Capítulo 42

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x Sofia x

Estou com frio, minha língua parece uma lixa e minha cabeça dói. Abro os olhos de repente, me lembrando do que aconteceu. Meu coração dispara ao notar onde estou. Vejo tubos em meu braço. Só existe um lugar que possuí coisas assim na nossa nação: laboratórios. Estou sendo dissecada.

Preferia estar morta.

Mas não vou cair sem lutar. Busco forças para mexer minha mão e arrancar os tubos, mas então noto que alguém a está segurando.

Ele está dormindo em uma posição desconfortável na cadeira ao lado. Tento liberar minha mão, mas minha movimentação o desperta.

— Você acordou! Você acordou. — Dante está chorando. Fico sem entender o que ele está fazendo aqui. Era ele que me queria longe dos laboratórios.

— Dante, você precisa me tirar daqui! Você sabe que não posso ser estudada. Seria um desastre. — falo tentando trazê-lo a razão.

— Ah, Sofia! Me arrependo tanto pelo que disse. Seria um mundo melhor se todos fossem como você. Se tivéssemos menos poder, talvez existisse menos ganancia. Mas, não se preocupe. Você está aqui para se recuperar. Os rusticatio precisaram usar técnicas antigas para te trazer de volta, apenas as habilidades não foram suficientes. — reparo em outros detalhes do cômodo. Pela pequena janela posso ver um pedaço da noite. Vejo também minhas coisas em uma mesa em outro canto. Meu equipamento parece intacto.

— O que aconteceu? Quanto tempo dormi? — pergunto tentando me sentar. Dante me ajuda, voltando a segurar minha mão quando estou confortável.

— Tantas coisas. Você dormiu por uma semana. Mas primeiro vocês estavam certas sobre a bomba. Tereza nos atacou com ela, tentando forçar uma guerra com as comunidades. Mas, como sabíamos que ela era a autora do ataque, assim que consegui neutralizar a bomba mandamos buscas para capturá-la. Ela fugiu, mas todos estão unidos contra ela agora. — ele fica em silêncio, parece não saber o que contar a seguir.

— Como você neutralizou a bomba? — era uma onda de poder muito forte para ser contida de qualquer maneira.

— Usei minha habilidade. Sou um coelum. Não te contei antes porque as pessoas não são muito amistosas a esse poder. Criar e manipular trevas nunca foi bem-visto. — nunca ouvi falar nessa habilidade antes. Sem dúvidas é algo raro, e poderoso se realmente neutralizou a bomba.

— Mas, as estrelas... você fez aquilo? — pergunto ainda confusa.

— Sim. Essa é uma habilidade rara. Nunca conheci ninguém como eu, então não sabia todos os aspectos do meu poder. Ver que você estava morrendo... isso despertou algo em mim. Então eu percebi que podia fazer aquilo. Não apenas manipular trevas, mas criar luz a partir dela. Então por sua causa, consegui evitar danos maiores, mas não foi o bastante. — ele parece angustiado.

— O que quer dizer com isso? — se ele conseguiu salvar até a mim, a garota sem habilidade e proteção, o que pode ter dado de tão errado?

— Você deve ter visto o impacto da bomba na torre. Você correu para mim por causa disso? — ele está concentrado em nossas mãos unidas agora. Parece evitar meu olhar.

— Sim. Vi quando atingiu a torre e deixou escuridão para trás. — respondo me questionando a razão de seu desconforto.

— Aquele dia foi tão estranho. Parece que o universo planejou tudo, encaixou todas as peças para que dessem errado. Não sei o que teria acontecido se você não estivesse lá. Eu provavelmente nem notaria que algo estava errado. Mas, antes de vocês chegarem, eu encontrei seu amigo Hugo. Ele estava com Vinicius e Mari e parecia querer falar sobre o atentado em Praetorium. Eu o levei até minha mãe, mas Emily já estava lá. Ela veio oferecer Vitae como um refúgio para os excluídos da nação. Como minha mãe estava ocupada, mandei que Hugo fosse conduzido até a contenção, que ficava naquela torre que você viu ser destruída. Naquele dia, procuramos por ele, mas não achamos seu corpo nos escombros. Um pouco antes da bomba explodir, uma testemunha viu Valentina sobrevoando as torres. Ela não foi encontrada, então acreditamos que ela também não resistiu. Sinto muito. — estou com dificuldades de respirar. Mesmo depois de tudo, Hugo é o meu melhor amigo.

O meu Hugo morto?

Não.

Valentina, completamente cheia de vida, morta?

Não.

Não vou acreditar. Não posso.

— Mais alguma coisa? — pergunto chorando, sem me incomodar em olhar para Dante.

— Me encontrei com Mari e Vinicius quando você estava sendo tratada. Eles me contaram que as crianças sobreviveram em Praetorium. Elas agora estão sendo levadas para Vitae. Emily, Mari, Vinicius e Teodora, a que comandava a instalação, estão cuidando delas. E Laura está sendo investigada. Ao que parece ela foi realmente manipulada por Tereza. Ela está como seu pai, descansando no outro quarto. Martins chegou aqui ontem. Eles parecem realmente preocupados com você. E, acredito que isso seja tudo. — Dante fica em silêncio.

É incrível como ainda não consigo respirar. Eu não sou uma assassina, mas ainda assim não consigo sentir nenhum alívio. Hugo e Valentina. Como posso sobreviver a isso?

Aparentemente chorando.

Então eu choro. Dante continua segurando a minha mão. E eu choro.

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Levo algumas horas para me acalmar. Nesse tempo Laura e Martins aparecem. Trocamos algumas palavras, mas eles nos deixam quando percebem minha perturbação. Não consigo balancear a alegria de saber que as crianças estão bem e o desespero de perder dois amigos.

Mais algum tempo se passa. Consigo certo controle sobre minhas emoções. Ainda estou profundamente triste, mas já consigo pensar com mais clareza.

— O que vai acontecer agora? — pergunto a Dante.

— Vamos esperar que Tereza seja capturada e pague por tudo. Mas, podemos ir para Vitae. Ou podemos ficar aqui. Vai levar algum tempo para superarmos o que aconteceu, mas não precisamos ter pressa. — presto atenção no que ele diz nas entrelinhas.

— Não sei se posso fazer isso, Dante. Não sei se consigo ser feliz novamente. Esses últimos meses fizeram com que eu perdesse qualquer esperança de ter uma vida estável, que faça sentindo. — eu amaria conhecê-lo melhor. Mas, não sei se consigo. Nem sei se é correto pensar nisso neste momento.

— Não precisamos decidir nada agora. Estou feliz por você estar viva. Antes de saber sobre as crianças, eu já tinha te perdoado, porque ver você morrendo... eu nunca senti um desespero tão grande em minha vida. Sei que esse não é o momento certo, mas antes que mais um problema nos alcance, quero que você saiba que estou apaixonado por você. Vai ser muito difícil reconstruir nossas vidas. Mas, não vou abrir mão disso. E se você puder ao menos me dizer um talvez, vou permanecer ao seu lado. Você merece ser feliz, e vou fazer o possível para que isso aconteça. Se não sentir o mesmo, vou respeitar isso, mas não me afaste achando que pelo que aconteceu você não pode seguir em frente. Os dois desejariam que você tivesse a melhor vida possível. — sei no meu coração que isso é verdade. Hugo e Valentina ficariam sinceramente chateados comigo se eu me entregasse à tristeza.

Então aperto levemente a mão de Dante. O beijo respondendo sua pergunta.

Vai ser muito difícil de agora em diante. São muitos relacionamentos que precisam ser reconstruídos.

Somente com o perdão genuíno e amor sincero conseguiremos seguir em frente. Apontar culpados é algo que jamais devemos fazer. Todas essas coisas ruins estão na conta de apenas uma pessoa e sei que Tereza logo pagará por tudo.

E vou me concentrar em conhecer meus pais e dá-los uma chance de serem parte da minha vida. Vou me concentrar em não deixar que meus problemas internos e inseguranças me levem a miséria.

Vou lutar para não me sentir culpada por amar este homem ao meu lado.

Com o tempo sei que poderemos fazer um ao outro feliz.

Não vou desperdiçar essa chance.

Quero que as estrelas observem que nossa luta não é em vão. E que o amor que nasce nessa nação está preparado para vencer guerras, ultrapassar rancores, perdoar ofensas e, acima de tudo, buscar a paz que ainda é o mais importante para nossa sobrevivência.

xxx

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