CAPÍTULO 42
Não fora uma das melhores semanas que se passaram após o diagnóstico do Arthur. Eu, minha mãe e ele fazíamos, insistentes, reuniões para que mudasse de ideia e fizesse logo essa cirurgia, mas não. Teimoso como uma mula, ele levou esse problema adiante. Carnaval era o seu foco. Combinamos de alugar uma chácara que ficava em Pirassununga – SP. O local é lindo, cânions, cachoeiras em várias partes, mas o melhor é o silêncio do nada.
- Você acha que ele se importa comigo? – perguntei ao Arthur que, pela primeira vez na vida, viera até a cobertura do prédio comigo. Coisa que eu estava acostumado a fazer com o Burro.
- Ele se importa com você! De cara é a pessoa que mais gosta de você e, cá entre nós, pra gostar de você o cara tem que ser guerreiro!
- Mas... mas se ele cansou dessa vez?
- Ele não cansou. Apenas está fazendo bem o uso da palavra "tempo". Meu Deus, eu nunca tinha visto como é lindo esse lugar. Já subi aqui, mas nunca admirei.
- Deveria vir quando viesse um daqueles temporais. Magnífico!
- Se quer me matar, deveria me jogar daqui de cima.
- Eu não preciso mais sujar minhas mãos, o câncer tá fazendo sozinho – disse numa das tentativas de animá-lo. Ele mesmo se auto fazia piadas sobre o seu câncer, mas não dessa vez, dessa vez ele apenas olhava longe as laranjeiras que contornavam o morro – me desculpe!
Ele, que estava admirando a frente, se virou com calma, esfregou minha cabeça e deu um sorriso frouxo.
- Sério mesmo, me desculpe!
Mas ele continuava em silêncio, compenetrado na paisagem, perdido em pensamentos.
- O que está pensando? – insisti mais uma vez.
- Nunca vim aqui ver essa vista!
- Por que fala assim?
- assim como?
- Melancolia. Como se tivesse moribundo e morrendo, você não está.
- Talvez eu saiba como é ser mãe agora!
- O que?
- No sentido figurado. Há algo em mim, crescendo e me matando...
- Benigno!
- Você sabe o que vem depois...
- Palpites!
- Mais câncer! – disse ele ainda não me olhando nos olhos.
- Achismos de Arthur Bortolozzo!
- Se liga Alan, você é o mais sensato aqui e sabe bem o que acontece!
- E o que não acontece! Você nem operou, nem fez exames conclusos. Tá até parecendo que quer isso!
- Lógico que quero. Oh, super... – fez ele um sinalzinho de jóia.
- Amanhã vamos viajar e você vai ficar bem!
- Fiz errado em querer o carnaval, deveria ter tirado logo essa porra!
- Mas agora já é carnaval!
- Biesso disse que pode ser qualquer dia!
- 05 dias a mais ou 05 dias a menos não vão alterar em nada seu exame! Já que esperamos até aqui, então vamos até o final.
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MEU CORPO É MUITO PESADO!!!
RomanceHistória de um garoto chamado Alan Bortolozzo, que vai descobrindo ao longo de sua vida, como se aceitar, como viver sendo homossexual, como ser aceito, como ter amigos que o apoiam, como ser recebido pela família e, o melhor, como é possível haver...