Lisboa, 15 de dezembro de 1855
Meu amor,
Há já muito tempo que te queria escrever mas as circunstâncias não o permitiram. A minha vida tornou-se muito agreste desde que deixei a província. Não consigo segurar um emprego durante muito tempo, a minha casa não tem as mínimas condições e o meu ordenado mal chega para eu me sustentar.
Mas, no meio de todas estas tormentas, o meu suporte és tu. É a tua lembrança que mantém viva em mim a vontade de lutar para ser melhor e para tentar sair desta miséria.
Posso não te ver, mas sinto a chama do teu amor no meu coração, que me aquece nas noites gélidas e me guia no meio da escuridão.
Quando me apetece desistir, imagina a tua voz a pedir-me que não o faço e logo recuo.
Sou apologista da ideia de que a saudade alimenta o amor, mas sei que custa muito estar logo da pessoa que se ama para alimentar esse amor.
Sinto falta do teu sorriso, da tua voz, de beijar esses teus lábios carnudos, de me perdeu nessas tuas definidas curvas.
Sei que fui inconsciente em vir para Lisboa sem ter emprego nem morada fixa e, por isso, peço desculpa por te ter abandonada devido à minha inconsciência e incontrolável impulsividade.
Mas, aqui e agora, prometo-te que ,o mais tardar possível, irei ter contigo, meu amor, para recuperarmos o tempo perdido e, juntos, construirmos a nossa vida, tendo como base a confiança mútua, a fidelidade e , acima de tudo, a amor que nos une.
Beijos apaixonados do sempre teu
Henrique Vaz