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N.A.: Isso é tudo culpa da Halsey e o álbum Badlands.

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Eu te observo de longe.

Sentado no fundo da piscina vazia, longe de todo esse barulho de vozes e sons.
Te observo, silenciosamente daqui de baixo, como você brilha por cima de toda e qualquer luz deste lugar.
Eu vejo você, que age como se fosse um jovem Deus neste lugar que escolhemos para nos refugiar. Como se fosse o rei de tudo e todos.

Você me olhou de volta e eu desviei o olhar envergonhado, disfarcei bebendo o conteúdo do copo vermelho em minha mão. Você não deveria saber que eu sempre guardo teus passos, você não deveria poder ver o tipo de sentimento que se esconde por trás do meu olhar, do meu sorriso travesso. Eu me perdi no infinito de possibilidades que poderiam já ter acontecido naquela noite se eu não fosse tão idiota, se eu não fosse tão medroso.

As paredes da antiga piscina foram pichadas com diversas frases em inglês que não conseguia entender direito, mas que me faziam lembrar de melodias tristes. Me perdi na pequena poça de água verde azulada que me fez imediatamente lembrar de você e consequentemente da primeira vez que te vi.
O modo como seu sorriso me afetou desde aquele dia, um sorriso que tempos depois eu descobri ser viciado em provocar. Apenas para apreciar o modo como sua risada fluía como água corrente. O teu jeito sempre incomodou aos outros, mas nunca a mim.

Você era como meu espelho invertido, e eu amava isso em você. Você era intocável, sempre a frente, acima. Como o azul celeste do céu.

Você me puxou por uma das mãos e me levantou com certa facilidade. Tomei um susto porque não havia percebido sua chegada. Você sorriu de lado e me deu um olhar provocativo, eu sei que você já estava totalmente sob o efeito de todas as bebidas que pode encontrar pela frente, mas não me importei nem um pouco quando uma de suas mãos que em um momento estavam em meus pulsos, subiu até se encaixar na base da minha nuca, firmando ali como se deixasse claro que eu não poderia sair de seu apanho.

Tão pouco me importei quando senti seus lábios quentes e molhados tocarem o meu levemente, apenas um roçar, que já bastou para me deixar quente em toda parte. Abri meus olhos e me deparei com o seu olhar negro.

- Me diga um lugar para onde você deseja ir, Jimin.

- Para o céu.

- Para o céu? Então esta noite eu te levarei ao paraíso.

Você me prendeu novamente entre os lábios, mas de maneira mais intensa, com uma pressa que antes não existia. Você me separou de você, e eu tive medo, mas vi o sol em seu sorriso.

***


Minhas mãos estavam agarradas no volante, eu mal conseguia me concentrar na estrada a frente. Meu pescoço queimando com a sensação dos seus lábios macios. Sua mão esquerda apertando forte minha coxa, minhas mãos coçando para te tocar e por um segundo eu cogitei a ideia de largar o volante só para sentir sua pele macia.

Eu estacionei o carro de qualquer jeito na garagem, e talvez tenha sido a manobra mais rápida da minha vida. A realidade evanesceu ao meu redor e tudo aconteceu como um borrão, você sobrepôs todo o resto que eu poderia lembrar, tudo o que eu via, sentia e ouvia era você.

Eu nos vejo em uma cama barata de hotel, com os lençóis enrolados entre nossas penas. Eu via as cores do seu cabelo em toda parte. Sua boca tinha gosto de tangerina em minha língua.

Você me estimulava enquanto nossos corpos se conectavam, e cada vez que voltava eu sentia como se uma pequena supernova estivesse prestes a explodir dentro de mim. Me senti flutuar até o céu, sentia que podia tocar as estrelas com o dedo, e então cheguei ao paraíso. Eu o sentia em toda parte, como se ele fosse parte de tudo, como se estivesse presente em cada molécula de ar, em cada célula do meu ser.

Eu abri meus olhos apenas para ver meu próprio eu refletido em seus olhos, eu lembro de ver suas cores tão de perto e elas eram tão bonitas!

Você não disse uma palavra sequer, mas tudo bem, você nunca foi de falar muito. Tudo o que fez foi me olhar de volta, e me choquei por um segundo com a intensidade de seu olhar. Pra mim todo esse surto de ações tinha desconcertante, eu não me sentia merecedor desse olhar que é quase devoto, porque este era o meu olhar dedicado à você.

Nós recomeçamos tudo outra vez, mas dessa vez foi mais suave, com uma calma infinda. Eu não sei exatamente quando isso aconteceu, mas tive certeza naquele momento que eu o amava. Um amor como religião, onde você era o meu próprio Deus particular.

Eu era vermelho e você azul, então nós nos tornamos roxo.

Young GodOnde histórias criam vida. Descubra agora