. Kelly tentou me criar como uma agarradora de machos ricos, coisas que não deu certo porque logo cedo percebi que a minha admiração estava em pernas lisas envoltas por uma meia delicada e um salto alto.
— Vai jantar? Eu fiz um macarrão com molho branco, sei que você gosta — ela não me olha apenas continua a colocar os talheres caros na mesa, ela quer alguma coisa, eu só não sei o que é, mas vou descobrir.
— Não estou com fome, Kelly, mas quando estiver, eu desço e como— ela me olha rapidamente, vejo que ela olha para as tatuagens do meu braço.
Kelly quase morreu quando eu fiz a minha primeira tatuagem, ela logo ligou para o meu pai que não se importou muito, papai sempre foi assim, faz o que quiser, com tanto que você não pegue nenhuma doença, que não faça nada que seja contra a lei ao ponto de te mandar pra uma prisão e fazer o seu rosto ser estampado em um jornal.
— Gostaria que você estivesse aqui na hora do jantar, Bill falou que uma amiga dele vem aqui, sabe aquela Nora Robson, a mulher é famosa na cidade.— ela me olha procurando alguma reação ou resposta como "sim", "não", ''vou pensar'', ''quero mais que se foda''.
Nora realmente vai surgir por aqui se eu não for a esse encontro.
— Não vai ter como — afundo a bolacha no leite e coloco na boca sentindo o gosto do chocolate enquanto olho diretamente paro os olhos de Kelly que estão nervosos.
— Como assim Catarina? Ela é uma visita e você vai ter que ficar aqui pra recebê-la comigo. — ela coloca os braços sobre os peitos e encosta na pia.
Porque isso está me irritando tanto?
— Não vou ficar e fingir que estou feliz em estar na cidade, que estou feliz em estar na sua casa, que estou feliz com toda essa palhaçada onde eu sou o palhaço que está se matando por dentro, mas por fora tem que estar sorrindo e trabalhando pra convencer os outros— coloco mais uma bolacha no leite e vejo que Kelly tira o avental vermelho sangue de volta da cintura e se senta.
— Eu também não queria que você estivesse aqui, você sabe muito bem disso, o seu pai me convenceu a te deixar aqui até o dia que a sua casa no outro lado do lago estiver pronta e eu aceitei, mesmo sabendo que estou prestes a me casar e você apareceria aqui só pra fazer um inferno, porque pelo visto você não consegue me ver feliz né Catarina, minha felicidade te afeta ―Kelly solta os cabelos que formam lindas ondas sobre os seus ombros.
— Nossa muito obrigada por você ser uma ótima mãe e me aceitar aqui, você é quase uma madre Teresa de Calcutá, vá a merda Kelly. — saí da cozinha sem dar tempo dela dizer algo.
Subo as escadas e bato a porta.
Olho pro relógio, Nora já deve estar a caminho, ela não vai me ver no Starbucks e vai vir pra cá, vai se sentar a mesa onde eu estava apoiada a minutos atrás e vai jantar e depois vai subir as escadas bater na porta do meu quarto e vai entrar e me beijar nesse quarto.
Me desculpa nora, mas errar três vezes já é demais pra mim.
Abro a guarda-roupa, pego uma das bolsas pretas guardadas no fundo, pego um pijama e um vestido simples e confiro o dinheiro na minha carteira.
Tem mais do que o suficiente pra passar uma noite em um hotel, às vezes a melhor escolha é fugir do caos, desço as escadas vejo os olhos de Kelly e Júlia me seguido, dou um beijo na testa de Júlia que me abraça, passo por Kelly, abro a porta e saio em rumo a um hotel
[...]
Em todo o caminho penso na necessidade que senti em tocar Nora na noite passada, a vontade de beijar ela, sentir os lábios quentes na minha pele me saboreando pouco a pouco, nunca foi só sexo, eu queria mais do que uma transa casual com tempo suficiente pra apenas um orgasmo e quem sabe uma leve dormida, onde eu acordava sozinha e com uma parte de mim totalmente saciada, a parte do desejo da carne e a outra? A outra estava um caco, a parte do emocional se encontrava destruída, quantos foram os dias em que escutei Nora levantar da cama, tomando cuidado pra não me acordar quando na verdade eu estava apenas fingindo que estava dormindo, ela levantava devagar, ia até o banheiro do hotel — o mesmo hotel que estou indo agora passar uma noite— eu escutava o chuveiro ser aberto, ela tomava um banho demorado, talvez estivesse tentando se livrar de qualquer cheiro meu que poderia ficar grudado em seu corpo— cheiro que eu sempre vou adorar, o nosso aroma depois do sexo, o nossos cheiros misturados— Nora saía do banheiro nua, com os belos seios rosados saltados e com o belo corpo quase brilhando, talvez meus olhos tenham esse problema, o problema de ver Nora como uma deusa grega, bela e esplêndida. Ela pegava as roupas que muitas vezes estavam espalhadas pelo quarto, vestia peça por peça do mesmo modo que eu fazia para tirá-las, depois se olhava no espelho e arrumava o cabelo, ia até a cama às vezes passava a mão nos meus cabelos, com muito cuidado para não me acordar enrolava uma mecha nos dedos e beijava minha testa.
Nora, saiba que eu sempre quis que você me acordasse e fodesse comigo novamente de maneira vulgar e depois me mandasse embora ao invés de ter que lidar com a sua partida.
Outras vezes ela me dava um beijo na testa e saia do quarto me deixando ali sozinha e aquela era a exato momento onde eu desabava, era apenas sexo pra ela, mesmo com as palavras carinhos que as vezes saiam da boca dela entre gemidos, eu era apenas um objeto que ela adorava utilizar, nunca me amou pois no final do dia depois de uma manhã de trabalho e uma tardar de sexo, ela pegava o carro e como uma senhora normal de sua idade, ela dirigia em rumo ao seu lar. Fazia a janta, algo muito gostoso que faria o seu marido repetir e querer lamber os dedos e depois ele faria o mesmo com ela, comeria até lamber os dedos, puxaria ela pra sabe se lá onde.
Mais tarde quando eu ficava sozinha no quarto, imaginava a cena perfeitamente, ela tiraria os pratos da mesa enquanto ele admiraria a sua linda bunda, sentiria o cheiro dela e daria beijos em seu pescoço — como eu adorava fazer— ela se renderia facilmente a ele, os dois correriam até o quarto, ele tiraria a roupa dela e ali eles fariam amor lentamente, repetindo palavras carinhosas, as mesmas que ela gemia comigo.
Pago o hotel e subo até o meu quarto, 275. Abro a porta, jogo a bolsa na cama e vou direto para banheiro, encho a banheira, arranco a roupa e afundo na água sentindo o corpo pulsar.
Onde quer que eu esteja. Nora, você vai estar comigo, pois você já é uma parte de mim. 

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