Sinto que meus olhos ardem, mas não sei se é por conta do sono, pois pouco dormi essa noite ou talvez seja o vinho que venho tomando durante o dia para controlar um pouco da ansiedade. Não vejo a hora de ver Catarina e por esse simples fato até o relógio parece estar correndo mais devagar ou talvez esteja como sempre.
Falta pouco pra ir buscar ela no Starbucks e desde cedo estou escolhendo uma roupa, limpando a casa e procurando na mente algo que Catarina gostaria de comer, decidi fazer um macarrão, ela sempre gostou então apostei nisso, o cheiro e o gosto estão divinos misturados ao vinho que estou tomando. Talvez eu não devesse dirigir, bebi bastante, mas foda-se não é tão longe daqui então vou voltar rapidamente. Melhor não ir, tem de estar consciente e lúcida, dirigir no estado que estou não seria uma atitude inteligente.
Pego o celular em cima do sofá e procuro pelo número que Bill me deu, ligo uma vez, mas cai direto na caixa postal, talvez ela já esteja me esperando no Starbucks. É melhor chamar um táxi e ir até lá. Começo a digitar o número pra chamar um táxi e a campainha toca, sinto cada parte do meu corpo se contrair como se ela estivesse me tocando, por incrível que pareça sinto o seu cheiro, o perfume tomando o ar e os meus pulmões.
Jogo o celular no sofá e ando um pouco mais rápido do que o comum até a porta que seja ela, quem sabe com uma jaqueta de couro —ela adora jaquetas de couro— com uma calça apertada que mostra bem suas curvas e o cabelo um pouco bagunçado daquele jeito que Catarina sempre deixa por passar os dedos entre os fios castanhos.
Abro a porta e fico surpresa, tudo que me vem à mente agora, é decepção mesmo que a visita seja boa, não veio em boa hora a quando tempo não a vejo? Sete ou oito meses?
— Mamãe? — o cabelo platinado reluz como sempre, dou um passo pra trás e ela vem em minha direção me dando um abraço acolhedor.
O que ela está fazendo aqui? Por que ela veio sem avisar?
— Nora querida, você está bem?
Minta Nora.
— Estou mãe. A senhora por aqui? O que aconteceu? Você sempre avisa! — tento não ser inconveniente, mas acabo sendo.
— É bom fazer uma visita às vezes Robson, sem mais nem menos só pra saber como vão às coisas — tento não revirar os olhos, mas acabo bufando ela percebe meu desconforto.
— Espero não estar atrapalhando — mamãe se senta no sofá colocando a bolsa cara no lado.
— Não está — me sento ao lado dela tentando parecer calma.
O que mais? Diga logo o que veio fazer aqui, antes que eu tenha que tocar nesse assunto e fazer com que a senhora conte a força, percebo um silêncio um tanto quando intimador. Conheço e sei que ela está pensando em algo pra dizer, algo que vai me afetar, tento me preparar para o que está por vir.
— Mãe, você poderia ter - me ligado, nos conversaríamos, eu tenho todo o tempo quando o assunto é a senhora, mas simplesmente não acredito que você pegou um avião e veio até aqui só pra saber se estou bem. O que aconteceu mãe? — sou o mais direta possível se eu não perguntasse o silêncio duraria por horas e eu não tenho tempo, preciso ver Catarina, ela deve estar no Starbucks me esperando, ou talvez não, quem sabe eu tenha que ir até um jantar chato na casa dela pra sentir o gosto dos teus lábios, daqueles doces lábios mais uma vez e fazê-la lamentar por não ter estado onde mandei.
— Nick me contou o que está acontecendo e eu quero saber da sua boca, quando ia me contar Nora Robson? Quando? — pisco algumas vezes tentando compreender.
Nick? O que tem o Nick? Ele já não está no inferno tentado negociar com o capeta para que eu não me separe dele? O que ele falou? Merda! Ele falou de Catarina?
— O que o Nick falou? — cravo as unhas na minha mão, sinto uma gota de suor escorrendo pelas minhas costas.
— Não se faça de desentendida, você sabe do que estou falando Nora, sua separação— olho para o relógio e volto os olhos para Madalena, a mulher que é contra o aborto, a bigamia, traição e qualquer coisa que possa fazer com que um relacionamento acabe— Quando ia me contar? — tento não revirar os olhos.
— Quando Nick assina-se a separação— olha mais uma vez para o relógio e acho que agora a hora resolver passar rápido porque eu não vejo a hora de ver Catarina, sair daqui é o meu maior objetivo no momento.
— Você sabe que sou contra isso — ela me encara com um olhar frio.
Estou cagando e andando se você é contra ou a favor.
— Nora, você sabe que um casamento de anos não acaba assim sem mais nem menos. Senhor, vocês são perfeitos um para o outro, tem que ficar juntos— ela gesticula diversas vezes— de um dia pro outro você acordou e descobriu que ele não é o homem pra você Nora? Eu sei minha querida que manter um casamento não é lá uma coisa fácil, mas temos que aguentar, nos mulheres temos que fazer isso.
Sinto minha paciência se esgotando.
— O seu pensamento é arcaico. — digo sem pensar.
— Você está me chamando de velha? — mamãe altera a voz.
— Não estou te chamando de velha, estou falando que o seu modo de pensar é velho.
— Mantive um casamento por anos pensando desse modo— tento não rir, mas acabo soltando uma risada extremamente irônica.
Mesmo mãe? Você manteve o casamento, ele durou anos e anos, anos pelo qual você chorava ao ouvir o seu marido fazendo outra gemer e por muito tempo venho fazendo isso mãe, engolindo sapo, tentando digerir sentindo o cheiro de sexo em Nick, eu estou cansada e venho aguentando isso com apenas uma pessoa na cabeça. Minha doce Catarina, eu não sei ao certo o que sinto por ela, se é só uma necessidade boba ou se amor, mas eu quero viver isso.
— Mãe, eu não sou igual a você, não vou manter um casamento por causa das aparências, sei que você amou muito papai, mas o que ele fez com você nenhuma mulher deveria passar. Mãe todo mundo sempre soube que ele te traia, até você sabia e você foi conivente, aceitou a causa e as condições, o que vocês viviam não era um casamento, você era casada com ele, estava ali pra qualquer coisa, era completamente fiel ,mas para ele você era apenas um objeto— ela se levanta, continuo a falar — Não julgue o meu casamento, já tomei minha decisão, não quero ficar com Nick e assim vai ser, se eu acabar quebrando a cara irei quebrar sozinha e vou sofrer e pode ser que eu corra atrás depois e me arrependa, mas se eu for feliz, mais feliz do que há dois anos, dois meses ou duas horas, eu vou festejar por ter tomado essa decisão.
Por incrível que pareça acabo recebendo algo que não esperava, ela me abraça, sinto o cheiro gostoso do perfume dela, o abraço acolhedor da minha mãe é capaz de me confortar a alma.
— Faça o que achar melhor e independe do que aconteça eu estarei aqui para te segurar— ela sussurra no meu ouvido.
— Eu te amo mãe— passo os dedos pelo cabelo dela e me aconchego mais nos seus braços
— Eu também te amo Nora — ela me dá um beijo na testa e se afasta
— Aonde você vai? — olho pro relógio, sem duvidas Catarina já deve ter esperado demais e ido pra casa
— Aluguei um hotel, vou voltar pra lá. Quem sabe amanhã nós possamos marcar um café e aí conversamos melhor.
— Não precisa dormir em um hotel, tem um quarto de hóspedes, você pode passar a noite aqui — olho para o relógio mais uma vez.
— Prefiro passar a noite lá, não quero te incomodar— reviro os olhos.
— Em que hotel você vai ficar? Vou cancelar a reserva e você dorme aqui.
— O hotel Matriz, nem pense nisso, já paguei, minha malas estão todas lá, aqui eu não vou me sentir confortável e tem um taxista me esperando na porta — ela me dá mais um abraço e vai em direção à porta.
Só de ouvir o nome daquele hotel, as lembranças me vêm à tona, me trazendo dor e saudade
— Você é tão teimosa mãe. — ruborizo.
— Nem um pouco comparado a você minha menina.
— Te amo Nora.
— Te amo mãe.
Abro a porta e ela sai correndo de casa tentando evitar a chuva forte que começou a cerca de 5 minutos, volto pra dentro de casa e procuro pelo celular, nenhuma ligação de Catarina, isso está me matando, senhor onde ela estava? Ligo mais três vezes, mas cai na caixa postal, Inferno! Pra que tem um celular se não vai me atender?
Apoio os pés no sofá e vejo a bolsa da mamãe, merda ela esqueceu, abro a bolsa e vejo alguns cartões, sem duvidas isso vai fazer falta. Pego um guarda-chuva, apago as luzes da casa, entro no carro e acelero em meio à chuva.
P.O.V Catarina Smith
Ligo pra recepção e peço uma garrafa de vodca, me enrolo nos lençóis brancos da cama king e ligo a televisão trocando de canais diversas vezes. Canal de desenho, legal isso, vai me fazer dormir acompanhada de uma garrafa de vodca, a campainha toca, coloco o pijama e um homem de cabelos claros, maxilar rígido e terno preto bem passado me entrega a garrafa e a nota de pagamento, trocamos algumas palavras rápidas, bato a porta e coloco a bebida no copo e viro sentindo minha língua queimar.
Que delicia.
Meu telefone começa a tocar, penso em atender, mas o número está como não identificado, deixo tocar. Volto pra cama e escuto a doce melodia da chuva caindo, sinto um sono incontrolável.
Que estanho estar rindo enquanto assisto bob esponja.
Tento evitar os pensamentos que me aterrorizam, Nora falando para Kelly, Bill e Júlia que ela teve um caso comigo, que me comeu de quase todos os modos possíveis — não evito sorriso, realmente foram muitos modos— me lembro do dia em que ela me chamou para ir ao hotel, falou que era importante, cheguei a pensar que iríamos terminar ou algo assim, como eu tinha a chave do apartamento entrei sem bater e vi todas as luzes apagadas, chamei algumas vezes até que escutei ela dizer que estava no quarto, e quando cheguei tive uma das melhores visões, ela estava maravilhosa com um vestido vermelho longo e quando a vi todas as lembranças de uma briga sumiram—tínhamos brigado porque ela iria a um jantar de negócios com o marido e não teria como me ver— lembro perfeitamente de ficar triste a semana toda porque no único dia que teria como ver ela, Nora resolveu ir a jantar com o marido. Ela sorria para mim e eu não pude evitar, estava linda e Senhor, estava tirando o meu ar com aquele vestido vermelho com várias rendas e sem me controlar passei a mão vendo cada detalhe do vestido, sentindo o seu corpo se arrepiar ao meu toque, quente e cheiroso, ali mesmo naquela tarde arranquei aquele vestido do corpo dela e a joguei na cama, puta merda, ela estava sem calcinha, talvez estivesse brincando comigo e eu estava adorado aquelas brincadeira, beijei os seios dela, tudo bem devagar só para enlouquecê-la, mas na verdade eu estava me enlouquecendo porque Nora era capaz de me enlouquecer com apenas um sorriso, e tocar no corpo dela era o meu delírio o meu vicio mais obscuro e secreto.
Naquele quarto de hotel senti os melhores orgasmos da minha vida, dei os gemidos mais inebriantes que alguém poderia dar e gozei diversas vezes chamando e gritando o nome da minha amada Nora Robson.
Tomo mais um gole de vodca, sentindo minha garganta queimar, merda quero um cigarro.
Merda Nora! Só de pensar em você já me sinto louca, necessito de você, mas não posso me render a esse desejo e acabar sofrendo mais uma vez.
Escuto o celular tocar mais algumas vezes, será que é ela? Penso em atender, passar o endereço para que Nora venha aqui e mate todo esse desejo, mas não.
O barulho da chuva fica mais forte e começa a ser acompanhado de relâmpagos e raios. Começo a mudar de canal, música, desenho, entrevista, novela, comédia, filme, série, paro no jorna que está falando sobre um acidente que aconteceu a cerda de 10 minutos na via principal, as imagens são chocantes o carro está acabado, a lataria está completamente retorcida.
— As pessoas que estavam na rua e no ônibus foram levemente feridas, mas a dona da BMW foi levada por uma ambulância em estado grave— olho pra televisão vendo o carro mais uma vez— quando houver mais informações estaremos de volta.
A repórter muda de assunto falando sobre o clima de Eugene, o meu coração se apertando, BMW preta, Nora. Pulo da cama e vejo as quatro ligações não atendidas. Acabo ligando para o número, mas vai direto para a caixa postal.
O carro do acidente o carro parece com o da Nora, senhor Nora.
As lágrimas começam a descer do meu rosto, não sei, mas me sinto desesperada será que é ela? Pode ser que ela foi no jantar lá em casa, não me viu sei lá pegou o carro e acabou batendo, será que é ela? Não pode ser.
Ligo mais vezes para o número, mas nada.
Inferno.
Abro o e-mail e mando uma mensagem.
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De: Catarina Smith
Assunto: Preocupada.
Data: 8 de novembro de 2014 18:32
Para: Nora Robson
Nora você está bem? Onde você está? Quando vir essa mensagem me ligue, você tem o meu número certo? Estou em um hotel, o hotel que nós... Por favor, quando ver essa mensagem me dê notícias estou preocupada.
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Envio sem pensar e merda, agora já foi o carro pode não ser o dela. Ela pode estar bem nesse exato momento, pode estar deitada no ombro do marido, falando que o ama enquanto a otária aqui está preocupada.
Merda Catarina, não aconteceu nada, então por que ela não me atende? Aquele telefone é o dela?
Desligo a televisão, me enrolo nas cobertas e tento dormir mesmo sabendo que isso é impossível.
Ela está bem Catarina, ela está bem.
Todas as imagens que me vem à cabeça quando fecho os olhos e a de Nora entre as ferragens o olhar vago, a testa sangrando, o cabelo um pouco bagunçado.
Esteja bem, por favor.
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Insensatez
Fiksi PenggemarHá três anos Catarine fugiu para tentar evitar os seus sentimentos por uma mulher que sempre a teve em suas mãos, mas depois de ter uma briga com seu pai foi obrigada a voltar a Eugene e enfrentar a mulher de belas curvas, cabelos castanho que caíam...