Uma Linda Mentira

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As luzes do teto daquele pub, faziam Aleph sorrir com extrema felicidade. Eram somente luzinhas azuis, ele sabia, como as luzes de natal, que cobria todo o teto baixo preto do local, dando a impressão que se estava perto demais de um céu estrelado. As pessoas a sua volta riam e bebiam, cantavam e regozijavam, comemorando cada qual sua conquista diária. Aleph viu um casal feliz no canto, onde revezavam um gole e um beijo, tão animados quanto um casal deveriam estar. Havia também um jovem bem vestido, comemorando em alto e bom som a promoção que recebera de sua empresa. Havia ali tudo o que Aleph mais gostava, que era amor, felicidade e celebração. Não vira o nascimento de todos ali, seu trabalho era somente semear a vida, mas alguns em especial ele parava sua peregrinação para admirar a beleza de seu trabalho.

Pediu um drinque ligth para o Barman, enquanto olhava sorrindo para a jovem Alice. Lembrava-se dela, era uma noite chuvosa, e ele estava fazendo uma viagem aos Kansas quando decidiu que naquela humilde fazenda poderia ter mais vida. O local havia sido devastado por uma poderosa tempestade alguns meses atrás e Aleph sabia que não havia nada melhor para dar esperança ás pessoas daquela fazenda do que uma nova vida. Aleph sorriu ao ver Alice ali, com amigas, vinte anos depois, pelo visto bem-sucedida, e ficou ainda mais feliz ao ver a jovem atender o celular e dizer que estava indo ver seus pais no fim de semana. Era uma boa garota, ter semeado a vida naquela humilde fazenda foi uma boa decisão. Enquanto bebia seu drinque, Aleph decidiu que deveria fazer uma visita em algum lugar rural, pois alegrava-se com as pessoas do interior, eles sabiam celebrá-lo melhor do que as pessoas das grandes cidades.

Quando terminou Aleph ouviu o som da sineta da porta do pub tilintar, e ele instintivamente olhou para a direção do som, e sentiu um misto de sensações. Adentrando-se despreocupadamente, uma jovem fez Aleph sentir todo o ar a sua volta entrar em colapso. A jovem era pequena, de pele tão branca quanto a de Aleph, mas ao contrário dele, os cabelos da jovem eram tão negros quanto o teto daquele pub, corpo em forma de violino, lábios pintados de lilás e estreitos olhos cor de âmbar, como se fosse uma versão humana de um gato. Usava uma camiseta com uma estampa de alguma banda Punk extremamente chamativa, por baixo de uma jaqueta de motoqueiro de couro cintilante, calças de Napa colada ao corpo e um par de botas que iam até os joelhos. Suas orelhas estavam cheias de brincos e seus pulsos cobertos por pulseiras que mais pareciam grilhões de tortura.

Ela entrou com uma expressão de tédio no rosto belo, o que nem de longe atrapalhou sua beleza. Era como uma flor venenosa, bela, porém triste. Avançou na direção das pessoas e se sentou dois bancos de distância de Aleph, que só fez segui-la com o olhar. Nunca em toda sua existência alguma humana lhe chamara a atenção como aquela jovem, que não deveria ter mais que vinte anos fizera a ele. Havia algo nela que fez Aleph estremecer, algo que ele nunca sentira na vida. A jovem olhou para o Barman e pediu um copo de leite, a voz era arrastada, como a de uma cantora de Blues a muito esquecida. O pedido fez o corpulento Barman rir.

— Sabia que compro leite somente por sua causa? — brincou o Barman.

— Eu venho tanto aqui assim? — havia um quê de tristeza naquela pergunta retórica.

— Não tanto quanto deveria. — brincou o Barman — Os homens daqui vivem me perguntando quando irão vê-la novamente.

A garota, olhou para o Barman vagarosamente, como se ele fosse um garotinho que não sabia das coisas. E só depois de tomar um gole de um copo cheio de leite ela disse:

— Eventualmente todos irão me ver um dia.

Aleph ficou a admirar a garota, como se ela fosse o epicentro de algo muito maior que o próprio tempo. E talvez seja por isso que ele deixou de perceber quem ela era. Alice despediu-se de suas amigas e rumou para fora, e então a bela garota agradeceu o leite e sem pagar nada, se foi. Aleph curioso, olhou para o Barman, que pareceu não saber por que havia um copo de leite vazio ali. Uma estranha sensação tomou conta de Aleph e ele correu atrás da garota, não sabia a razão, mas tinha de fazê-lo. Ouviu o disparo antes mesmo da porta dos fundos abrir por completo. Aleph viu um vulto passar ao longe e ao dar dois passos para a frente, ele viu. Deitada em uma posição irregular, estava Alice, uma poça de sangue ao seu redor. Aleph correu até a garota, que olhava fixo para o céu coberto de nuvens carregadas de neve, o hálito fraco dele criando uma pequena névoa.

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⏰ Última atualização: Jul 01, 2017 ⏰

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