Eu ainda estava de queixo caído, quando a chuva novamente engrossou do lado de fora.
O barulho das gotas batendo no telhado ecoava pelo poço, chegando até o estúdio apenas como um leve sussurro. Continuei encarando Ônix, enquanto seus olhos escuros transmitiam seriedade absoluta.
Apesar de estarmos calados, os gestos e olhares transmitiam tudo: o que ele havia acabado de gritar, sem nem mesmo entender o que estava fazendo, era a mais completa verdade. E, de repente, as emoções conturbadas, coração acelerado e palmas suadas, passaram a fazer sentido: sem perceber, eu também estava gostando daquele garoto, um pouco mais a cada dia. Ousava dizer até que... estava me apaixonando por ele.
Quase engasguei. Nunca algo parecido havia acontecido comigo, e eu não sabia como lidar. Era o pior local, o pior momento e a pior maneira da minha vida... mas meu coração ignorava cada fato. Eu só queria... ver aquele artista cada vez mais próximo de mim.
- Ônix... - sussurrei, completamente confusa - eu... eles... vão nos matar.
Os olhos do garoto à minha frente, tão lindos e brilhantes, cerraram-se levemente.
- Eles jamais nos deixaram viver, para conseguirem nos matar. - respondeu, a voz firme.
Sua reação, a princípio, também havia sido confusão. Porém, poucos segundos depois, a expressão de Ônix se tornara decidida e imutável, como se não fosse abrir mão dos sentimentos por nada. Eu só não sabia o que ele havia decidido, até ali.
- Eu, particularmente, prefiro morrer tentando, do que viver morrendo. - prosseguiu, se aproximando levemente. Ele acariciou minha bochecha com as costas da mão, fazendo-me arrepiar por completo - mas... de todo jeito... - suspirou, recuando - não vou fazer nada que você não queira, musa. Não vou obrigá-la a corresponder essa declaração estúpida.
Seu rosto se fechou, como no dia em que o conheci: arrogante, carrancudo e protegido de emoções.
Tentei falar alguma coisa, mas palavras coerentes não se formaram em minha cabeça.
- Por favor, musa, suba. Não quero que fique doente. - comentou, mudando de assunto.
Lentamente, assenti, descendo da mesa. Minhas pernas bambas, no início, não quiseram me suportar, mas consegui manter-me de pé com ajuda. Ajuda vinda de certas mãos macias, sempre preparadas para me segurar.
- Venha. Eu te levo.
Ônix passou meu braço por seu pescoço, fazendo-me ter que ficar na ponta dos pés. Eu nunca fora baixa, mas perto dele, que era tão alto e magro (embora forte também), parecia pequena.
Seu braço enlaçou minha cintura, e começamos a andar. Fiquei pensando tanto, e tão profundamente, que nem reparei quando chegamos na frente do corredor de quartos.
Me soltei de Ônix e agarrei a parede.
- Obrigada. - murmurei, olhando para o chão.
- De nada. - respondeu. Então, tocou meu braço de leve, fazendo-me encará-lo - Sappiate che testardo non mollare. Mi spiace dirlo, ma io sono uno di loro.
Franzi as sobrancelhas, sem entender muito do que havia dito. Meus conhecimentos da língua eram limitados, e frases longas eram difíceis de compreender.
- Eu não entendi o que você disse. - murmurei, atrapalhada.
- Tudo bem. Logo, logo, você irá entender. - respondeu, distanciando-se e partindo.
Tudo o que me restou foi encará-lo, até que sumisse dentro das sombras. A tremedeira, estranhamente, piorara, mas não era de frio. Era de medo mesmo.
Medo de sentir as mesmas coisas que ele.
×××
Assim que entrei em meu quarto, dei de cara com Bianca. Ela estava pensativa, e quase gritou quando abri a porta subitamente.
- Alessa! Onde você estava?! - perguntou, preocupada. Andou em minha direção e fechou a porta, ajudando-me a entrar - meu Deus! Você está congelando!
Bianca me pôs sentada na penteadeira para, logo em seguida, correr até o banheiro e preparar um banho quente.
Porém, antes disso, não pude deixar de notar a estranheza em sua expressão. Ela parecia... leve.
Desconfiada, tirei minha roupa molhada, enrolando-me no roupão que estava em cima da cama. Bia voltou, encarou a toalha de Ônix, que estava em cima do vestido que tirara, e franziu as sobrancelhas. Ergueu o pano, mostrando-me com ar inquisidor.
- O que é isto? Está manchado de... tinta?
Corei, puxando o tecido para mim.
- Não é nada. Eu só usei para me secar, até chegar aqui. - menti.
Ela não pareceu acreditar, mas mudou de assunto, respeitando meu segredo. Apontou para o banheiro, ordenando que fosse logo.
Com dificuldade, caminhei até ali, arrepiando-me ao tocar os azulejos frios com os pés descalços. Apesar de estar totalmente dolorida, o choque térmico com a água morna da banheira foi bem vindo.
Suspirei, sozinha no cômodo repleto de vapor, e percebi o quão frágil estava. Fragilidade era uma das coisas que mais odiava, pois demonstrava que eu estava me deixando levar pela crueldade da Sociedade.
A confusão em minha cabeça, que explodia entre tristeza e algo indefinível, era o que causava a queda de minhas muralhas internas.
Porém, as vezes, a confusão se mostrava boa. Porque não me deixava pensar o tempo todo, que o sentimento indefinível dentro de mim, poderia ser... amor.
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☆Sappiate che testardo non mollare. Mi spiace dirlo, ma io sono uno di loro. = Saiba que teimosos não desistem. Lamento dizer, mas sou um deles.
Oi gente!!!
Desculpem pelo atraso, mas acho que de tanto falar sobre a doença da Alessa, eu peguei uma gripe, kkkk.
Sei que este capítulo saiu menor do que a maioria, mas era apenas um complemento do anterior. Espero que estejam gostando. ;)
Dedico este Cap, que pode ter revelado muito ou pouco sobre o que há entre Ônix e Alessa (dependendo do seu ponto de vista :D), à duas leitoras especiais, que me ajudaram a encontrar o resto das imagens na multimídia dos capítulos:
- Obrigada, laris_H. As imagens que me mandou são simplesmente divinas!!!
- Obrigada, @IngridArauj00. Seu trabalho com capas é incrível!!!
E obrigada à vocês, meus leitores queridos, que me inspiram a continuar. Porcelana chegou a 15k!!!! Aaahhh!!!!
Nem consigo acreditar, kkkk. Espero que estejam gostando. Lenix está começando!!!
Bjsss!!!!
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Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)
Fantasy☆Sociedade Porcelana - Livro 1☆ "Pareciam bonecos em uma estante. Seus rostos, tão lindos, não tinham emoção alguma. Suas peles, tão brancas e sem marcas, pareciam porcelana. Seus olhos, tão multicoloridos, pareciam pingos de cor em uma tela vazia...