Capítulo 2
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Áustria, 1860. Cem anos depois.
Eugen, um homem com aparência jovem, alto, magro, de cabelos loiros e curtos, viajava arrastando consigo a mulher, Oksana, e a filha pequena. Eles cavalgavam por uma estrada que levava a uma pequena cidade situada no caminho entre Viena e as cidades de Buda e Peste; cidades às margens do Rio Danúbio. Haviam viajado o dia todo, estavam exaustos e necessitavam de descanso.
Eugen estava convencido de que não havia mais perigo para eles, que haviam realmente escapado de seus perseguidores. Apesar da jovem aparência, esse Guerreiro Selvagem possuía experiência suficiente para não cometer erros estúpidos, como ser seguido. Não ousava fazer o percurso de retorno direto para sua casa, não pelo caminho que seria habitual: seria perigoso. Ele buscaria rotas alternativas, pois receava que, se voltassem pelas rotas tradicionais, poderiam ser encontrados e seguidos novamente, revelando, assim, a localização do resto de sua família.
Em um primeiro momento, escolheu fugir para Viena, depois, reconsiderou e avaliou que seria melhor retornar seguindo a direção de Buda, aguardar lá até o fim do inverno e, só então, retornar para suas terras, mesmo sob os protestos de Oksana. Ele imaginava que as cidades de Buda e Peste estavam mais próximas, mais no meio do caminho para suas terras, e havia, também, um antigo boato de que Reinis, primo de Indrek Zigajevs, esteve escondido na região entre aquelas cidades e Viena. Eugen poderia procurar por eles, era uma família Nemtsi confiável que os acolheria: Reinis era correto, estariam seguros com ele. Eugen só não tinha certeza se seria capaz de localizá-los, não tinha ideia de como iria encontrá-los. Sabia que Indrek, amigo seu e de seu pai, procurou pela família por bastante tempo, sem sucesso. Não havia garantias, mas desesperado como estava para abrigar a esposa e a filha, buscaria as possibilidades mais improváveis.
- Foi uma péssima ideia trazer você e Slauka comigo! - lamentava Eugen.
- Eu não suportava mais ficar naquela casa. E agora não adianta mais reclamar. Você não tinha como saber. Isso nunca havia ocorrido, nunca tínhamos sido descobertos. Vamos tomar cuidado, sim? - Oksana arrumou, sobre o cavalo, a pequena Slauka de dois anos e meio, que carregava com ela, enquanto puxava as rédeas do animal. - Eu queria estar em casa para o Natal, com meus pais, não aqui, no meio do nada, longe de tudo.
- Você não devia ter vindo. E ainda trouxe Slauka. Olhe aonde viemos parar! Depois de tantos dias. - Eugen lamentava-se por ter permitido que a esposa e a filha o acompanhassem nessa viagem. Divagava em pensamentos, enquanto entrava na pequena cidade e se dirigia a uma estalagem.
Acomodaram-se e passaram a noite lá. Eugen queria descansar e recuperar as forças para refazer a viagem de volta. Ele era o mais velho dos irmãos, normalmente, era ele quem seu pai mandava em viagens, quando necessário. Essa era curta, ele tinha apenas que ir até a cidade que ficava nas proximidades de suas terras para tratar de negócios de sua família e das famílias que compunham o povoado que fundaram. Essas famílias Selvagens precisavam manter-se sempre unidas e discretas, formaram uma aldeia quase autossuficiente, bastante isolada, que vivia pacificamente, sem chamar a atenção dos humanos, que viviam nos arredores. Essa harmonia entre eles já durava muitas décadas e ninguém de fora havia percebido o que eles eram.
Quando Eugen se preparou para viajar, Oksana insistiu em ir com ele. Ela não estava acostumada à vida de mãe e esposa obediente. Ela queria acompanhá-lo, queria fazer parte de algo diferente, não aceitava cuidar de crianças, ouvindo conselhos das mulheres da família do marido. O pai de Oksana a ensinou a manejar uma espada e a lutar desde criança, e ela se acostumou a uma vida mais ativa indo caçar com os irmãos e acompanhando-os nos negócios da família. Oksana conheceu Eugen quando ainda era uma criança. Eugen era jovem e bonito, falava várias línguas, era muito inteligente e havia estudado em Viena. Oksana dizia a todos que quando crescesse se casaria com ele. Foi o que fez. Quando se tornou adulta ficou tão bonita, tão determinada em tudo o que fazia que chamou a atenção dele. Estava certa em seu profético casamento, Eugen não teve dúvidas e casou-se com ela.
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Nemtsi e Selvagens - As almas cativas
FantasíaQuem se prenderia a uma promessa que não pode ser quebrada nem com a morte? Nemtsi e Selvagens - As almas cativas é uma ficção fantasia-épica de aventura, suspense, mistério e ação. Traz à tona a arbitrariedade da razão humana em uma sucessão de aco...