Capitulo 1- Alyssa

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Pisadas...
Pisadas...
Pisadas...

Ouço quando ele entra em um dos quartos e fecha a porta logo em seguida, e me encolho. Não da para ele saber onde eu estou, eu espero ... que ele não descubra onde estou. -suspiro- Meu armário é velho e de madeira, tudo na minha casa é velho, depois da segunda vez em que ele bateu na mamãe, corri para meu quarto, e me tranquei aqui. Conto de 10 até o 1, contar ao contrario me acalma, faz eu me concentrar em outra coisa que não seja nele entrando aqui e me encontrando.
10-ouço a porta abrir -, 9- por favor, Deus, nao deixa ele me encontrar-, 8- mais pisadas- ,7, 6- silêncio- , 5,- a porta do meu quarto abre - 4 , 3-Por favor, Não deixa ele me encontrar- ,2- mais pisadas ,1...

Bibibibibibibibi

Acordo sobressaltada, e percebo que foi o barulho do meu despertador que me acordou, fazia algum tempo que não tinha pesadelos com ele, ou com qualquer coisa relacionada a uma época em que eu prefiro esquecer. Deve ser por que hoje é dia doze. Todos os segundos do meu dia eu lembro dela e do seu sorriso, mas hoje é especial. Tento deixar o pesadelo para lá, levanto-me da cama que range um pouco, ela é um pouco velha -dou um sorriso, um pouco velha é elogio- e vou até a janela branca que tem no meu quarto perto do meu guarda roupa, olho para o céu, e o sol entra pela janela e aquece meu rosto, eu tomo isso como um bom sinal, esse dia tem que ser um dia feliz, ela merece isso. Vou para o banheiro tomo um banho, volto para o quarto visto uma calça social bege e uma blusa azul turquesa de alcinhas e saiu de casa com o pesamento de todos os dias:
"Todos os segundos do seu dia é importante. Mais um dia. Mais uma chance. Sorria."
Pego um táxi e peço para ele me deixar no centro da cidade, indo em direção a mais um dia com a Helena.
                              ~*~*~*~*~
-Você acordou no número um, de novo? -Helena me pergunta, enquanto estou deitada no divã na sala dela. Olhando para o teto e contanto do 10 ao 1 mentalmente, para me concentrar em sua pergunta e não no meu passado.

-Sim, -passo as mãos nos cabelos e franzo a testa- fazia um tempo que eu não tinha mais esses pesadelos.

-Hoje é o dia do aniversário dela, Alyssa.-comenta Helena, parecendo um pouco triste. -É normal lembrar mais daquela época em dias especiais, do que em datas sem importância, ela fez parte da sua vida. - Ela suspira.

Helena parece cansada hoje.

-Eu sei, é só que as lembranças voltaram com tudo, sabe? E dói demais pensar em qualquer coisa relacionada a Ele e ao passado.

-Imagino, mas você evoluiu muito, não deixe que esse pesadelo desencadeie em você sentimentos que te façam regredir, deixe o que passou no passado. Não deixe que essas lembranças a impeçam de ter a vida maravilhosa que você merece. - Ela passa as costas das mãos no rosto suado e levanta-se.
Realmente a Helena não está bem.

Então eu viro-me na direção dela. Helena é mais que uma terapeuta, ela é uma amiga.

-Você está bem? Está pálida.-Franzo a testa.

-Eu estou...- é nessa hora em que eu levanto em um pulo e vou até ela que desmaia nos meus braços.
Pego uma almofada, coloco-a em baixo da cabeça dela e corro até a Dani na recepção, onde peço em um grito.

-Liga para a ambulância, manda vim urgente !

Dani que está atendendo um telefonema em sua mesa, franze a testa confusa e pede um momento para a outra pessoa que está na linha com ela.

-O que houve? -pergunta-me.

-A Helena desmaiou, liga rápido!!

Quinze minutos depois a ambulância chega e eu a acompanho até o hospital.
Rezo para que ela esteja bem, e que seja apenas um mal estar.
                             *~*~*~*~*
Pego o celular no meu bolso para ligar pra Bianca, que está no estúdio me esperando para as duas sessões de fotos que temos nesta tarde, e percebo que tem duas ligações perdidas dela.

-A senhorita que odeia atrasos, está quarenta minutos atrasada. O que aconteceu?- Despeja ela sem deixar com que eu fale.

Bianca sempre falou muito, foi isso que fez com que nos tornassemos amigas quando cheguei no Guarujá, aos cinco anos e sem conseguir me expressar direito, ela falou por nós duas. Foi assim que viramos melhores amigas.

-Estava na consulta com a Helena quando ela desmaiou, estou no hospital esperando notícias, vou chegar aí o mais rápido que puder.

-Nossa! Pode ficar o tempo que precisar. E me dê notícias! Eu estou adiantando as coisas aqui, como a amiga maravilhosa que eu sou. Beijos!

E com isso ela desliga.

Ligo para Robert, do celular de Helena e o informo sobre tudo que aconteceu, ele fala que já está a caminho e eu desligo.

Decido ir a cantina do hospital,  já que não comi nada hoje. Peço um sanduíche e um suco de maracujá, sento-me em uma das mesinhas e tanto imaginar o que a Helena tem, ela sempre aparentou ser saudável, será que tem alguma coisa grave?
Decido que é melhor voltar para a porta do quarto onde ela está e esperar notícias.
Levanto-me e jogo as sobras no lixo.

Faz meia hora que levaram a Helena em uma maca na direção de uma sala a minha frente, roendo as unhas eu espero, até um médico sair pela mesma porta e vim até mim.

-Boa tarde! Você é parente dela?

-Olá! Não, ela é minha terapeuta, foi no meio da minha consulta que ela desmaiou. Eu quem a trouxe pra cá. Mas o marido dela já está a caminho.

E é nessa hora que o Robert entra no hospital, tropeçando nos próprios pés com a rapidez que vem até nós, o coitado parece que envelheceu uns dez anos.

-Oi, Alyssa! Como ela está? O que ela tem? É alguma coisa grave? Me fala, por favor! -de punhos cerrados ele fecha os olhos.

Parece tão vulnerável e cansado.

Já vi algumas vezes ele e a Helena juntos e sempre achei tão linda a relação deles, o amor entre eles é visível. E então eu rezo mais uma vez pra que ela esteja bem.

-O médico ia me falar agora como ela está. E então doutor, o que a Helena tem?

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