Normalmente meus primeiros dias de aula tinha um cheiro; ovo com bacon e suco de laranja. Mas não tinha esse cheiro quando acordei assustada naquela manhã.
Scott não estava do meu lado, menos mal, mas estava em pé com uma pasta debaixo do braço, ele ia dar o fora daquele lugar.— O chaveiro já veio? Meu Deus — olhei para cama, depois para ele — porque não me avisou? Quer dizer... Eu preciso ir para escola, e você vai me levar!
Scott não pensou duas vezes em sair calmo pela porta, quase podia ouvir o sorriso dele, se é que isso é mesmo possível.
Pulei da cama e corri até o banheiro. Metade do meu cabelo estava horroroso e a outra metade continuava intacta, meus cabelos cacheados acabaram ficando em um coque. Passei a mão pela blusa de Scott e peguei um tênis all-star de alguma vadia de bom gosto dentro do armário e corri em meio aos milhares de copos na sala até encontrar Scott, encostado no carro, sorrindo.— Achei que já tinha ido — rosnei.
— E perder a oportunidade de te ver um caco? Não, não faz meu estilo — o sorriso dele se abriu mais ainda, segurei para não gritar e acordar a outra metade dá vizinhança. Scott era minha última chance, odiava admitir isso.
Entramos no Opala preto e fomos em direção ao Campus, que era só trinta minutos de onde ele morava, mas que me pareceu horas.
— Me deixa adivinhar... — Os olhos dele encontraram os meus — primeiro dia de orientação?
Balancei a cabeça, afirmando.
***
Não encontrei Aika quando desci do carro, muito menos alguém que o rosto me parece- se familiar. Sabia que meus pais estariam loucos em casa e meu celular continuava descarregado. Pedir a Scott mais um favor seria igual pedir a morte, e pelo contrário do que parecia estava viva, vivinha da silva.
Todos os novatos foram encaminhados por uma mulher, cuja altura não era nem metade dá arrogância. Não escutei o nome dela porque estava distraída demais procurando Aika, e parecia que as coisas só estavam piorando.
— Ei — gritou ela, uma dúzia de olhares entediados focou em mim — Você ouviu o que eu disse? — seu desânimo impregnou em cada palavra.
Uma vozinha fina surgiu atrás de mim.
— Diga que sim, diga que estava falando sobre as vestimentas — uma garota sussurrou atrás de mim. Fiquei parada. Paralisada quando ela se aproximou de mim, abrindo espaço entre o pequeno aglomerado...
A garota atrás de mim bufou, decepcionada e eu senti meu coração pulsar devagar, quase parando.
— Senhorita Carmen — Um homem surgiu atrás dela, da senhora que me fitava. Ele era alto e tinha um olhar mais caloroso, com acenos breves para os demais desfez o círculo e a senhora limpou a garganta e continuou o tuor com os novatos.
— sim, sou eu — meu tom soou apavorado, e eu realmente estava. Depois do que pareceram ser meia hora de apresentação formal descobri que aquele homem calvo e de um bom humor era o diretor. Ele disse que meus pais estavam na sala de orientação, e que minhas bagagens estavam me esperando no quarto, e que qualquer coisa que eu precisa-se podia falar com ele.
— você espera aqui, eles te chamam. Não precisa ficar nervosa. OK? — confirmei. O diretor sumiu e o corredor cinza estava vazio novamente.
Antes de qualquer coisa pensei na possibilidade de ter que sair do Campus. Papai nunca deixaria mamãe fazer isso, mas se por ventura eles descobrissem sobre a festa... Eu estaria perdida. Pus a mão sobre o rosto e comecei a chorar, não só porque estava encrencada, mas pela vergonha de estar assim no primeiro dia de aula. O que eles iriam pensar de mim? Eu ia ter que tentar bolsa em uma faculdade qualquer, mamãe não ia pagar outra faculdade e meu sonho iria por agua abaixo, junto com meu futuro.
— Você por aqui, o destino só pode estar de brincadeira — olhei para cima, do outro lado.
Scott estava segurando o que devia ser um copo descartável que parecia pequeno demais em suas mãos enormes, estava com o mesmo ar indiferente do dia anterior.
— Você não cansa disso não? Você não está vendo que eu estou encrencada, por sua causa? — na verdade era por minha culpa, mas ele estava me irritando e se não fosse por ele nada disso teria acontecido. Eu seria só uma bêbada, que com certeza ia chegar a minha casa, ia tomar um café descente e arrumar o cabelo de forma impecável. Se não fosse pela maldita porta eu estaria conhecendo a minha colega de quarto nesse exato momento, talvez pudéssemos ter aulas juntas. Se não fosse por ele não estaria de cabeça quente, pra variar.
— Minha culpa? Quem invadiu meu quarto e trancou a porta não fui eu — o copo virou uma bolinha em suas mãos. Era incrível como ele parecia inocente.
A porta ao lado de Scott abriu em um ranger, olhei para a pequena mulher e dali mesmo podia ver minha mãe. Ela estava parada, próximo á cadeira.
— Boa sorte — ele sorriu. Sínico.
— senhorita Carmen? Entre por favor.
A mulher deixou que eu entrasse, ela e mamãe usavam o mesmo tom neutro de blusa. A mulher aparentava cerca de trinta anos, tinha o cabelo bem pintado e unhas admiráveis.
Meus pais já tinham se assentado, por azar ia ficar no meio. A única pessoa que podia me proteger tinha um ar de desgosto. Mamãe estava segurando o que parecia ser um contrato e a mulher a nossa frente tinha um ar de leveza invejável.
— Então, vocês tem certeza disso? Sua filha parece ser bem inteligente pelas notas das escolas anteriores e acho que essa escola ia aprimorar a capacidade dela, vocês tem certeza? — a mulher parecia ter feito o mesmo discurso mil vezes, a mil pais diferentes, mas continuava prestando atenção.
Mamãe confirmou e papai apenas pegou mais um gole de café.
— Eu acho que posso me explicar — disse nervosa
— você não pode se explicar, de quem são essas roupas? Aliás, esse era seu primeiro dia e você já faz isso? Não acho seguro deixar você sozinha, na próxima vez volta grávida e viciada nessas porcarias?! — mamãe olhava para a orientadora, que parecia apreensiva.
— não seja tão rude com ela, amor.
A única coisa que me fez voltar a respirar foi Scott. Quando a porta se abriu em um ranger ensurdecedor esperei ver o terno azul-marinho estilo anos 70 do diretor, mas a única coisa que vi foi um conjunto de roupas pretas e meia dúzia de tatuagens. Os olhos claros dele encontraram com a orientadora que não parecia saber como lidar com a situação.
— Pois não?
— Eu acho que eu devia participar dessa conversa, se não é incomodo — Scott entrou e puxou uma cadeira próximo a minha mãe, que evitou manter contato. Dava pra sentir o ar cada vez mais pesado, mamãe já odiava Scott tanto quanto eu.
— Porque acha isso... Senhor...
— Scott Brian, me chame de Scott, por favor.
— prossiga...
— Espera aí — mamãe levantou, pelo olhar que ela lançou a mim as coisas iam ficar feias — o que esse pentelho pode ajudar? Eu quero conversar com minha filha e as coisas que ela anda fazendo de errado. Eu não me lembro desse garoto ser meu filho – papai levantou, tentado acalmar mamãe, que fez um sinal breve para que ele afasta-se – minha filha chama Miranda Carmen, não Scott...
— Engraçado– Scott gargalhou, chamando a atenção de todos na sala – é o mesmo nome da minha namorada.
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O segredo da borboleta quase azul
Teen FictionMiranda Carmen tinha tudo para ter uma boa reputação, ela nunca tinha ido em festas ( pelo menos não até aquela noite), nunca tinha bebido, nunca tinha feito nada de "errado"até conhecer o garoto que mudou sua vida. "A garota dos livros e o cara das...