CAPÍTULO 26

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      Dois dias haviam se passado, dois dias muito curtos pra achar uma saída daquele pesadelo em que Andy me colocou. Eu não queria me submeter a qualquer coisa que viesse dela, mas eu não tinha escolha, se ela contasse para o Jimin o que eu me tornei na adolescência ele ia me odiar, e mesmo que eu esconda e diga que é mentira, Hiroshi está aqui, ele pode confirmar tudo.

     Ainda lembro daquela noite horrível na delegacia, minhas lágrimas eram quase infinitas e a tristeza dominava os olhos dos meus pais. Faz tempo que não toco nesse assunto horrível tudo vem a minha cabeça, é horrível demais lembrar, nem em sonho quero que Jimin saiba disso, não posso deixar que ele saiba.

     — Sayumi? — Escuto e olho para a porta do quarto — Eu vou colocar Kyung Mi na cama, tudo bem?

      Dei duas piscadas ainda pensando no assunto do passado, pensando como Jimin reagiria se soubesse, o que me faz cruzar os braços e abraçar a mim mesma com lágrimas nos olhos.

      — Aconteceu algo? — Jimin sai da porta e entra no quarto vindo até mim — Tem algo que precisa me dizer? Não gosta que eu venha na sua casa? É isso?

      Balanço a cabeça em sinal negativo freneticamente.

      — Sabe que pode me contar qualquer coisa, não é? — Ele me olha nos olhos e eu disfarço com um meio sorriso.

      — Sim, eu sei. — Olho seu cabelo escuro — Acho que vou tomar banho, Taehyung vai chegar tarde, ele saiu com a namorada nova e Kyung Mi deve dormir cedo pois amanhã tem aula.

      — Ok. Toma seu banho que eu ponho a pequena pra dormir.

      — Jimin... você, não quer mesmo contar agora para Kyung Mi? — Isso me deixava apreensiva, ela ainda não saber que o pai está ao lado dela.

      — Calma. — Ele sorri — Quero construir laços com ela primeiro, depois vai ser mais fácil.

      — Ah... — Olhei para baixo — Eu... vou pro banheiro.

      — E eu vou colocar aquela princesa na cama. — Ele abre um sorriso enorme e sai do quarto.

      Jimin estava feliz, feliz como uma criança que ganha um brinquedo novo, e Kyung Mi estava ainda mais feliz, como se soubesse que Jimin era seu pai. Esses dias tem sido ótimos para os dois, para mim também, mas com a ameaça de Andy na cabeça, eu quase não aproveitei os momentos que tivemos, saímos para todos os lugares e Jimin estava programando uma viagem para nós três, iríamos para a Orlando, ele sempre diz que lá é maravilhoso e Kyung Mi sempre fica com os olhos brilhantes quando ele fala. Pareciamos uma família de verdade, a família que deveriamos ser.

      Peguei a toalha e saí do quarto indo em direção ao corredor, o banheiro ficava no final dele. Passei pelo quarto de Kyung Mi e ouvi algo, uma voz doce, na verdade uma das vozes mais lindas que eu já ouvi. Fui até aquela porta e olhei pelo pequeno espaço que havia ali, Jimin estava sentado no banquinho rosa do quarto de Kyung Mi e ela estava na cama. Ele cantava uma melodia doce e envolvente, era algo bonito, algo que me fazia arrepiar.

      — Não acabou ainda, no meio de uma bela noite. Vou te confessar, com a lua como a nossa luz. — A voz dele era tão linda — Todas essas coisas, me diga. Se eu tiver apenas um dia, é possível.

      É pra minha mãe? — Escuto Kyung Mi dizer e volto minha atenção total.

      — Como... — Jimin está surpreso e ela o interrompe.

      — Você olha pra ela igual o tio Kookie olha pra tia Yoko, igual meu avô olha pro retrado da minha avó, e eu acho que igual meu pai olhava pra minha mãe.

      Jimin ficou em silêncio, olhando para a garotinha na cama, ela sorria, como se gostasse do que estava acontecendo ali.

      — Você acha que meu pai ainda ama a minha mãe? — Kyung Mi olha curiosa para ele e meu coração quase sai do peito.

      — Bom, eu acho que assim como o tio Kookie e a tia Yoko, eles tem um amor forte, um amor que vai além do que eles podem sentir.

      — Você fala como se sentisse o amor deles. — Ela sorri e ele fica sem jeito.

      — Acho que não vai me deixar ficar com a sua mãe já que quer tanto o seu pai com ela não é? — As costas de Jimin se curvam e ele junta as mãos.

      — Bom... Eu sei que deveria guardar minha mãe pra quando o meu pai voltar, mas, ela chorava toda noite antes de dormir. — Meu coração já não está mais no peito, está no chão e quebrado conforme o que ela fala — Ela nunca me deixou saber disso mas eu sempre vi como ela se sentia. Mesmo com o tio Tae, ela se sentia sozinha, ela precisava do verdadeiro amor dela.

      — Não acha que está lendo contos de fada demais? — Jimin meio que ri e ela o repreende o fazendo ficar quieto.

      — Não, eu não leio contos de fadas, eu vivo neles. E você é um principe, que deve casar com a princesa. — As lágrimas já estão prontas pra escorrer — Desde que você chegou ela não chora mais antes de dormir, ela não se sente sozinha, ela sorri como nunca sorriu, e é por isso que eu vou te deixar casar com a princesa.

      — Você... sabe muito pra sua idade.

      Jimin tem razão, Kyung Mi sabe muito pra uma garotinha de seis anos, ela sempre foi muito inteligente apesar de ser tão nova, ela deve ter puxado isso de Jimin, assim como os lábios carnudos. Kyung Mi era uma perfeita combinação minha e do Jimin, se nos colocassem os três lado a lado, num instante veriam as semelhanças, ela tinha os lábios carnudos de Jimin, olhos puxados como os dele mas grandes como os meus, nariz fino exatamente como o que tenho e pele bem pálida, isso ela não puxou de nenhum de nós dois, a cor dela era incrivelmente mais clara que a nossa.

      Enquanto observava o silêncio entre eles, lembrava do dia em que fui no aeroporto atrás de Jimin, aquilo nunca saiu da minha cabeça, como um terrível pesadelo que volta a atormentar sempre, eu odiava isso mas não podia fazer muita coisa, já que eu nunca iria poder voltar no passado e mudar as coisas ou simplesmente apagar tudo que aconteceu.

      — Mamãe? — Escuto e saio dos meus pensamentos. — Vem aqui.

      — Como... — Ela é tão inteligente a ponto de me ver através da porta? — Você...

      — Eu vi a sua sombra. — Tão espertinha — Então mamãe, você gosta do moço bonito?

      Eu não podia ver mais sabia que estava corada como uma garotinha, a questão é que, estar perto de Jimin me fazia sentir assim, uma garotinha inococente e sonhadora, como eu era quando o conheci, mas eu não era mais assim, inocência era o que mais me faltava.

      — Bom... Eu... Eu...

      — Hora de dormir mocinha. — Jimin disse me tirando daquela pergunta embaraçosa, mas ainda sim dando risadinhas pelo meu nervosismo.

      Ele colocou o cobertor até os ombros da garotinha e depositou um beijo em sua testa, dizendo em seguida boa noite com uma voz doce e suave. Saímos do quarto e ele fechou a porta, seguimos para a sala em silêncio, até chegarmos entre os dois sofás e ele segurar meu pulso e depositar um beijo rápido.

      — Já está pronta pra me dizer oque ta te deixando mal?

      Ele me conhecia demais pra não perceber que eu não estava bem.

      — Eu estou b...

      — Não, não está! — Ele me repreendeu apertando meu pulso e me fazendo ficar de frente para ele — Quero que me conte.

      Seria agora, eu teria que tomar a decisão, deixar Jimin para sempre ou contar sobre a Andy e acabar com uma amizade de anos, porque Andy teve que fazer isso? Por que ela não se contentou com uma simples amizade? O que eu devo fazer?

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