Insensatez

Somos um pouco de tudo que amamos

Acordo assustada, o telefone está vibrando embaixo do travesseiro sento na cama e vejo no visor o nome de Kim.
—Oi Nora — a voz de Kim está abafada.
—Oi Kim— passo a mão no olho e acendo o abajur.
— Faz quase uma hora que sai da casa de Kelly— ela faz uma pausa.
Por que ela não me avisou antes?
— Porque não me ligou antes?
Olho pela janela os carros passando.
— Preciso falar com você— ela diz.
—Você está falando comigo — passo os dedos pela janela.
— Tem que ser cara a cara.
—Estou no hotel matriz, me encontra no bar— desligo o telefone.
Algo esta acontecendo, simples não preciso de muito pra ter certeza, Kim não viria aqui se não fosse algo importante sem duvidas Catarina deve ter falado algo pra ela ou se não elas devem ter brigado algo deve ter acontecido porque sem mais nem menos Kim não me ligaria no meio da noite, ela é o tipo de mulher que há essas horas preferiria estar transando com uma loira de peitos fartos, porque loiras? Sei lá sempre que penso em Kim acabo pensando em uma loira de peitos grandes e coxas torneadas, pronta para matar ela de prazer. Volto a minha linha de pensamento, algo deve ter acontecido no jantar, algo capaz de mexer com a Kim a ponto de ela refletir por uma hora pra depois vir aqui atrás de mim.
1. Catarina e Kim brigaram
2. Kim contou pra Catarina que é minha ex namorada
3. Não sei
Eu realmente não sei, mas espero que não seja algo tão ruim que eu não possa solucionar com um bom palavrão e uma boa corrida para os braços de Catarina. Catarina, eu não deixei de pensar nela a tarde toda, ela é um mistério para mim me causa tantos sentimentos controversos, me torno bipolar, tripolar às vezes por causa desses sentimentos em uma hora quero simplesmente deixá-la e seguir em frente, na outra estou louca pra sentir o corpo dela sobre o meu e no mesmo instante quero chorar por não ter ela nesse quarto. Nunca senti algo assim tão forte. Talvez eu não amasse Catarina antes ou talvez eu ainda não a ame, talvez eu nem saiba o que realmente o que é amor, não quero explicar, rotular ou dar nome e título para isso quero que não tenha tema, nem padrão, quero Catarina e fim, esse é o fim da história a desejo e quero ela aqui, hoje e amanhã e quando eu estiver ainda mais velha quero saber que ela estará do meu lado, vou fazer de tudo desde o possível ao impossível pra ela ficar e ela vai ficar porque sei que de algum modo ela me ama, a gente sente algo inexplicável uma pela outra, mas eu não quero criar ilusões na minha mente de que isso vai acontecer, sendo que ela diz que vai embora, senhor eu não consigo assimilar isso eu não quero entender. Só quero fazer de tudo para que ela fique mesmo que para isso eu pareça uma idiota uma trouxa, mas quem não é hoje em dia? Quem nunca sofreu por amor ou ágil insanamente, quem nunca escutou mais o coração do que a mente? Ando fazendo isso agindo com o coração e esquecendo tudo que grita na minha mente, todos os sinais de alerta estão sendo deixados de lado para seguir o que bate e dói que pede e implora por ela.
Coloco um jeans e uma blusa, espero o elevador as portas logo se abrem para que eu saia entro no bar do hotel e sento numa mesa em um canto, bato os dedos na mesa de madeira e espero por Kim, olho para os lados e o bar não esta muito cheio só alguns casais.
—Gostaria de uma bebida?— o garçom pergunta.
— Uma água — ele confirma com a cabeça e sai.
Estou ansiosa se eu beber algo alcoólico só vai ajudar a me fazer ficar ainda mais agitada e irritada.
O garçom me entrega um copo junto com a garrafinha de agua e abro enquanto ele sai vejo Kim na entrada do bar tentando me encontrar levanto o braço e ela vem em minha direção, me levanto e troco um abraço rápido com ela voltado a sentar.
— Quer água?— pergunto querendo mesmo que ela entre logo no assunto.
— Não, Nora. — ela me observa por alguns segundos enquanto eu tomo a água.
— O que você tem que falar que não pode ser por telefone? — a encaro vendo o garçom vir em nossa direção.
— Gostariam de alguma bebida?— ele pergunta olhando para Kim.
— Sim dois copos de whisky— ela sorri para o rapaz devolve um sorriso com uma piscada, não contenho o risos ele esta flertando com Kim? Ele sai e ela gira o dedo sobre a garrafa.
Não enrole Kim diga logo.
— Como foi o jantar?— começo sabendo que ficaríamos naquele silêncio por um bom tempo.
— Bom— ela diz olhando para trás para ver se o garçom já esta vindo.
Bom só isso? Cadê os detalhes?
O garçom aparece depois de alguns minutos de silêncio colocando os copos na nossa frente e colocando um guardanapo discretamente no lado do copo de Kim ele sai e ela desdobra o papel.
―Numero de telefone― ela força um sorriso.
―Isso acontece geralmente?― pergunto.
―Às vezes, homens não acham que uma mulher da minha idade gosta de mulheres.
―Nem eu desconfiaria se não te conhecesse, você e sempre muito discreta ate mesmo com as suas namoradas, não era assim na época da faculdade. ― sou sincera, me lembro do modo que ela pegava na minha bunda no meio de um corredor quando um cara me comia com os olhos.
Kim toma um gole e abaixa os olhos para os próprios dedos que se mexem de uma forma coordenada.
―Mudei bastante Nora.
Algo está muito errado, Kim esta muito estranha.
―O que você tem?―pergunto puxando o copo dela para o lado
―Nada― ela diz
―O que acontecer no jantar― ela passa a mão no cabelo e olho para mim.
— Ela foi embora— ela diz.
A palavra ecoa pela minha cabeça eu dou uma risada, como assim?
— Para de zoar Kim, diz logo como ela está? Você gostou dela? Ela é bonita né? —digo é quase consigo ver ela nesse bar com uma jaqueta de couro e uma blusa preta.
— Eu não a conheci ela foi embora ha dois dias.
Encaro Kim ela está brincando só pode.
— Vai Kim fala logo ela é a mulher mais linda que você já viu— consigo ver os olhos de Catarina a boca avermelhada a pele branca e lisa um convite a ser tocada.
— Eu estou falando sério― ela pega o copo― Nora ela foi embora.
Levanto-me e encaro Kim.
— Não brinque fale a verdade se não eu vou embora— digo seria quem sabe ela comece a contar a verdade.
Kim levanta e me abraça, sinto o meu corpo ficando mais tenso o meu coração acelera quando eu escuto a voz da Kim sussurrando em meu ouvido.
— Ela foi embora.
Tiro os braços de Kim de perto de mim e tudo passa pela minha cabeça como um vulto uma coisa rápida, os meus dedos batente na mesa o corpo cai, as pessoas olham para nós as lágrimas começam a escorrer, sinto o braço de Kim me segurando enquanto eu saio do bar e entro no elevador, aberto o botão do elevador logo as portas se abrem. Pego a chave e abro a porta, Kim acende a luz eu vou até a cama e me deito, as lágrimas correm de modo anormal.
Ela me deixou.
Assim sem mais nem menos, Kim tira os meus sapatos e sobe a coberta até os meus ombros.
— Fui até o jantar e me surpreendi por não ver ela, Kelly me explicou que a filha foi embora logo depois de passar uma noite fora de casa, ela disse que ligou para o pai dela, mas ele falou que ela voltaria só depois do casamento de Kelly e Bil, a irmã dela a Júlia a menina está super mal porque a irmã prometeu que não iria embora. ―ela dá uma pausa— Depois que o jantar acabou Bil me chamou para o escritório para conversar e me conto que Catarina foi falar com ele horas antes de ir embora, ela contou tudo para ele, tudo sobre vocês desde o dia em que vocês se conheceram eu falei para ele parar de falar porque eu já sabia então ele falou que ela mandou ele te entregar uma carta, ele tentou ligar para você varias vezes durante a semana, mas você não o atendeu, então eu disse pra ele me entregar à carta e eu vim te entregar.Vejo Kim tirar do bolso da jaqueta um papel ela me entrega e sai de perto se sentando no sofá onde eu e Catarina já fizemos amor. Abro a carta e vejo a letra de Catarina, as lágrimas descem ainda mais depressa quando começo a ler.

Nora esse não é o jeito mais elegante de se dizer Adeus, mas foi o jeito que encontrei para não trazer-me tanta dor. Nora eu adoraria entender o que sinto por você, mas acho que mesmo que eu pensasse muito não conseguiria entender, só sei que me causa aflição e dor, muita dor por sinal. Minha mãe sempre dizia que quando uma coisa começa a não te fazer bem é melhor desistir e mudar de caminho, de rumo, de estrada, eu nunca segui o que ela disse até descobrir que realmente ela estava certa, não adianta eu persistir em um erro, em algo que me trás dor.
Resolvi desistir, de muitas coisas e uma delas e em insistir em nós.
Isso não estava nos meus planos, eu panejei tudo cada detalhe eu ficaria na cidade ate o casamento de Kelly e Bil e depois iria embora, mas eu sei que de algum jeito você me convenceria de ficar por mais uma semana, um mês ou por anos, mas isso só me faria pior eu comecei a me viciar com a dor que você me causa e hoje eu resolvi mudar. Desta vez eu não vou voltar percebi que a mesma dor que você me causa muitas das vezes eu também causo em você, me perdoe por tudo ou pelos menos ache um jeito de me perdoar.
Em todas as possibilidades existentes em minha mente em te dizer um adeus o menos dolorosa possível foi essa.
Eu sou um pouco de você e um pouco de tudo que amo.
De Catarina Smith.

[...]

4 anos depois 18/05·.

Hoje é aniversario de Catarina 4 se passaram desde o dia em que ela partiu, sempre me lembro desse dia e acabo vindo para o meu escritório e lendo novamente toda a nossa historia, o livro que enfim acabei de escrever. Acabei saindo de Eugene para fugir das lembranças, mas já voltei uma vez para lá a visita depois de uma ligação de Nick onde ele disse que queria assinar a separação, pois ele se casaria novamente, fiquei muito feliz e alguns meses recebi a noticia de que ele agora é pai, fiquei muito feliz por ele. Nunca mais vi Catarina depois daquele dia no hotel Matriz, a procurei por toda parte nos meses que passei lá depois viajei para ir atrás do pai dela pra ver se encontraria, mas foi em vão, não a encontrei ate que desisti e tentei de um modo seguir a minha vida tentando me acostumar com a dor, algumas vezes me pego chorando ou triste, mas sempre tem alguém pra me animar, minha filha ela é o maior motivo da minha alegria, eu e Kim adotamos uma menininha há dois anos, ela é linda. Kim faz de tudo para me alegrar às vezes brigamos brigas sérias, mas nada que faça eu me arrepender de ter decidido morar com ela.
Geralmente ainda mais nesses dias ensolarados quando o sol está tão forte que me faz desejar a chuva eu me pego lendo a carta de Catarina, aquela parte onde ela escreve que ela é um pouco de mim e de tudo que ama, e chego à conclusão que também sou. Sou um pouco de tudo que amo, sou um pouco dela, um pouco da minha querida filha, de Kim e até um pouco do Nick, sou um pouco de você que está lendo e sou um pouco dessa louca insensatez chamada vida.
No fim somos um pouco de tudo que amos.

AGRADECIMENTOS

Obrigada Kim por iluminar todos os meus dias e me encher de alegria e obrigada por todos que leram. Espero que um dia Catarina se pegue lendo esse livro e saiba que foi dedicado a ela, cada parte, cada parágrafo, ponto e que ela saiba que jamais te esquecerei porque você faz parte de mim.