Ariel
Dei um sorrisinho de contentamento e fiz um gesto com as mãos de um jeito teatral pra ela entrar no carro. Rindo, ela deu a volta no carro e entrou no banco da frente. Eu a segui e entrei no mesmo instante.
- Você parece feliz - Janny comentou me olhando dar a partida no carro e ligar o ar.
- Eu sou - respondo.
Eu sabia que ela estava pensando em uma época da minha vida que sempre me fazia estremecer. E com ela aqui, bem ao meu lado. Memórias dessa época que eu passei vão ficar bem mais frescas na minha cabeça. Eu sabia disso antes mesmo de ver ela, eu sabia que a sua proximidade iria desencadear lembranças ruins. Mas até agora eu estava conseguindo manter as memórias guardadas a sete chaves. O problema vai ser quando eu não aguentar mais pretendê-las.
- É muito bom saber disso... - ela sussurrou.
- É muito bom te ver! - eu mudei de assunto. - Quando é que você começou a usar os cabelos compridos assim?
Ela me lançou um olhar de preocupação pra então sorrir e responder minha pergunta.
- Resolvi mudar um pouco. Acho que já vai fazer um ano.
- Nossa... Tanto tempo assim? - perguntei ao passar de carro bem na frente da entrada do aeroporto.
- Gostei do resultado... O que é isso?- seus olhos se perdem em uma escultura logo adiante. Olhando pra ela fascinada.
Eu ri. Se tratava de duas esculturas gigantes de uma ave chamada Tuiuiú. Era a maior ave brasileira, típica do pantanal. Ela era toda branca, menos por um único colar vermelho em seu pescoço. A escultura que Janny estava olhando, era uma réplica perfeita do bicho com mais de quatro metros de altura. Feito por um artista respeitado e consagrado. Pra completar, tinha uma pequena lagoa que representava o local onde elas costumam frequentar, com um dos tuiuiús bebendo água. Cercados por uma grama verdinha.
É isso tudo bem no meio de uma avenida. Bem na frente da estrada do aeroporto. Pra pessoa chegar e bang! Me membro que quando vim pela primeira vez com a Angela, parei até pra tirar foto.
- Uma das muitas esculturas que você vai ver pela cidade - eu disse sorrindo.
- Que coisa incrível. Mas eu nunca vi esse bicho na minha vida! - e deu risada.
- É um Tuiuiú - eu respondi. - Claro que você não sabe, vive com a cabeça em outras coisas, pra pensar em coisas como isso! - e apontei pra escultura que ficou atrás da gente enquanto eu passava com o carro bem ao lado. - Mas o povo daqui da valor a essas coisas. Assim como eu.
Ouve um segundo de silêncio. Percebi que minha irmã estava me olhando de cima a baixo. E então ela soltou.
- Nossa! Como você tá diferente!
Eu parei no semáforo e olhei pra ela, ciente de que iria encontrar uma careta tomando conta do seu rosto. Mas o que vi, foi admiração.
- Olha essa camisa da Federal. Olha esse sorriso no seu rosto! - ela soltou um suspiro de contentamento. - Você tá tão linda... Tão forte... Tão... Poderosa! Tão diferente de quando você...
- É, eu sei! - não deixei ela terminar, pois eu sabia que se ela completasse a frase, as memórias iriam sair e desencadear o pior em mim. - Mas eu não estou tão bem assim, faz um bom tempo desde que eu explodi, então as coisas aqui dentro só estão esperando por um gatilho.
Ela balançou a cabeça. Entendendo o que eu queria dizer.
- Não se preocupe, não vou ficar tentando abrir o baú.
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Duas Semanas De Puro Prazer
RomanceATENÇÃO, CONTEÚDO NÃO INDICADO PRA MENORES DE 18 ANOS! Uma carioca da gema escolheu Campo Grande, capital de Mato Grosso Do Sul, para se refugiar de um trauma. Sem nem mesmo suportar ter a lembrança do mar, ela se vê mergulhando nos olhos azuis de...