Capítulo 1 - Xiquinho

23 3 6
                                    

   "Mas professor, eu tenho uma dúvida" disse Samuel pela centésima vez naquela aula. Tomás pôs-lhe a mão à frente da boca, suavemente, para o impedir de falar mais. Ao ver esta intimidade entre os dois rapazes, Josefa ficou com ciúmes. Ela queria estar no lugar de Samuel: com os braços de Tomás à sua volta, a olharem-se nos olhos sem terem que dizer nada, pois sabem o que ambos querem. Neste caso, Tomás só quer que Samuel se cale, mas Josefa e os seus ciúmes não se importam. Samuel repara que Josefa está a olhar fixamente para eles, e pisca-lhe o olho, dizendo"Não te preocupes, nós temos uma relação aberta". Tomás olha para Josefa e sorri-lhe, fazendo-a derreter no lugar. "Cala-te Samuel" disse Josefa enquanto corava.

   "Estou a ver que vou ter que mudar o menino Tomás de sítio" disse o professor. O coração de Josefa encheu-se de esperança - que se lixe a Carolina, ela só quer estar perto do cabelo fabuloso do Tomás Pinto.  "Vais ter que trocar de lugar com o Tomás, Carolina. A Josefa será capaz de o controlar" dizendo isto, o professor piscou o olho a Josefa.

   Ao sentar-se no seu novo lugar, Tomás estendeu a mão a Josefa, e deu-lhe um vigoroso e entusiástico aperto de mão. Ela nem sentiu a vigorosidade, pois estava hipnotizada pelos seus lindos olhos castanhos, que lhe sorriam. Quando estava perto dele, Josefa reluzia como se estivesse coberta em óleo. Na realidade, não era óleo, mas sim suor, pois estava finalmente perto do seu sol.

   A aula passou-se sem incidentes. O professor ocasionalmente sorria na direcção do casal, como se soubesse de alguma coisa, eles tentavam disfarçar o facto de terem as mãos dadas. As suas cadeiras estavam encostadas e eles sentavam-se no meio, tão juntos que as suas proteínas estavam quase a fazer difusão facilitada umas das outras.


Contos de Josefa IIOnde histórias criam vida. Descubra agora