Capítulo Um

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Quem disse que havia uma luz, o tal portal que nos levava desse mundo para um melhor, mentiu. 

Bom, não era o que estava acontecendo comigo, na verdade, estava tudo escuro e calmo, e eu sentia que a calmaria tava mais próxima de dar lugar ao caos. Comecei a ouvir vozes que ficavam cada vez mais próximas, o que me fez constatar que eu não havia morrido, quer dizer, será que morrer era assim?
Forcei meus olhos a abrir, e embora minhas pálpebras não obedecessem aos comandos do meu cérebro, consegui abri-los com dificulda, foi ai que a tal luz decidiu aparecer, me fazendo fechar os olhos novamente e depoia abri-los devagar. pisquei algumas vezes até me acostumar com a claridade, e perceber que a tal luz não era a "luz do fim do tunel", mas uma lampada comum no teto de um quarto.

A julgar pela peculiaridade do local, percebi que eu estava em um quarto de hospital, o que me fez indagar o porquê de eu estar ali. 

Olhei ao redor a procura de alguém que pudesse tirar minhas dúvidas, contudo, só havia um homem que dormia ao meu lado.
Comecei a tentar me mexer, mas a cada movimento, por mais mínimos que fossem, sentia uma dor dilacerante. A sensação era a de que meus ossos estivessem sendo esmagados.
Na falha tentativa de me movimentar, acabei acordando o homem desconhecido, que agora me olhava com espanto.

- Doutor!- Ele se levantou e foi pra fora do quarto, mas não demorou muito para que ele retornasse com uma equipe de mais ou menos meia dúzia de médicos.

Todos falavam ao mesmo tempo, fazendo minha cabeça pulsar, como se um segundo coração tivesse nascido dentro dela. Ru estava confusa e queria respostas, e aquelas pessoas não estava me ajudando em nada.

O que havia acontecido? Estava começando a entrar em desespero. Eu não era especialista, mas percebendo o intervalos entre os "bips" do monitor cardiaco na qual eu estava ligada, algo não estava certo, minha respiração estava inrregular e eu comecei a sentir que iria desmaiar

Um dos medicos se aproximou

- Regina,  como se sente?- Perguntou  apontando uma pequena lanterna para meus olhos, a luz incomodou mas não ao ponto de eu precisar fecha-los.

Foi então que eu notei que havia acabado de descobri meu proprio nome, pois até o doutor falar, eu não não me lembrava de nada.

- Não sei, estou confusa, não consigo me lembrar de nada.- Falei sentindo minha cabeça latejar. 
Empurrei as mãos do médico que ainda checava meus sinais vitais com lanterna e estoscópio.

- Calma. - Ele falou se afastando. - Responderemos todos suas perguntas. - Com uma postura envergonhada ele ajejtou o jaleco e se sentou na cadeira ocupada anteriormente pelo dewconhecido e virou-se em minha direção. -   Mas sobre sua saúde, esta sentindo alguma  coisa?

- Minha cabeça está doendo muito, e sinto uma dor dilacerante quando tento me mexer! - Foi o que conserguir resumi.

- Doutor Wilson, chama alguém da neuro, e Regina, preciso que fique calma, sei que deve estar cheia de dúvidas, e vamos sana-las em breve.

Ainda deitada virei minha cabeça em direção a janela de vidro na parede. Do lado de fora havia um homem, o mesmo que estava dormindo na cadeira ao lado, agora ele estava me olhando atraves do vidro, seus olhos lacrimejados me deixaram confusa. Quem era ele? Familia?

Fui submetida a uma bateria de exames, e eu já não sabia se eu pensava na dor que eu estava sentindo, ou no homem que não saiu do lado de fora do quarto, mas não falava nada.
Era intrigante, como se ele tivesse medo de falar comigo, seria ele um irmão, amigo, ou sei lá, marido? E se era, por que não se aproximou, eu estava confusa e me sentia sozinha. 

[...]

Três dias se passaram, e só bastou isso pra eu desejar ter morrido.

Ainda no mesmo dia em que eu acordei, o doutor, Ben, me disse o que havia acontecido.
Segundo o doutor, eu havia capotado com o carro a dois anos atrás,  e devido eu não estar usando cinto de segurança, eu fui arremessada do carro e sofri um traumatismo craniano, segundo a equipe médica, não havia chance alguma de eu acordar, contudo, eu acordei. Sem memória.
Se não bastasse, eu tenho um marido, um marido de que eu não me lembro, e que eu expulsei do meu quarto em um momento de crise de pânico, pois, mesmo teoricamente sendo meu marido, pra mim não era, se tratava apenas de um desconhecido

- Tem visita para você Regina. - Falou o doutor que tem acompanhado minha recuperação. 

- Quem?- Perguntei

- Sua família.

Minha família! 

Eu tinha pedido para o doutor não deixar ninguém mais vim me visitar, desde que o meu... meu marido entrara dizendo quem era.  Eu estava confusa e com muito medo,  e a última coisa que eu queria era magoar minha família, embora já tivesse feito isso.
Claro que o doutor discordava.  Ele alegava que, havia a possibilidade de eu me lembrar ao ver rostos "conhecidos".

- Tudo bem doutor, pode deixar eles entrarem.- Falei a contragosto. Sabia que ele ia repetir o mesmo discurso de dois dias atrás caso eu recusasse. 

Ele sorriu vitorioso e saiu do quarto. Minutos depois entrou  uma mulher no meu quarto.  Não sei porquê, mas eu sentia que aquela mulher ali na minha frente, com seus olhos marejados  e olheiras formadas em baixo dos mesmos, era minha mãe. 

Ela correu e me abraçou, e eu de imediato  retribui, eu não me lembrava dela, mas o amor que eu senti, eu só  sentiria por uma mãe. 
Assim como também o amor que ela me envolveu  com um simples  gesto... sim ela era a minha mãe.

Nos desprendemos  do abraço e ficamos nos encarando.
Com auxílio  do meu polegar,eu sequei as lágrimas  recém caídas da minha mãe.

- Filha!- Ela ainda chorava, e eu também. - Eu tive tanto medo de te perder.

Eu forçava minha mente  para poder lembrar dela, para lembrar momentos  juntos a ela, mas eu não conseguia. 
Eu não tinha lembrança  nenhuma do meu passado.

Fiquei uns minutos  com a minha mãe, depois entrou  duas mulheres, aparentavam ser um pouco mais velhas que eu, mas nem tanto.

Estava me sentindo presa em uma espécie de vácuo,

Eu sorri, forçado, para as garotas que se identificaram  como minhas irmãs.

As duas,  ou melhor,  as três  se eu contar com a minha mãe. Estavam com os olhos marejados. Bom... as quatro estavam. Pois eu também não pude segurar as lágrimas. Apesar de eu não me lembrar de nenhuma  delas,  eu me sentia protegida  e amada ali, já não me sentia sozinha.

Mas eu tinha uma dúvida. 

-   E  meu pai?- Indaguei  e vi seus semblantes mudar.

- Seu pai não está mais aqui.- Disse minha mãe com pesar na voz. 

Senti as lágrimas se formarem em meus olhos. Eu perdi meu pai e não tinha nem ao menos o privilégio de lembrar  o rosto dele. Então eu chorei. Não podia fazer nada além disso.

Talvez a dor que eu senti naquele momento fora maior que a dor que eu senti na primeira  vez. Pois nem mesmo as lembranças  eu tinha para amenizar a dor da perda.

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