O tempo parece passar devagar.As roupas no varal, tão agitadas, parecem querer escapar.
As nuvens negras cobrem os raios dourados do sol que não tocam mais meu rosto.
A poeira entope minhas narinas.
O chão escuro, esse buraco negro onde estou.
Bolinhas de algodão caem do céu estrelado.
A luz que desceu desapareceu no piso.
Tudo desapareceu ao tocar no chão porém continuo aqui.
Aqui é o meu lugar, onde nasci e devo morrer.
Escapar não é o meu objetivo mais.
Permanecer é o meu dever.
Conviver com a realidade, sair dela é loucura.
Consigo sentir seus passos, não posso vê-los.
Me transformei em lembrança.
Um átomo, invisível aos seus olhos.
Porém é o meu propósito, me manter invisível faz bem a você.
Tudo se tornou vazio, não sinto, o som não se propaga.
Seu nome escrito nas paredes são apenas palavras como todas as outras.
Ouço meu corpo funcionando, sentada no canto.
No escuro vejo o escuro, o nada, mas vejo.
É brilhante, um brilhantes opaco.
Andei até a mesa redonda onde está o frasco.
O piano sem as teclas.
Aquela corda, agora, tem um só propósito.
Presa no meu tornozelo, ela me puxa pra perto, mas eu não quero sair daqui.
É pior estar aqui, dizem eles, mas eu nasci aqui e devo morrer aqui.
Esse céu é bonito pra mim, gosto de ver as estrelas nascendo e morrendo, assim como eu.
Tudo é inesperado porém tão previsível.