vamos dar graças (à ação)

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O jantar correu tranquilo e divertido. Maite pode matar as saudades que sentia dos pais. Ainda que a ansiedade crescia dentro de si por ter que contar algo não tão bonito de sua vida, conseguia se divertir com as velhas piadas de seu pai e o modo gracioso que sua mãe tinha de chamar a atenção do marido. 

"E Christopher, deu notícias?" Maite perguntou, querendo saber do paradeiro do irmão mais velho. 

"Sabe que seu irmão gosta da liberdade que a Austrália dá. Liga quando acha que tem que ligar." O pai respondeu, antes de beber um pouco do vinho que havia trazido.

"John, sabe que não é bem assim." Grace repreendeu. "Christopher está passando o dia de graças com sua namorada"

"Qual delas, mamãe?" Se interessou Maite, já sabendo da fama do irmão.

"Ah, essa última que conversou conosco nos últimos meses pelo skype, a Ana, Analy."

"Anahí" Maite corrigiu, se lembrando da mulher de cabelos cor de mel e corpo de modelo que havia aparecido no fundo de algumas vídeo chamadas. "Ela me parece simpática."

"Sim, ela é. E faz seu irmão rir, espero que eles deem certo." Desejou a mãe. "Christopher disse que da próxima vez que vier nos visitar, a trará junto."

"Uau, vamos finalmente conhecer uma namorada dele! Desde aquela britânica...Emma?" Os pais assentiram, se recordando do término que parecia um drama de novela. "Desde que terminaram, ele não engatou mais nenhum romance decente."

"Bem, Emma realmente marcou um número em Christopher, mas agora ele está mais velho e mais inteligente, acredito que Anahí é importante para ele." Maite concordou, dando um sorriso. 

Sentia falta do irmão. Ele havia ido morar na Austrália há cinco anos para fazer um curso de especialização em administração de rede de restaurantes de fast food, mas se apaixonou por cafés e acabou abrindo uma cafeteria. Agora ele estudava abrir uma franquia. Eles eram próximos quando moravam no mesmo teto, mas acabaram se afastando um pouco pela distancia, mas sempre que podiam ou que precisavam, um ligava para o outro e se atualizavam do que se passava do outro lado do globo. 

Após a sobremesa, eles foram para o sofá da pequena sala de estar de Maite, onde ficaram conversando mais um pouco sobre o tempo que passaram longe. Maite achou que era hora de contar, finalmente, sobre o verdadeiro motivo pelo fim do relacionamento com Robert e o que se desenvolveu após isso. 

O clima ficou pesado assim que Maite proferiu as palavras que sabia que machucaria os pais. Grace tinha os olhos lacrimejados e o pai parecia paralisado, tentando assimilar o que ouvia. 


"Mas por quê não nos ligou? Por quê passou por isso sozinha?" A mãe quis saber.

"Eu tinha vergonha, vergonha do que pensariam de mim e me vissem diferente." Contou a filha, com a voz embargada. 

"Que bobagem, nós poderíamos ter ajudado, vindo ficar com você. Não precisava ficar sozinha"

"Eu sei, sei disso agora, mas na época  não conseguia enxergar isso e sinto muito. Sinto muito por não ter dito nada antes."

"Aquele desgraçado sumiu da sua vida?"

"Robert?" O pai assentiu. "Nos falamos raras vezes depois do que aconteceu. Ele pediu perdão e queria voltar, mas eu rejeitei"

"E fez muito bem." Grace aprovou. "Ainda não acredito que não nos disse nada, nos deixou cegos em meio à tempestade que acontecia com você, se ao menos soubéssemos..." Maite pegou a mão da mãe que estava sobre a perna dela e apertou entre as suas. 

"Não precisa se sentir assim. mamãe, eu sei que errei e jamais farei isso outra vez." Maite deu um pequeno sorriso e limpou uma lágrima do rosto da mãe. "Por favor, não fiquem bravos comigo"

"Como poderíamos?" A mãe indagou, emocionada. "Era nosso dever perceber o que estava acontecendo naquelas semanas que você passou distante, não respondia nossas ligações nem mensagens. Somos os pais, oras."

"Ninguém tem culpa, mamãe, eu sei que deveria ter confiado mais, mas pelo meu medo e insegurança, me fechei, mas prometo que não vou repetir algo assim."

"Não acho bom você ficar sozinha aqui nesse lugar, acredito que sua amiga Blair irá entender se quiser voltar" Sugeriu o pai, preocupado com a solidão da filha. 

"Papai, estou bem aqui, acredite. Não me sinto só, sempre estou cercada de pessoas que me querem bem."

"Mas se você ficar sozinha, pode começar a ter ideias ruins e..."

"Não vou tentar outra vez, papai. Tenho ido à terapia e tem sido muito bom, sabe? Joseph me ajuda bastante." Grace deu um pequeno sorriso.

"E esse Joseph sabe que você mora sozinha?"

"Sabe" Maite respondeu. "E ele aprova. Ele sabe que é importante ter um espaço meu, para encontrar minha individualidade." John não pareceu muito convencido, mas sabia que perigo a filha não corria. 

"Agora me conte sobre essa terapia, você faz todos os dias?" Grace começou, querendo saber todos os detalhes da nova rotina da filha. "Dá para conciliar com o trabalho e tudo?"


Maite contou tudo o que havia para contar e o clima voltou a ficar ameno e agradável no pequeno apartamento dela. O dia virou noite e os três ainda estavam ali rindo e curtindo o dia especial. 

Ao final, John começou a reclamar de sono e Grace conseguiu retardar a ida, justificando que ia ajudar a filha na cozinha. 

"Mãe, não precisa, sério. Vocês devem estar cansados da viagem, melhor irem para o hotel."

"Não, imagina, faço questão de te ajudar, seu pai vai ficar bem enquanto assiste a tv." 

Maite acabou concordando e juntas foram guardar as sobras de comidas para o brunch do dia seguinte.

"Ah falei tanto de sua torta para Alfonso, que ele ficou morrendo de vontade de comer." Maite comentou, enquanto guardava a torta de maçã com calda de romã dentro da geladeira.

"E esse Alfonso é o rapaz que te salvou e te ajudou nesses últimos meses?"

"Sim, ele mesmo. Ele é tão bom para mim, você não acreditaria" 

"Acredito se você me diz" Grace notou o carinho com que a filha falava do rapaz. "E vocês são...amigos?"

"Amigos, mamãe" Maite disse, já percebendo onde a conversar iria parar.

"Com benefícios? É assim que vocês dizem, não é?" Grace viu a filha rir e ficar vermelha ao mesmo tempo.

"Não temos nada, pare já de imaginar coisas, dona Grace." Dispersou ela. A mãe não ficou satisfeita. 

"Certo, não vou mais falar nada. Só direi que gostaria de conhecer esse seu amigo. Ele estará para o brunch amanhã?" 

"Não sei, não deu certeza ainda, mas disse que queria muito" Maite respondeu. "Mas não vá criando ideias" Repreendeu a filha. Grace apenas riu. 


Não demorou muito depois para Grace e John irem finalmente descansar e irem para seu hotel. Maite terminou de organizar algumas coisas da cozinha e, antes que pudesse se sentar para descansar do longo dia, recebeu uma mensagem em seu celular que lhe fez sorrir. 

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