Olhando através da janela do carro, a jovem só via árvores de ambos os lados, e a frente uma longa e extensa pista. Perecia não ter fim como da outra vez que estivera a percorrer aquele mesmo caminho pouco tempo atrás.
Se ajeitou no banco. O que ouvia lhe deixava inteiramente desconfortável e fazia seus sentimentos aflorarem mais ainda. As lamentações que chegavam aos seus ouvidos vinha da pessoa ao seu lado, que ingenuamente e amargamente, contava sobre seu passado.
O caminho era longo, mas a ansiedade que a jovem sentia não era pela chegada e sim, pelo retorno.
Horas intensas se passam. O carro para. Os passageiros descem. O ambiente é melancólico, frio e sem graça. A jovem suspira e pensa " E lá vamos nós. De novo".
Enquanto passa informações para o homem a sua frente , alguém é forçado a trocar de roupa, obrigando a deixar sua liberdade na peça antes vestida. Não é permitido nada de ponta e o prendedor brilhante preso ao cabelo é tirado.
Tudo que é permitido são lágrimas, abraços, palavras de conforto e esperança, já desgastada. A melhora é o que todos esperam, menos a necessitada dela.
É dada a sentença. Últimos soluços, últimos olhares, últimos tatos.
O almejo pela cura pulsa forte no peito da jovem, mas esta não a pertence.
A jovem fica.
Ela é levada.
Horas intensas se passam. A jovem chega em sua casa, agora vazia como o interior de quem sozinha é deixada.
A jovem caminha até seu quarto sentindo a necessidade de colocar parte daquilo que a sufoca para fora e assim faz. Começa a escrever.
Escreve que é filha e ela, mãe.
Escreve que estava em casa e ela, internada.
Escreve que sente muito e ela, sente mais.
Finaliza a escrita ao mesmo tempo que uma lágrima escorre pelo seu rosto:
Desculpe mamãe por isso.
Você, é a guerreira.
Eu, sou incapaz.
Incapaz de tapar,
A sua esquizofrenia.
A jovem desce lentamente o dedo pelo celular e aperta com muita dor, em "publicar".