"Se fosse fácil, todo mundo saberia explicar como fazer. Viver não é assim tão simples, mas que a gente complica, não há dúvidas."
Boa leitura!06:00 A.M - Quarta- Feira
Eu já tinha acordado, estava deitada pensando quando minha vida tomaria um rumo diferente. Estou no terceiro do ensino médio, tenho 17 anos, e uma das primeiras coisas que vou fazer quando fizer 18, vai ser sair dessa casa. Eu não mereço passar por nada disso que passo, nunca fiz mal a alguém, não vejo porque fazerem comigo, e justo quem faz é o cara que minha mãe ama!
Tomei vergonha na cara e levantei, fui pro banheiro, tirei minha roupa e encarei meu corpo no espelho grande que tinha alí, boa parte do meu corpo estava marcado por agressões. Em minha barriga havia manchas avermelhadas, minha pernas roxos bem marcados, meu rosto alguns arranhões ... Eu já não sabia controlar mais meus sentimentos, lágrimas escorriam queimado feridas em meu rosto sem ao menos eu perceber. Mesmo que eu consiga colocar este homem algum dia na cadeia, as marcas, as dores que senti nunca vão sair de mim.
Despertei meus pensamentos e resolvi me arrumar, tomei um banho rápido, peguei uma calca preta cós médio com um rasgado fino no joelho, a blusa do uniforme, um moletom preto, não estava muito frio, mas eu gostava de usar, na verdade não estava nem um pouco frio, pelo contrário, um calor do caralho. Coloquei alguns acessórios, fiz um coque no cabelo. Saí, peguei minha mochila e desci. Passei pela cozinha e meu maior pesadelo estava alí, não disse nada, apenas saí daquele lugar.
Lorena sempre me buscava na esquina da minha rua, fui pra lá e fiquei esperando a mesma, logo mais ela apareceu, toda sorridente.
Lorena é aquela menina que mesmo não sabendo de todos meus problemas só de sorrir pra mim já me alegra, está sempre do meu lado, me apoiando. Me dando bronca quando estou errada. Sempre aqui ... me dando motivos pra continuar de pé. Daqui a um mês meu maior sonho vai se realizar, meus 18 anos, vou sair daquela casa e irei denunciar aquele homem, coisa que já devia ter feito à tempos, basta coragem.Lorena: "Oiee 'xuxu'!! Bom dia." - disse ela toda animada.
- "Bom dia, esse bom humor logo de manhã cedo seu me encanta menina." - disse rindo.
Lorena: "Ah, tem que ser assim. Feliz sempre!"
- "É né!"- disse. Ô minha amiga, se você soubesse o que se passa comigo.
Lorena: "Você tá bem Maju?" - Estranhei a pergunta dela.
- "Porque a pergunta?" - olhei pra ela com a sombrancelha arqueada.
Lorena: "Ultimamente você anda tão estranha ... Você sabe que pode contar sempre comigo não é?! " - Parecia que ela sabia de algo.
- "Sei sim. Está tudo bem, relaxa!" - Sorri sem mostrar os dentes.
O silêncio reinou no carro até o colégio. Chegamos, Lorena foi falar com alguns amigos e eu fui direto pra sala. A primeira aula era de Sociologia, minha aula preferida! Depois de um tempo minha amiga chegou e se sentou na minha frente, a aula foi passando e eu me interessava cada vez mais pelo assunto, quando Lorena se vira e coloca um papel na minha mesa.
" Pessoal chamou a gente pra ir no shopping. Bora?"
Eu não gosto de sair. Ela sabe disso, nem sei porque está perguntando, sonsa que só.
"Poxa Lore, nem rola. Minha mãe está de folga hoje, vou passar o dia com ela. E mesmo se não tivesse, eu não iria. Você sabe disso."
Mandei o papel de novo pra ela e pude ouvir ela bufar após ler. Sociologia acabou, e o professor de matemática entrou logo em seguida. Argh! Odeio matemática, porém preciso dela pra ser alguém na vida, fazer o que né. Não via a hora de ir pra casa. Depois de muitas aulas insuportáveis, o sino bateu.
Lorena- "Vamos? "- disse juntando suas coisas.
- "Sabe o que é Lore, minha mãe vem me buscar hoje. "- disse dando um meio sorriso.
Lorena-" Ah, tudo bem! "- Sorriu pra mim. Fomos até o portão principal que se encontrava lotado pela quantidade de alunos que estavam indo embora. Parei no topo da escada que tinha ali, junto com Lorena, esperando o tumulto passar. Era sempre assim. Passei os olhos pelo lugar, observando cada cantinho, quando meus olhos parou em um garoto, ele tava encostado numa moto, blusa preta, e uma bermuda preta também, usava um tênis qualquer, tinha cabelo preto bagunçado pelo vento. Fiquei um bom tempo olhando pra ele, quando os nossos olhares se cruzaram, não desviei, nunca desvio, se quiser, a pessoa que pare de olhar, continuei o olhando, até que uma menina morena chegou agarrando o pescoço dele e ele desviou o olhar pra ela e eu pra Lorena que estava me cutucando.
Lorena- Majuuuu! - tava quase gritando no meu ouvido e me cutucando.
- Que é caralho?! Virei touch agora, eu hein.
Lorena- Nossa grossa, sua mãe chegou.
- Ata, beijos, até amanhã. - dei um beijo na bochecha dela e saí correndo pra entrar no carro da minha mãe. - Oi coroa- disse dando um beijo na testa dela quando entrei no carro.
Cecília- Que coroa o que? Tô nos 40 ainda minha filha.
- E tá linda assim! - disse sorrindo pra ela.
Cecília- Hoje seremos só eu você. - me olhou e voltou atenção ao transito. - Carlos não vai pra casa hoje. - Não sei o quanto essa notícia trouxe de felicidade pra mim.
Fomos a um shopping mais simples que tinha no centro, almoçamos por lá mesmo, ela comprou algumas coisinhas pra ela e eu apenas fiquei a observando. Ela estava tão feliz. A tarde passou muito rápida, na hora de ir embora paramos na prainha em frente minha casa para tomar sorvete.
Cecília- Então filha, tem algo pra me dizer? - disse quando sentamos num banco que tinha alí.
- Não mãe. Porque a pergunta?
Cecília- Nada ... Você não conversa mais comigo como antes, não me conta mais nada, anda triste ...
- Não é nada mãe! - sorri.
Cecília- Aí que bom! - disse como se fosse um alívio. - Lore veio com um papo que você tá meio estranha, aí resolvi perguntar, deve ser coisa dá cabeça dela.
- É ... - Fui interrompida pelo celular dela que tocou.
Cecília- Eu mesma ... Sim ... Tudo bem ... Leva pra sala de emergência, já já chego. -desligou e levantou pegando sua bolsa.- Filha, desculpa, paciente, emergência ... já sabe né?! Irei mandar Carlos vir pra casa - disse pegando o celular.
- NÃOO!! - gritei e ela me olhou assustada. - Quer dizer, não precisa ... Eu chamo a Lorena pra dormir comigo. E eu sei dormir sozinha também né mãe, pelo amor de Deus.
Cecília- Ah, que isso filha! Ele ama ficar com você, e já mandei a mensagem. - Disse, eu suspirei e assenti com a cabeça. - Fica bem, beijos. - Deu um beijo na minha testa e foi pro carro.
– " Vou ficar ..." - sussurrei.
Eu atravessei a rua e fui pra casa. Já vi que hoje vou sofrer mais um pouco ...