Meu Anjo

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Reino da Dinamarca - Século XIX

Estávamos no meio do inverno, eu estava passeando pela floresta como sempre fazia, até que ouvi uma voz, era tão suave que se misturava com o som do vento ao meu redor, foi algo muito curto por isso pensei que era apenas minha imaginação e continuei andando, passando pelas raízes das grandes árvores que sobrepunha-se à terra e que agora estavam completamente brancas por causa da neve, até que ouvi a voz novamente. Me encaminhei em direção ao som e quanto mais perto chegava, mais nítida sua voz ficava, logo percebi que ela estava cantando, mas não consegui reconhecer a música, então parei quando a avistei ao lado de um carvalho, ela usava um vestido verde e uma capa preta.

- Quem está aí? - Ela disse, sua voz era tranquila e doce. - Apareça, eu não vou te machucar.

Saí de trás da árvore e ela sorriu baixando o capuz, seus cabelos eram negros e sua pele pálida como a neve, seus olhos eram de um verde tão intenso quanto duas esmeraldas e seu sorriso, meu Deus, creio nunca ter visto um sorriso tão belo em minha vida, ela fez um sinal para que me que me aproximasse.

- Qual o seu nome, criança? - Andei até ela.

- Sebastian Leopold O'Brien IV.

- Bem, Sebastian, eu me chamo Dara. É um prazer lhe conhecer.

- O que você está fazendo sozinha na floresta?

- Acho que sou eu quem deveria lhe perguntar isso. - Ela sorriu para mim e estendeu a mão. - Venha, vamos sair daqui.

Segurei sua mão e ela me guiou até o parque atrás do palácio, mas quando virei para agradecer, ela já havia desaparecido.

Essa foi a primeira vez que a vi.

Eu ia todos os dias à floresta para vê-la, alguns dias ela estava lá, esperando por mim e outros não, ela brincava comigo e me ensinava sobre diversas coisas, cuidava de mim quando me machucava e me contava histórias, histórias sobre anjos e batalhas nos céus. Assim, o tempo foi passando e eu me apeguei cada vez mais a ela, a medida que crescia e ela parecia não envelhecer.

- Dara? - Chamei enquanto andava em direção ao grande carvalho, que havia virado nosso local de encontro.

- Estou aqui. - Ela apareceu atrás de mim tão de repente e tão perto que eu dei um passo involuntário para trás e acabei tropeçando em uma raiz e caindo no chão. - Está assustado, Bass?

Ela me ajudou a levantar enquanto ria, olhei para ela com raiva e ela apenas sorriu suavemente, eu a observei por um momento, ela não envelheceu nem um dia desde a primeira vez que a vi, 12 anos atrás, pelo contrário, agora eu parecia ser mais velho que ela. Tê-la ao meu lado sempre foi algo natural para mim, nunca me importei que ela ficasse perto de mim, ou que ela olhasse fundo nos meus olhos ou até mesmo que segurasse a minha mão para me levar a algum lugar, mas agora era diferente, seu toque e seu cheiro não saíam de minha cabeça, sua fala ressoava em meus ouvidos como a mais doce sinfonia e seu olhar, sempre tão profundo, sempre me avaliando em cada detalhe e nunca deixando transparecer nada. Meu Deus, eu poderia olhar para aqueles olhos verdes pelo resto de minha vida. Foi quando decidi chamá-la para o baile, não sabia exatamente como, então tentei ser o mais direto possível.

- Então, Dara, como você sabe - Dei uma pausa limpando a garganta. - Hoje é meu décimo oitavo aniversário.

- Sim, eu sei. Por isso quero que venha a um lugar comigo.

- Um... Um lugar?

- Sim, como todos os anos, eu te levo a algum lugar desconhecido.

- Ah, sim. Claro. Eu irei. - Respirei fundo e olhei para ela que estava colhendo algumas ervas no chão. - É que amanhã será dado um baile em minha homenagem no palácio e... E eu...

Entre o céu e a coroaOnde histórias criam vida. Descubra agora