Capítulo 1

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Capa: YaayS0022
- Eu passei!- Disse para a minha mãe, assim que entrei em casa. Tinha acabado de buscar os resultados na escola. Aquele tinha sido meu último ano. Agora que eu havia me formado, poderia finalmente trabalhar, ou até mesmo, fazer a faculdade de pedagogia que eu tanto queria.

- Que coisa boa, Gabi!- Minha mãe respondeu. Ela sempre me chamou de Gabi. A propósito, meu nome é Maria Gabriela. Naquela época, morávamos nós duas, eu e minha mãe, Helena, em um sítio no interior. Não vá pensando que nós éramos as donas do sítio. Que é isso! Não éramos ricas. Minha mãe era só a caseira. Morávamos na casinha dos fundos. E, quando eu digo "casinha", no diminutivo, não é atoa. A casa era realmente pequena. Três cômodos e um banheiro. Eu era obrigada a dividir o quarto com a minha mãe. Não que eu me importasse muito. Sei que nenhuma garota com quase 18 anos gosta de dividir o quarto, ainda mais com os pais, mas, no meu caso, era diferente. Minha mãe era como uma amiga para mim. Não que ela não me corrigisse quando preciso. Pelo contrário, ela era até bem rígida de vez em quando. Mas ela me escutava e me dava os melhores conselhos. Provavelmente era por que ela havia sido mãe na adolescência, e eu sabia que ela não queria que acontecesse a mesma coisa comigo.

Você deve estar se perguntando: "E o seu pai?" E aqui está sua resposta: nunca conheci meu pai. Sempre fomos apenas eu e a minha mãe. Quando eu nasci, minha mãe tinha apenas 19 anos. Meu pai nunca a apoiou em nada, então eu nem sabia como ele se chamava. Minha mãe nunca falou nada sobre ele. Quando eu era criança, eu sempre perguntava a ela qualquer coisa sobre meu pai, mas, como ela sempre fugia do assunto, eu parei. Cheguei a conclusão de que minha mãe devia ter um bom motivo para não querer me contar, pois ela sempre foi a pessoa mais justa que conheço.

- E a melhor parte é que agora eu finalmente posso entrar para a faculdade, mamãe! - eu falei para ela, na maior empolgação.

-Ah... sobre isso, querida, temos que conversar - minha mãe respondeu, percebi na hora que havia alguma coisa errada.

- O que foi, mãe? - perguntei.

- Sinto muito, meu amor, mas eu não tenho condições de pagar a mensalidade da faculdade, e ainda tem o transporte e a refeição... Só aí já vai embora quase todo o meu salário. Eu sei que sempre foi seu sonho, minha flor, mas, infelizmente...

- Mas, mãe, você não tinha feito aquela poupança no banco exatamente para isso?

- Eu sei, querida, eu estava pesquisando os preços das mensalidades das faculdades mais próximas, mas, mesmo se você entrar na mais barata, o dinheiro que está na poupança não dá para pagar nem seis meses de mensalidade. Sinto muito, filha.

Fui para o quarto, me deitei na minha cama e comecei a chorar. Eu sonhava com aquilo desde a minha infância. Queria fazer faculdade para conseguir um bom emprego e ajudar minha mãe. Agora que o meu sonho já era, a única coisa que me restava era chorar. Teria que esperar, no mínimo, mais um ano até que minha mãe conseguisse juntar mais dinheiro. Fiquei deitada e chorando a manhã inteira. Só levantei quando a mamãe chamou para almoçar.

Fiquei o almoço inteiro pensativa e quase não comi. Estava pensando no que eu faria agora.

- Filha, você precisa comer. Não pode deixar de comer só porque está chateada.

Foi aí que tive a ideia perfeita, ideia essa que mudaria minha vida definitivamente.

- Mãe, você comprou o jornal de hoje?

- Comprei, por que? - Ela respondeu. Não tínhamos TV em casa, por isso, minha mãe comprava o jornal todos os dias. O único contato que tínhamos com uma televisão era na casa grande do sítio, a casa do patrão da minha mãe, isso quando ele estava de bom humor e nos deixava assistir.

- Ué, vou procurar um emprego. - falei.

- Oi? Procurar um emprego? Mas, filha, você só 17 anos... Não acha que era melhor esperar ficar maior de idade?

- Mãe, eu vou fazer 18 anos daqui a dois dias. E, se eu arranjar um emprego, irá resolver meu problema. Eu vou poder pagar minha própria faculdade e, se sobrar, ainda vou poder te ajudar. Por favor, mamãe, sei que você faz de tudo para me proteger, mas, não me proíba disso. Não sou um bebê. Sei me cuidar.

Minha mãe sorriu e disse:

- Está bem, querida. Você tem razão. Não posso te manter junto de mim para sempre. Pode procurar um emprego. Na realidade, tenho orgulho de você por querer se tornar independente.

Agradeci minha mãe pela compreensão. Procurei as oportunidades de emprego nos classificados e achei o que parecia ser o emprego perfeito:

"Procura-se empregada doméstica disposta a morar na casa dos patrões. Carteira assinada. Uma folga por semana. Deve saber cozinhar, lavar, passar e arrumar bem uma casa. Salário excelente."

Logo abaixo do anúncio, havia o telefone de contato. Fui até a casa dos patrões da minha mãe pedir para usar o telefone. Felizmente, estavam de bom humor e me deixaram fazer a ligação. Até aí, tudo estava OK. O que eu não sabia era que, a partir daquele telefonema, minha vida nunca mais seria a mesma.

(Quase) Perfeita - PAUSADAOnde histórias criam vida. Descubra agora