Capítulo 35

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x Sofia x

Eu tenho um pai.

Ele parece ser uma boa pessoa.

Ele não sabia que eu estava viva.

Ele nunca me abandonou.

Eu tenho uma mãe.

Ela esteve durante anos ao meu lado.

Ela não é uma boa pessoa.

Sou indiretamente culpada por sua crueldade.

Me perder foi o que a transformou no que é hoje.

Eu fui tirada deles.

Eles me amavam.

Eles me amam.

Parece bom demais para acreditar.

Parece cruel demais para acreditar.

Não consigo respirar.

Por quê? Por quê? Por quê?

Eu nunca quis nada além de pertencer a algum lugar. Ser abraçada e sentir a paz e a segurança que só corações conhecidos proporcionam. Eu sonhei com história sobre amor incondicional que ultrapassa limitações e defeitos.

Eu sonhei.

Mas, Laura é minha mãe. Ela sofreu por mim e me fez sofrer. Ela me enviou para matar crianças. Eu não queria chorar por isso, mas não consigo evitar. O universo parece ter um senso de humor bizarro quando se trata da minha vida. Por que eu tinha que conhecer minha mãe desse jeito? Nesse momento vou culpar a geografia. Nossa nação é relativamente pequena. É totalmente normal essas ligações e coincidências bizarras.

Agora eu tenho duas opções. Ir embora, o que parece mais racional, saudável, inteligente. Ou eu posso voltar ao escritório e tentar conhecer meu pai. Pelo menos essa relação pode ainda ter alguma chance de funcionar. Mas, se eu não fugir agora, posso terminar decepcionada, com o coração ainda mais destroçado.

Tento senti-lo, encontrar os batimentos dentro de mim, mas não consigo. Meu coração está em silencio, então tomo a decisão mais arriscada deixando para pensar depois nas consequências.

Volto para o escritório de Martins.

— Só venha Laura. Estou dizendo que é ela! Eu nunca te daria falsas esperanças. Quando vê-la vai saber. Ela é como você. Tão perfeita. Apenas venha logo. Use um de seus veículos, assim em algumas horas já vai poder conhecer nossa filha. — Martins está se comunicando com Laura. Sua voz está embargada. Ele não presta atenção quando entro no cômodo. De onde estou Laura não consegue me ver.

— Estou indo. Só espere que logo estarei aí. Não deixe que ela suma. Fique com ela até eu chegar. — Laura está chorando. Eu nunca a vi demonstrar alguma emoção genuína.

A comunicação entre eles é encerrada. Em um veículo, Laura deve demorar cerca de três horas para chegar aqui. Eu não tenho forças para pensar sobre isso agora.

Se eu não a conhecesse, estaria ansiosa, talvez até feliz. Mas, como a conheço, não tenho ideia de como me sentir. Apenas sei que essa é uma oportunidade para esclarecer tudo que aconteceu na missão.

E talvez eu deva dar uma chance para Laura se explicar. Talvez ela tenha uma razão.

Ou talvez, bem lá, no fundo, eu ainda deseje que minha mãe seja uma boa pessoa.

xxx 

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