Raio de sol.

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Nós estávamos juntos, sentados no gramado verde recém molhado pela chuva na praça perto da rua principal. Eu gostava tanto de leva-la para lá, nós nos divertíamos muito, éramos extremamente felizes, nem sequer discutíamos. Lembro-me de ser acordado por Vitória sempre com um sorrindo enorme no rosto, nossos dias eram os melhores.l

No último dia que estivemos juntos estava chovendo muito e quando a chuva cessou, Vitória insistiu para que fossemos até a praça pois queria observar o céu a noite, mesmo que não houvessem estrelas.

Se eu soubesse que aquela seria a última noite que iria passar com ela, eu teria feito tudo diferente.
Enquanto observávamos o céu coberto por nuvens, Vitória falava o quanto gostava de estar ali, a praça era seu lugar preferido em São Paulo.

− Gosto de vim aqui e gosto de estar com você, esse lugar me acalma e sua presença faz com que eu me sinta segura.

Vitória falava sem olhar para mim, ela sempre fazia isso, mesmo depois de tanto tempo juntos ela ainda tinha vergonha de falar o que sente olhando em meus olhos.

− Eu gosto de sua companhia, você me faz feliz e eu sou grato por ter você em minha vida.

Eu dizia para ela enquanto via um sorriso se formando em seu rosto, aquele foi o sorriso mais lindo que ela já havia dado antes.

− Sabe? Eu nunca te agradeci por ter me salvado no segundo colegial. Você foi incrível aquele dia.

Vitória falava agora observando as pessoas passando pela rua.

− Eu apenas fiz o que qualquer um faria, bem, eu gostaria que alguém me ajudasse se aquilo tivesse acontecido comigo.

Eu falava entrelaçando nossos dedos.

Vitória aquela noite estava lembrando do último dia de aula no segundo colegial, quando uma turma de valentões a pegaram e trancaram-na na sala do zelador, não só isso, como também haviam colocado fogo em uma das salas do terceiro andar e na lousa haviam escrito "Por aqui passou Vitória Choi" para a incriminar a pedido das meninas que não gostavam dela. Por sorte, eu estava passando por perto e a ouvi gritando por ajuda, então abri a sala do zelador, Vitória me agradeceu diversas vezes, quando nos demos conta a fumaça já estava quase tomando conta do segundo corredor, os sensores foram ativados e o fogo foi controlado.

Se eu não estivesse por perto, Vitória poderia ter morrido asfixiada pela fumaça ou se os sensores de fumaça não estivessem pegando teria sido carbonizada. Fico feliz que naquele dia tinha resolvido ficar depois da aula pois desde aquele dia eu e Vitória nos aproximamos muitos e hoje estamos com quase quatro anos de namoro.

− Aquele carro está vindo muito rápido, né?

Vitória falava estreitando os olhos para enxergar melhor.

As coisas aconteceram tão rápido naquela noite que até hoje fico me perguntando o "porque" disso tudo.

Um clarão forte foi se aproximando de nós e eu estava em estado de choque, não sabia o que fazer. Quando me dei conta do que aconteceu o carro já havia colidido com toda a força no frágil corpo de Vitória, eu corri para perto dela, eu tentei socorrê-la, mas ela mesmo disse que eu não precisava me preocupar pois ela iria partir, ela me disse que os momentos que passamos juntos seriam inesquecíveis e que eu fui a melhor pessoa que passou por sua vida.

− Nunca se esqueça que você foi a pessoa mais importante para mim nessa vida, não deixe nunca de regar meu lírio enquanto ele estiver vivo me representará. Você e eu sabíamos que um dia isso aconteceria, era para eu ter morrido no dia do incêndio que você me salvou. Desde o princípio nós somos avisados que ninguém engana a morte, então não fique triste por mim, o que eu tinha que fazer nesta vida eu já fiz, que era amar você. Agora viva intensamente como sempre quis, faça aquela viagem para Portugal que sempre sonhou. Eu te amo e sempre vou te amar, não se esqueça que você foi a melhor coisa que me aconteceu...

Vitória virou a cabeça para o lado e foi naquele instante que eu percebi que o grande amor da minha vida havia partido, senti parte de mim indo embora lentamente, eu senti tristeza, raiva, agonia e ódio ao mesmo tempo.
Fui até o carro que só havia parado por ter batido em um poste, eu não sabia o que iria fazer, mas o destino já havia feito por mim, o motorista tinha falecido com o impacto do carro no poste, eu não consegui ficar triste por ele e até hoje não consigo, pois sei que se ele tivesse se salvado do acidente quem teria o matado seria eu.

Vitória foi o melhor acaso que o destino já colocou em minha vida, ela foi maravilhosa do começo ao fim, ela me fazia tão bem que até hoje é difícil suportar sua ausência.

Eu não sou tão forte quanto pensei, eu tentei viver intensamente como ela havia me dito para viver, eu fiz minha tão sonhada viagem para Portugal, mas a verdade é que nada disso foi tão bom quanto pensei, pois sem a Vitória é difícil viver.

Eu não precisava contar essa história de novo pois todos vocês já a conhecem, mas eu não achei um motivo plausível para que vocês entendessem o que eu fiz e talvez vendo essa tragédia no meu ponto de vista tenham entendido que o amor só é vivido verdadeiramente quando os dois se doam e são companheiros. É por isso que hoje eu estou dando um até logo, não é um adeus, pois todos nós iremos nos encontrar em outras vidas ou quem sabe em todas.
Mas saibam que tudo que eu vivi com a Vitória foi maravilhoso, ela era meu raio de sol e sem ela aqui o meu mundo ficou mais escuro, sem vida e sem cor. É exatamente por isso que estou indo me encontrar com ela em nossa outra vida, eu me recuso a viver uma vida onde não tenha Vitória Choi.

Desculpem, se amem e divirtam-se por mim.

Marcos Hwang.

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