A tal da Infância

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   Jhon não possuía muita sorte na sua vida, fora assim desde o princípio.

   Ele gostava de brincar fora de casa, pois dentro dela não costumava ser muito agradável. O pai era alcoólatra, a mãe era esforçada em casa no que podia, tentanto manter-lhes vivos, a irmã e ele, pois não se importava muito com o pai, apenas estava com ele por que ele era necessário para mantê-los. Certamente não era fácil ter de manter aquilo, aguentando apanhar e servir á aquele bêbado nojento, por isso Jhon admirava muito a mãe, até gostaria de ajudá-la. E foi com isso em mente que após a escola ele começou a procurar lugares que pudessem aceita-lo pra tentar ajudar em casa, mas com apenas 10 anos era difícil encontrar qualquer que fosse, e com isso, ele fora se desesperando, indo ficar por cada vez mais tempo na rua e frequentando locais cada vez mais suspeitos até certo dia que a desconfiança da mãe fora ficando incontrolável, e após buscar a irmã dele na aula, fora procurar por ele junto dela, porém, quando o encontrara de fato, ele estava sendo jogado pra fora de uma loja em uma avenida comercial, não muito frequentada pelos seus boatos do lugar ser perigoso. A loja tinha uma fachada não muito elegante, parecendo aos pedaços em alguns pontos, e indicando itens usados a venda por um preço razoável.

   -Saia daqui moleque, não tenho trabalho pra pivetes como você - Disse um homem que aparentava ser o dono do lugar, com poucos cabelos brancos, barba por fazer, olhos cansados, vestindo um avental branco que não caia bem na sua barriga farta.

   O garoto não tardou a lhe responder.

   -Quem está chamando de pivete? Seu velho mesquinho!
   -Nunca mais apareça por aqui pivete ou não posso garantir sua segurança da próxima.

   Ele parecia cansado ao falar, mas dava pra ver que aquilo não era só um aviso qualquer.

   Fora quando a mãe interveio.

   -Sinto muito pelo comportamento do meu filho, não irá acontecer novamente.- Disse ela com a cabeça abaixada para o homem.

   E fora logo se retirando, arrastando o filho.

   Quando chegaram em casa, fez questão de ver se o pai não estava em casa, e logo tratou de lhe dar uma bronca. "No que estava pensando Jhonan? Indo á aquele tipo de lugar? Queria me fazer perder você? Você tem ideia de como fiquei preocupada?" E fora assim até pouco tempo antes do pai chegar, levou um bom tempo até ela se acalmar um pouco e o liberar, mas quando o fez, o menino fora depressa se lavar e se deitar, nem comendo aquela noite.

   No dia seguinte ao ocorrido, o garoto se mantinha teimoso e mais uma vez fora para aqueles lugares suspeitos ao sair da escola, achava que se pedisse direito certamente conseguiria algo. Porém, indo lá, logo sua mãe desconfiara novamente e fora atrás dele, quando o encontrou dessa vez, um homem de mais idade que ela, mas não chegava a passar dos 30 e poucos, estava a agarrar seu filho pelo colarinho da camisa, uma das poucas boas que o jovem possuía, percebe a mãe, e ela corre atravessando a rua chamando a atenção do homem. Quando o garoto vê isso, ele se esforça pra se soltar das mãos do homem de cara carrancuda para tentar chegar a mãe, mas o homem o segura novamente, instantes antes de um caminhão de carga passar rapidamente, levando as sua mãe e irmã consigo, sem qualquer piedade ou aviso prévio, quase o levando também.

   Quando a ambulância chegou o estado delas já era precário, a mãe tentara proteger a filha, mas não tinha tido muito sucesso pois ambas estavam em estado grave.

   O garoto não pôde acompanha-las e teve de ir para casa esperar. Ele estava sozinho, seu pai ainda estava trabalhando á essa hora, era quase hora de sua mãe começar a cozinhar, ele não fazia ideia de como a mãe fazia o que fazia na cozinha que sempre dava um jeito de ficar bom, mas ele se esforçou da sua maneira para tentar fazer algo bom para quando elas voltassem. Não ousou mexer no fogão, depois de desobedecer tanto a mãe, dera no que dera e por isso, ele pegou creme de amendoim barato e geléia que pôde encontrar na geladeira e juntou dos pães que restaram sem estarem estragados.

   Enquanto fazia isso, recebeu um telefonema em casa, não sabia se devia atender, nunca havia feito isso antes, mas algo o disse que precisava atender nessa vez e foi que ele pegou o telefone em mãos.

   -Alô?
   -Olá, é da residência dos Coster?
   -Isso mesmo. Quem é?
   -Aqui é do hospital geral, viemos por meio deste telefonema informar que infelizmente a senhora Renata e a filha Juliana, que a acompanhava, não resistiram aos ferimentos do acidente e faleceram.

   Quando ouviu isso o garoto entrou em choque. Simples assim, não falou mais nada, mesmo quando o telefone gritava pedindo uma resposta, ele apenas desligou e se recostou na parede mais próxima. Fora perdendo as forças nas pernas e logo estava sentado no chão, abraçando as próprias pernas sem fazer qualquer outro movimento. Até seu pai chegar em casa. Quando ele ouviu isso, ele não soube como reagir direito e foi se esconder no quarto, quando olhou para o relógio de mesa, viu que era muito tarde, bem mais tarde do que o pai costumava chegar até mesmo em dia de bebedeira com os colegas de trabalho.

   Imediatamente quando abriu a porta de casa com dificuldades o pai bêbado gritou pelo nome do filho.

   -Jhonan, vem aqui agora!- Gritava enquanto batia o pé já em busca do garoto.

   O garoto não sabia o que fazer, e por isso fez a única coisa que pode pensar para um garoto de 10 anos. Ele saiu do seu quarto e foi de encontro à seu pai.

   -Seu moleque descarado imundo de uma figa! - Falava em tom absurdo o pai enquanto ia direto ao filho - É SUA culpa que sua mãe morreu e você ainda tem coragem de mostrar a cara aqui.

   Ele fedia a álcool tão forte, de forma que acontecera poucas até então, e parecia em fúria como ele nunca tinha visto. Ele tirou uma pequena coragem bem do fundo e começou a falar.

   -Não! Não era essa minha inten- O pai o interompera o puxando pelo colarinho da blusa e lhe dando um murro na cara. Fora inesperado, ele nunca imaginava que o pai faria isso tão fácilmente e que seria tão forte. Jhon viu estrelas imediatamente, mas não chegou a desmaiar.

   Mas logo em seguida veio mais um soco, em seguida de outro e mais outro. O garoto já estava sentindo a boca arder de sangue quente que escorria. Não bastando isso, logo seu pai lhe dera uma joelhada na barriga, mal teve tempo para descansar. Ficou sem ar na mesma hora e vômitou. Tudo em cima daquele que lhe agredia, mas que não parou nem por isso, o deixou cair no chão enquanto vomitava, e o chutou no rosto que teve a ação imediata de cair no chão e colocar a mão na cara já maltratada e começou a gritar de dor, mas o pai não ligou e lhe deu mais dois chutes no estômago. E foi então que ele pareceu se acalmar um pouco, mas começou a falar com raiva:

   -Você vai fazer tudo o que sua mãe fazia, e vai fazer muito bem, se não vai acontecer isso de novo e será ainda pior.

   O garoto entendeu o recado, apesar de estar meio prejudicado sua compreensão depois de tantos acertos no rosto e na cabeça.

   Ele simplesmente cuspiu sangue algumas vezes e ficou ali no chão, enquanto o pai fora tomar banho e saiu para beber de novo.

   O garoto não se moveu, apenas ficou alí no chão com dor, sem forças para se levantar, e dormiu quando as feridas lhe permitiam.

   No dia seguinte, não foi a aula.

A Famosa Vida E Seus CaprichosOnde histórias criam vida. Descubra agora