Whataya want from me

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Conheci Sherlock Holmes na escola.

Eu ainda estava no terceiro ano e ele já cursava o segundo período da faculdade. Não sei exatamente o que ele estava fazendo lá, mas quase todos os dias ele e eu nos esbarrávamos pelos corredores. Seu olhar era frio e ele tinha expressões duras demais.

Me dava um calafrio sempre que ele me olhava com os olhos intensos e esverdeados, como se fossem capazes de me devorar a qualquer momento.

Ele era sério na maior parte do tempo; acho que poderia até mesmo contar nos dedos quantas vezes eu o peguei sorrindo. E nem era assim um sorriso, se tratava apenas de um repuxar de lábios que nem ao menos durava mais que dois segundos. Parecia tão vazio e perdido que eu me pegava querendo saber tudo sobre ele, e ao mesmo tempo, queria me manter o mais longe possível.

Mas aquele cara me causava tantas coisas estranhas que eu nem sequer sabia mais se seria possível não pensar em seus olhos opacos um minuto sequer. Não sabia exatamente o que eu queria, no começo parecia curiosidade, nada mais, porém, com o passar dos dias eu me vi pensando nele a todo instante.

Pensava em suas expressões quase automáticas e em seus olhos sem brilho.

Não era como se eu fosse assim tão diferente dele, e acho que esse foi exatamente um dos causadores de toda minha curiosidade sobre Holmes. Queria saber se ele era daquela forma desde sempre ou se algo o levou a se tornar o que era hoje.

Nós éramos parecidos em certos pontos e aquilo fazia com que eu me visse estranhamente ligado a ele. O que nos diferenciava e dividia era apenas uma linha tênue demais.

Se eu tivesse que defini-lo, eu certamente o definiria como o mar.

Não o mar calmo e sereno, aquele que reflete os raios alaranjados do sol no fim da tarde; de águas mornas e que te convidam pra um mergulho. Mas um mar escuro e revolto, onde quase sempre acontecem tempestades turbulentas e avassaladoras.

Um mar frio e repleto de ondas que te leva pra longe da praia, fazendo com que você se perca em meio à suas águas geladas.

Então essas águas te engolem, você não sente mais o chão sob seus pés... E você perde todo seu ar.

Foi exatamente nesse mar que eu me perdi.

E nunca mais me encontrei.

(...)

Nós tínhamos amigos em comum, e foram eles que acabaram nos apresentando um dia. Mas eu e ele nunca nos tornamos amigos de fato, acho que o termo conhecidos poderia mais ou menos definir o que nós acabamos nos tornando. Saímos algumas vezes, sempre eram Greg e Mycroft que nos faziam segui-los naquilo que Sherlock fazia questão de denominar como encontros idiotas. Nós mal trocávamos palavras; olhares então, a maioria das vezes eram por minha conta. Eu sempre me perguntava se algum dia seríamos capazes de manter uma conversa que durasse mais que dez segundos, e pra ser sincero, eu tinha sim esperanças nisso. Muita.

Sherlock poderia ser frio como uma noite de inverno, mas eu era completamente o contrário... E estava disposto a mudar aquilo.

Um tempo depois, quando eu e Mycroft terminamos o ensino médio, fomos a uma festa na casa de Lestrade, e diferente do que eu pensei, não estávamos apenas nós quatro. A casa estava cheia de gente desconhecida, o que me assustou um pouco. Mas parando pra pensar, conhecendo Greg como eu conhecia, estranho seria se ele não tivesse convidado tanta gente.

Nas duas primeiras horas eu me senti completamente deslocado; fiquei sentado num canto, bebendo algumas cervejas enquanto olhava as pessoas se divertirem. Tentava ser educado quando recusava um convite pra dançar ou fazer seja lá o quê, e até sorria de canto quando via Mycroft dando seus shows, fazendo Lestrade brigar com ele.

Enough | {Johnlock}Onde histórias criam vida. Descubra agora