Contemplação

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A noite sorria-lhes, calorosa, ao exibir seu manto bordado de estrelas. Nunca vira tantas no céu, concluíra Lupin. Seus olhos cor de âmbar miravam, embevecidos, a imensidão tão inalcançável.

— E veja aquelas lá, Moony. — sussurrou Sirius, alegre, enquanto apontava duas estrelas, maiores que todas as outras. Lupin achou um gesto desnecessário, pois as localizara de imediato tamanho era seu brilho.

Debruçados sobre o parapeito da janela da Sala Comunal, os dois grifinórios observavam a chuva torrencial de estrelas que despontava no céu.

Sirius e Lupin ficaram acordados até tarde estudando para os N.I.E.Ms, cujos testes começariam em apenas dois dias. Na realidade, Lupin oferecera-se para ajudar o amigo, que estava com algumas dúvidas em Poções. No fim, todos os outros alunos já dormiam placidamente em suas camas. Ao notarem o absorto silêncio e virem as chamas da lareira tremularem tímidas a sua frente, Sirius notou a bela constelação formando-se na noite, e os dois correram para vê-la.

Uma brisa um tanto gélida percorreu os corpos e cabelos de ambos os garotos, mas nenhum deles pareceu se importar muito. De soslaio, Lupin quis observar os olhos cinzentos do outro, e viu que eles também brilhavam.

E então seus olhares se cruzaram.

Houve um silêncio abrupto, e os dois viraram a cabeça quase que instantaneamente. Seus rostos coravam à medida em que pensavam com ainda mais insistência sobre o que acabara de acontecer. Para Lupin, sempre o mais tímido, não conseguia parar de fazer a ponta de suas orelhas arderem tal era a vergonha que sentia. Olharia de novo? Não sabia ao certo. Mas faltavam poucas semanas para terminar Hogwarts, e não queria perder a oportunidade.

Sirius parecia ter pensado a mesma coisa, pois logo pôs sua mão fria sobre a de Lupin, que descansava preguiçosamente sobre o parapeito. Ele o encarou num sobressalto, sentindo um formigamento percorrer toda a sua espinha.

— Eu... Bem... — começou Sirius, que parecia ter desaprendido a falar. Seus lábios ficaram secos, e a voz saía trêmula. — Escute... Hã...

Recuperado do susto, Lupin esboçou um sorriso tenro.

— Não precisa dizer mais nada.

E mais uma brisa os acolheu.

o~O~o

Os olhos cinzentos e nebulosos de Sirius Black exclamavam uma dúbia exaltação. Suas íris percorriam as tantas cômicas calúnias escritas em mais uma edição de O Pasquim, enquanto um cigarro descansava entre seus dedos calejados e frios.

Após reler pela terceira vez seguida a meia verdade escrita no artigo sobre Cornelius Fudge, enfim ficara entediado. Não conseguia dormir, pensando em seu afilhado, Harry, que à esta altura já dormia em sua confortável cama no dormitório de Hogwarts... Ou assim esperava.

Levou o fumo à boca e inspirou a nicotina amarga, mas que era tão doce à sua existência tão sombria. Cansado, mirou o fogo bruxuleante dançar em meio às toras acumuladas na empoeirada lareira da sala. Suspirou pesadamente, a fumaça do cigarro esvaindo-se de seus lábios num sopro vazio.

— Mundungo trouxe para mim ontem — Uma voz ecoou no cômodo. Seus passos rangiam sobre a desgastada madeira do piso. Em poucos minutos, a figura alta de Remus Lupin apareceu, carregando consigo em uma das mãos uma garrafa com um grande rótulo escrito Uísque de Fogo - diretamente das Serras de Ogden e na outra duas taças de vidro. — Tive de pagar vinte galeões por três garrafas. Essa é a última e estou compartilhando-a com você, então acho bom aproveitar.

Lágrimas da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora