Capítulo 1

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Era um garoto tímido. Muito na dele. Tinha cabelos lisos bem pretos com uma franjinha que as vezes caia em seus olhos. Sua pele era muito branca, ainda mais que a minha e eu quase não tomo sol. Seus olhos eram da cor de chocolate amargo. Os traços coreanos eram bem fortes. Seu sorriso, embora raro, era doce e sumia com seus olhinhos.

Não era de falar muito, mas brincávamos muito no parquinho. Todos os dias daquelas férias estávamos brincando por lá.

— Vamos, Princesa — ele gritou de cima do brinquedo — você consegue!

— Eu sei que consigo — respondi sorrindo — é que estou com preguiça, Sugar!

— Eu te ajudo, então — e ele descia, toda vez.

Éramos assim, inseparáveis até meu papa ou sua mãe chamasse avisando que era hora de ir embora. E mesmo assim, contávamos as horas para voltar no dia seguinte.

Foi uma tristeza só quando descobri que não ia mais poder ir todos os dias para o parquinho, pois ia começar a escolinha e as aulas extracurriculares.

— Mas eu não quero ir, Papa — disse no primeiro dia de aula enquanto meu pai tentava colocar meu uniforme — Quero ir para o parquinho brincar com meu Sugar.

Meu pai revirava os olhos e sorria, mas continuava a me arrumar. Penteou meu cabelo e me levantou para que escolhesse um acessório de cabelo. Peguei o arco preto que se misturava a cor do meu cabelo.

— Vamos, Sereia — ele olhou pra mim com seus olhos azuis da mesma cor dos meus — você vai gostar da escola, e pode ir no parquinho mais tarde.

— Promete? — sorri, me animando — de dedinho?

— Sim, meu amor — disse se inclinando e enroscando o dedo no meu — se você ainda quiser, te levo assim que sair da aula.

— YEEEEEEEY — gritei agarrando o pescoço dele, que riu e ficando reto, me levantando junto. Meu pai era bem alto, 1,90m, acho, e eu com meus míseros 1,10m sentia como estivesse voando.

— Agora, vamos tomar café ou você se atrasará.

Rapidamente fomos para a cozinha onde comemos panquecas com morango.

Papa me levou para o colégio em seus ombros, já que era bem perto de casa. Fomos rindo e cantando o caminho todo.

Ao chegar na escolinha, mal pude conter minha felicidade. Sugar e sua mãe estavam no portão. E o garotinho não queria entrar de jeito nenhum. Nos aproximamos devagar.

— Não vou! — gritava o menino agarrado as pernas de sua mãe — me leva para o parquinho

— Depois, filho — a mulher tentava tirar o menino de suas pernas e ao mesmo tempo procurava algo, ou alguém ao redor. Até que avistou meu pai e deu um sorriso aliviado.

— Precisa de alguma ajuda? — meu pai falou divertido.

— Que bom que vieram — a mulher disse pegando o filho no colo — olha, filho, sua amiga.

— Oi, Princesa — ele sorriu.

— Oi, Sugar — respondi enquanto meu pai me colocava no chão.

O garotinho também foi colocado no chão e pegou minha mão e foi minha vez de sorrir. Senti uma das mãos de meu pai em minha cabeça.

— Filha, precisamos passar na recepção.

— Posso levá-los lá se quiser — a mãe de meu melhor amigo ofereceu. — Preciso pegar os papéis dele.

— Adoraríamos — respondi gerando risadas dos mais velhos.

Aquele foi o melhor dia da minha vida. Sentamos juntos. Desenhamos juntos. Comemos juntos. Brincamos juntos.

Todas as outras crianças me olhavam estranho. Podia ser por meus traços europeus, ou meu cabelo cacheado ou até pela pronuncia errada de algumas palavras. Mas ele me olhava como se eu fosse uma real princesa.

Quando chegou a hora da saída fomos juntos para a porta, onde a professora chamava os alunos por nome para encontrarem seus pais.

— Katherine Evans — a professora chamou meu nome, com um pouco de sotaque. Soltei a mão de meu amigo e passei pela porta, parando do outro lado para esperá-lo.

Pouco tempo depois estávamos com nossos pais no parquinho. Brincamos por horas, até que meu pai me chamou para ir embora e sua mãe decidiu ir também.

Morávamos perto, então fomos juntos até certa parte do caminho combinando nos encontrar naquele ponto no dia seguinte para ir a aula.

Spring Day - Min YoongiOnde histórias criam vida. Descubra agora