Nunca gostei de estar perto dos meninos, me sentia particularmente incomodada, não via necessidade, eram maliciosos demais, eram assanhados demais, me deixam encabulada com tamanha ignorância que pairava sobre suas cabeças imundas, isso me irritava porque era clichê demais e vivia me apaixonando por menininhos lindos de olhos castanhos, mas nunca tinham uma ética aceitável, ou, pelo menos, digna de um homem bom e justo, eram todos idiotas e eu não tinha opções, mas ainda assim estipulava meus rótulos e exigências, pena que eu era tola demais e fazia as exigências e tinha as preferencias erradas. Era desnecessária, nem por isso, estava errada.
Tinha tendência de ter uma crush em garotos malvados, aqueles que nunca tinham boas intenções comigo e que nunca olhavam para além do que eu estava vestindo e se era possível ver partes do meu corpo, me derretia por estes pervertidos que sempre falavam coisas bonitas e mentirosas, que me davam um falso afeto e me faziam cair de amor pedindo por mais atenção, eu era carente, queria que me dessem carinho e que gostassem de mim, era dependente dos seus olhares e tentava sempre agrada-los, mas havia alguns limites entre eles, o meu corpo e a minha boca a qual eu não queria que fossem ultrapassados, este tipo de contato me assustava, mas para aqueles garotos funcionava de uma forma diferente, de uma forma em que só poderia acontecer, se esses toques fossem trocados e, por isso, eu não tinha opção, ou pelo menos achava que não tinha.
Era muito jovem, tinha quatorze anos quando me entreguei a saídas à noite, festas de formandos de quem era no terceiro ano, indo como acompanhante dos garotos que me levavam, usava saias que eram curtas, sempre sem quebrar o limite posto pela minha consciência, mas que sempre me deixavam desconfortável. Ainda me lembro do sentimento de ingenuidade em acreditar em cada um deles, das coisas que me falavam para conseguirem me beijar e passar as mão em mim, costumavam dizer que iriam se apresentar ao meu pai, que iriam estar comigo, para que depois de alguns dias começassem a me ignorar, fingir não se lembrar do meu rosto, mas isso nunca me abriu os olhos, adorava a atenção deles e era isso que não entendiam, era atenção que eu gostava, não das suas mãos bobas entrando nas minhas calças jeans ou seus olhares inapropriados para as minhas pernas quando colocava as saias, aquilo estipulava tantos limites na minha vida, que as manias de morte não estavam distantes, porém, nunca chegaram até mim.
Eu tinha algumas amigas, ou, pelo menos, eu as considerava minhas amigas, quanto a elas já não posso afirmar com tamanha certeza, todavia, a possibilidade bem obvia de que elas não gostavam tanto assim de mim nunca me incomodou e eu nunca cheguei a notar com clareza, mesmo que só estivessem comigo para me moldar como quisessem e me usar para ser usada, não era difícil me manipular, eu era uma garota muito instável e frágil tal como um recém-nascido com problemas de respiração, eu estava encubada em uma vida a qual eu não tinha nenhum controle, sendo a pessoa que me pediam para ser, sendo cega por pessoas que não testemunhariam a meu favor quando viesse a denunciar o cara que me matou.
Ainda me lembro de quando conheci Alan Kluguer, ele recém havia se mudado para São Paulo, vindo direto do Rio de Janeiro, havia se tornado famosinho dentro da escola assim que chegou, pela sua boa aparência e sotaque carioca, aparentava ter boa vida e estava sempre desfilando com o uniforme escolar, ele era bonito e sabia disso, um bonito cheiroso e convencido, ele sabia que o que quer que fizesse tinha dinheiro o suficiente para limpar qualquer sujeira sua, tinha aquela boa pinta de um cara rico do Rio de Janeiro que não valia um centavo da fortuna que tinha, eu adorava, e não era a única. As minhas amigas tinham uma vantagem quando se interessavam por um garoto e seu grupo de amigos: eu, facilmente elas conseguiam me persuadir a ter a atitude que elas nunca tinham, e eu sempre fazia o que elas pediam, e sempre saía perdendo.
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✓ querido papai.
Short Story❝Então, querido papai, este é o favor que quero lhe pedir. Uma coisa sempre leva a outra. Então, por favor, não deixe que tudo isso comece. Não deixe meus irmãos chamarem garotas de putas, porque elas não são. E um dia algum garotinho pode começar a...