Cap. 43: Sob As Árvores

7.1K 933 136
                                    

Eu tentava me lembrar do momento exato em que Rubi passara a aparecer menos. A partir de quando ela diminuira a frequência de nossas conversas. Ou mesmo a hora em que limitara as idas à Academia.

E só agora, Ônix me dissera que o motivo era uma suspeita dor no peito.

Totalmente preocupada, apoiei meu queixo no ombro rígido de Ônix, segurando seus dedos com mais força. Ele mantinha minha mão em seu colo, evitando que me afastasse um milímetro sequer no banco do carro. Se eu já estava ficando aflita, então ele estava desesperado.

Ninguém sequer nos encarou, todos distraídos demais com seus próprios sussurros. Meena não estava presente, tendo ficado na Sociedade com Rubi.

Suspirei, sentindo o perfume e a maciez das roupas do artista. Ainda faltava um pouco para chegarmos, e eu senti que se soltasse Ônix ele desmontaria.

×××

Saltamos do carro e corremos para dentro, sem nos importarmos com os pulmões ardendo pelo choque de velocidade. Ônix praticamente voou para cima, subindo as passarelas e ignorando a regra que o proibia de entrar no corredor feminino.

Mal bateu à porta de Rubi, e já foi girando a maçaneta, quase batendo o rosto na madeira.

- Está trancada! - grunhiu, girando-a novamente - Quem fez isso?!

Imediatamente, uma sombra que aguardava logo ao lado se movimentou, fazendo-me arquejar.

- Pare com isso! - Meena exclamou, arrancando Ônix da entrada - Ela está dormindo! Precisa descansar!

O artista trincou os dentes, retesando-se.

- Ela está bem?! O que houve?! - perguntou, recusando-se a tirar o pé dali.

Meena suspirou, percebendo que precisaria ter paciência.

- Foi só a dor no peito. A enfermeira examinou-a, e disse que é por causa da arritmia mesmo. Receitou mais alguns remédios, e pediu que repousasse o máximo possível para se acalmar. - apontou o dedo para o peito de Ônix, acusadora -  Foi um sacrifício mantê-la deitada, tanto que precisei da ajuda de Bianca. Se ela acordar agora, não vai querer voltar a dormir.

O silêncio se instalou.

Nem sequer um resquício da tensão nos ombros do garoto relaxou, cujo qual não sossegaria até poder conversar com a irmã. Porém, ele se afastou da maçaneta, sem mais protestos.

- Tudo bem. - respirou fundo, murmurando - mas me chame assim que ela acordar.

Meena assentiu rapidamente, empurrando-nos para fora.

- Sumam daqui. Juro que vou correndo quando ela se sentir melhor. - antes que Ônix retrucasse, ela continuou - e fui eu quem teve aulas com a enfermeira da Sociedade. Pode deixar que sei dizer quando o momento oportuno chegar.

E chutou-nos para fora do corredor, retornando para o escuro.

- Droga.

×××

Caminhamos lentamente pela grama bem aparada do pátio, atrás da Sociedade. Eu quase precisara arrastar Ônix para o jardim.

O lugar, apesar das flores rigidamente organizadas e enfileiradas, sempre estava vazio, como o coração dos próprios donos. Posicionei-me atrás dele, empurrando-o toda a vez em que queria parar e olhar para trás.

- Ficar contando os segundos não vai fazê-la acordar mais rápido, Ônni - falei, tocando seu ombro de leve.

Ele me encarou e, mesmo preocupado, sorriu, mostrando os dentes brancos.

Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora