Um porre pelos problemas

7 0 0
                                    

Era sexta-feira , eu estava debruçada em uma mesa de bar, os olhos vermelhos e um copo na mão com a pior bebida que o garçom tinha a me oferecer. Felipe havia decidido me acompanhar por esta noite, pois percebeu durante a aula que não estava bem.

As mesas ao redor estavam todas ocupadas, música tocando e pessoas dançando. Entre desabafos e papos sem nexo, foram doses e mais doses. Ao decorrer da noite meu humor já era outro, a madrugada foi breve, o dia logo amanheceu e ainda me encontrava sentada no mesmo lugar, o garçom aproxima-se dizendo:

- Senhores, desculpa atrapalhar, mas
esse estabelecimento irá fechar agora.

Mesmo sem nenhuma condição tento me levantar e quase caiu ao chão. Imediatamente, Felipe me ajuda. Guiando pelas ruas da cidade até chegar na portaria do meu prédio, despeço dele com um beijo em seu rosto e sigo em direção ao portão de entrada, vou para o elevador... Andar 9, apartamento 235.

Abro a porta com um pouco de dificuldade, e caminho direto para o banheiro, tomo um banho demorado e deito na minha cama e rezo para que tudo renova-se quando acordar... Passo sábado e domingo inteiro estudando, fazendo trabalhos e outras coisas da faculdade. Quando percebo já é hora de dormir, deito, pego um livro e leio até pegar no sono.

Acordo, me levanto, tomo um café extra forte para tentar melhorar a ressaca de sexta-feira. O relógio marca 07h da manhã. E hoje será a minha entrevista de emprego como estagiária de Jornalismo.

Pelas ruas de Londrina sigo em direção à editora. Estaciono o carro e observo o imenso arranha-céu na minha frente. Entro na recepção do edifício e sou atendida por uma educada recepcionista que pergunta os meus dados, me direcionando até a sala de espera localizada no décimo nono andar. Lá estava outras pessoas aguardando pela entrevista também. Minhas pernas estavam trêmulas, o suor levemente escorrendo pelo meu rosto e nas minhas mãos; medo e ansiedade tomavam conta de todo o meu corpo.

A porta da sala abre-se e um homem muito elegante chama pelo meu nome. Nervosa, ando até ele. Ao adentrar o escritório, observo o ambiente muito bem decorado, com vista de boa parte da cidade. Ele pede para me sentar, e o obedeço.

-Meu nome é George Miller, sou presidente da editora Abril a 5 anos. Esta empresa atua a 15 anos, e é uma referência por todo país. Você realmente sabe a importância de trabalhar em uma empresa como esta e do cargo que irá exercer?

- Sim, estudei sobre a empresa, o perfil dela. Acompanho os trabalhos executados aqui.

- Analisei o seu currículo, você está no último ano de Jornalismo na USP, fluente em Inglês, Francês, Espanhol e Alemão, frequentou ótimas escolas. Porém, a concorrência para esta vaga está grande, existem candidato altamente preparados, uns com mestrado inclusive. Qual seu diferencial e por que sente-se qualificada para tal cargo?

Naquele momento, o desespero torna-se incontrolável. Não tinha a menor idéia sobre o que responder para aquelas perguntas. Não sabia ao menos se realmente estava preparada para trabalhar ali, mas precisava daquela oportunidade.

-Senhor Miller, tenho ciência da concorrência para esta vaga, porém venho me dedicando ao máximo, buscando novos conhecimentos e sei que serei capaz para dar conta de tudo que for solicitado, preciso desta oportunidade.

-Muito obrigado, senhorita Lorena. Analisarei novamente os currículos, irei estudar todos os perfis. Nesta semana, receberá uma ligação ou email com o parecer sobre esta entrevista.

George acompanha-me até a porta onde também chama a próxima pessoa. Sigo para o elevador, passando novamente pela recepção. Já no carro, dirigo até minha casa, fazendo o mesmo percurso de sempre, porém decepcionada desta vez. Deitada no sofá, telefono para minha mãe:

-Oi filha, como foi sua entrevista? Aposto que a vaga já é sua né.- diz toda animada.

-Não, mãe. Foi terrível, aposto que serei a última colocada.- digo em pranto.

-Calma, não deve ter sido tão ruim assim, conhecendo a filha que tenho, você está exagerando. Acredito no seu potencial. Não é para ficar assim. Hoje iremos jantar naquele restaurante japonês que você adora. Arruma-se ás 20h passo aí para te pegar.

-Tá bom, mãe. Bjs!

...

Continuou deitada no sofá. Chegando perto da hora de encontrar minha mãe, começo me arrumar. Blusa preta, calça jeans de lavagem clara, all star branco e uma jaqueta jeans mais escura que a calça. Meus cabelos castanhos estavam lisos e levemente ondulado nas pontas. Decidi não passar maquiagem, apenas um batom vinho que havia ganhado da minha mãe, pois gostava do contraste que causava em minha pele morena e olhos mel.
Desci para espera-la na portaria, depois de alguns minutos de espera, seu carro para em frente ao prédio. Entro no carro e comprimento minha mãe, Luciana. Que estava muito bonita por sinal, sua pele levemente morena com algumas linhas de expressão, cabelos castanhos na altura do ombro, e vestia um vestido que marcava um pouco as curvas de seu corpo demonstrando que aos 55 anos não aparenta a idade que tinha.

O restaurante localizado no centro da cidade, muito bem frequentado, e conhecido pelas barcas de vários tipos e molhos. Dentro do local havia vários detalhes em vermelho e dourado que chamava atenção, leques e quadro de gueixas compõe a decoração.
Na recepção, minha mãe informa a recepcionista sobre reserva para duas pessoas que fez pela manhã e somos levadas até a mesa.
O garçom aproxima-se e digo o nosso pedido de sempre:
-Dois temaki de salmão, sushis e sashimi. Para beber, duas Coca Cola.

-Obrigada.- e o garçom retira-se.

Fazia tempo em que não conversava com a minha mãe, não a vi desde o casamento do Pedro, meu irmão mais velho. Enquanto a refeição não estava pronta, aproveitamos para colocar os assuntos em dia. Acabei descobrindo que Pedro e Lisa estão esperando seu primeiro filho, e minha mãe que está divorciada a 3 anos, havia conhecido um homem por quem está bastante interessada. Fiquei surpresa com estas notícias.

- E a entrevista, filha? Agora que estava um pouco mais calma, conte-me sobre como foi.

Antes mesmo de responde-la, o garçom aproxima-se com um barca toda enfeitada.
-Com licença e bom apetite, qualquer coisa só chamar.

-Então, mãe. Não sei o que pensar sobre a entrevista, fiz o melhor, mas tinha uns candidatos muito mais experientes, não sei se consegui. O senhor George Miller disse que está semana, receberei uma ligação, estou no aguarde!- respondo-a.
- Vai dar tudo certo, filha. No final de semana, me faça uma visita.
-Tá bom...

Tudo fica em silêncio e ambas comem até estarem satisfeitas.

...

Retorno para casa e logo deito pra dormir. Ansiosa e ao menos tempo sem esperança, penso sobre a entrevista novamente. Será que realmente irão ligar?

Outro euOnde histórias criam vida. Descubra agora