Esperança

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Não sei por quanto tempo fugimos, sinto as mãos de Josh em minha cintura, ele segura-se frouxamente. Eu vim guiando o cavalo já que ele não tinha condições. Estamos no meio de uma trilha na floresta, já era dia. Finalmente paramos, os cavalos já estavam exaustos. Desço devagar e depois viro-me para Josh, que tem a mesma expressão vazia desde que deixamos a pousada. Um calafrio percorre minha espinha conforme as imagens passam pela minha mente, cambaleio pra frente sentindo as pernas bambas e isso chama a atenção de Josh. Num movimento rápido ele pula do cavalo e me segura.

- O que houve? Está passando mal? – seu tom era de aflição.

- Eu estou bem... ta tudo bem. – acaricio seu rosto, olhando em seus olhos posso ver a dor, assim como acredito que ele esteja vendo a minha.

Volto-me para minha mãe e meu irmão, que está adormecido, pegando-o no colo e ajudando minha mãe a descer, percebendo seu corpo trêmulo. Abraço-lhe apertado, deixando que chore em meu ombro.

- Vai ficar tudo bem mamãe... – engulo meu choro e acaricio o cabelo de minha mãe.

Todos nos viramos para Helena e para o homem, sem saber o que fazer agora. Josh e seu pai estão do nosso lado, seguro na mão dele e a aperto, olhando em seus olhos. Ele acaricia meu rosto.

- Tudo bem pessoal, sei que não existem palavras para descrever o que está acontecendo... – ele faz uma pausa ao ouvir o soluço de minha mãe. Olho de esguelha para Josh, ele tem o olhar fixo no rapaz, com pesar. Ronald tem o olhar vazio, a dor estampada em seu rosto. – Mas precisamos seguir em frente. Precisamos recomeçar.

Pela primeira vez paro para prestar atenção na fisionomia do rapaz. Estatura mediana, cabelo preto, curto e liso, pele clara. Olho em seus olhos, ele tenta soar confiante. Ele tem o que nos falta no momento: esperança. Preciso fazer algo pelas pessoas que amo, dou um passo a frente, ficando ao lado do rapaz e viro-me para minha família.

- Ele tem razão. Vamos nos unir e nos reerguer, vamos vencer isso. – digo firme.

Todos olham para mim, posso ver uma centelha nos olhos de Josh, minha mãe já não chora mais, dando um suspiro ela concorda com a cabeça e Ronald finalmente foca o olhar em algo, que no caso sou eu. Atingi meu objetivo. Volto-me para o rapaz.

- Qual seu nome? Não tivemos a oportunidade para nos apresentar ainda.

- Felipe. Você é a Katy, correto?

- Isso. – aperto sua mão. – Muito obrigada. – viro-me para Helena. – Muito obrigada, de verdade. Se não fossem vocês...

- Nem precisa agradecer. – Felipe me diz de imediato, dando um sorriso mínimo.

Retribuo o sorriso. – Precisamos montar um acampamento agora, vamos andar mais um pouco.- todos concordam com a cabeça e seguem para pegar os cavalos. Vou para o lado de minha mãe, guiando o cavalo enquanto ela levava Harry nos braços. Percebo que ela ainda segura o choro.

- Vamos conseguir mãe, precisamos ter fé. – aperto sua mão.

Ela ergue seu olhar até o meu. – Vamos. – sua voz sai mais confiante.

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Chegamos a um bom ponto e paramos, amarrando os cavalos em árvores próximas. Noto a pistola de Helena e lembro que não possuo nenhuma arma, suspirando. Vou até Felipe, que termina de amarrar um dos cavalos. Ele olha em meu rosto.

- Aconteceu alguma coisa? – seu tom de voz era de preocupação.

- Não... mas temos um pequeno problema. – olho para meu grupo. – Nenhum de nós sabe atirar e sequer temos qualquer tipo de armas...

Antes que Felipe diga alguma coisa escutamos um barulho um pouco familiar vindo detrás de uma árvore a nossa direita, um grunhido gutural. O som se aproxima e eu me viro para trás, no momento exato em que o doente aparece, avançando lentamente com os braços esticados. Seus olhos perdidos, sem vida, a pele começando a apodrecer. Sua boca mexia-se sem parar, mordendo. Um grito com meu nome me desperta, me libertando do choque, mas antes que eu possa correr o doente agarra meus braços. Minha mãe grita desesperada, posso distinguir a voz de Josh também. Então Felipe corre e crava sua faca na têmpora do doente, que cai, seus braços arrastam nos meus. Olhos para os lados, atônita, a ânsia de vomito subindo por minha garganta.

- Katy, ta tudo bem. – olho para Felipe, que tem as mãos em meus ombros.

- Obrigada. – consigo dizer baixo.

- Não precisa agradecer.

Minha mãe abraça-me apertado, eu retribuo, abraçando também meu irmão que acabara acordando. Depois foi a vez de abraçar Josh, se pai também me deu um breve abraço.

- Precisamos de armas e vocês precisam aprender a atirar para sobreviver. – Helena nos observa. – Por enquanto só poderão ficar com facas, depois conseguiremos as armas de fogo. Aqui, peguem. – ela estende duas facas, já em suas bainhas, e Felipe estende mais uma. Aproximo-me pegando uma e guardo-a, Ronald pega a segunda e Josh a terceira.

- Certo, Emily andará no meio já que não ficou com nenhuma arma. – Helena diz e minha mãe concorda com a cabeça. Depois Helena se abaixa para o doente e vasculha em seus bolsos, dando um breve sorriso. Ela levanta e mostra duas balas em sua mão direita. – Já é alguma coisa. – depois olha para Josh. – Você sabe atirar?

- Não, mas meu pai sabe. - ele aponta para Ronald, que concorda com um aceno de cabeça.

- Certo, pode ser o primeiro a treinar. Temos uma certa quantidade de balas restantes ainda. Vem aqui, pode mirar naquela árvore ali. – ela aponta uma árvore mais distante e oferece a pistola para Josh, que vai ate ela. – Primeiro você destrava e o resto creio que saiba. – ele pega a arma de sua mão, mirando em seu alvo. Ele puxa o gatilho, acertando.

- Isso! – comemora e nós sorrimos.

- Katy, tente também. – Felipe me oferece sua pistola, me guiando para o outro lado.

Aceito, pegando a pistola e destravando-a. Felipe afasta-se bastante, rindo, fazendo-me revirar os olhos e sorrir também. Respiro fundo e miro na árvore, tentando me concentrar. Puxo o gatilho, acertando de raspão.

- Olha, quase ninguém acerta de primeira. – Felipe tenta me encorajar com um sorriso.

- Vamos tentar achar algo para comer então. – Helena acena para Josh e Ronald.

- Certo, logo estaremos de volta. – Ronald despede-se de minha mãe e acena para mim.

Josh vem até mim, beijando meus lábios. – Volto logo. Grite se precisar de ajuda. – então eles somem por entre as árvores.

Preparo-me para tentar novamente, concentrando-me mais dessa vez. Finalmente acerto.

- To pegando o jeito. – sorrio.

Então Harry grita. Imediatamente viro-me para trás procurando por ele. Meu irmãozinho está caído no chão e um doente está a centímetros dele, agarrando sua perna esquerda. O mundo parece girar por uns segundos, minhas mãos tremem. Sinto o medo devastar minha mente, o desespero impedindo-me de raciocinar.

- ATIRE! – a voz de Felipe era urgente, ele corre em minha direção.

Aperto a arma em minhas mãos e miro, tremendo. Os gritos de minha mãe e o choro de meu irmão ecoam, fazendo-me finalmente raciocinar. O doente chega mais perto de Harry, que berra. Percebo Josh e Ronald correndo, seguidos de perto por Helena, eles não chegariam a tempo.

- MEU FILHO! – minha mãe corre para ele, o horror e mais puro desespero claros em sua voz.

Miro no doente e puxo o gatilho.

The EndOnde histórias criam vida. Descubra agora