Rei Tempo

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Sou aquele que sempre existiu

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Sou aquele que sempre existiu. Talvez você não consiga compreender o sentido de infinito, mas é a primeira verdade que deverá saber sobre mim. Pode ser que eu não seja o único, mas antes de tudo vir à existência, antes de qualquer estrela começar a brilhar, lá eu estava. Eu apenas esperava.

E esperei.

Até que eu finalmente vi o primeiro feixe de luz e ele era belo. A cada nova manifestação de existência me sentia mais maravilhado. Luz, planetas, estrelas. O universo em sua vastidão. Não sabia como havia começado, porém, não me importei. Entretanto, não foi apenas a magnitude do seu esplendor que me fez arfar em alegria. Não. Meus sentimentos eram guiados por uma certeza.

Eu seria o rei.

Toda aquela imensidão me pertenceria, pois seria o responsável pela sua preservação a partir dali. Deveria dizer o quanto viveriam e quando morreriam. Onde deveriam ficar e até onde chegar. E apreciei cada instante. Cada segundo, cada minuto. Estendi a eles os meus longos braços, concedendo-lhes eras e eras. Vivíamos como uma grande família. Pacífica e harmoniosa. E eu os amava.

Foi então que eles surgiram. Timidamente, um a um tomaram conta de uma de minhas posses. Num piscar de olhos, a Terra estava cheia deles. Humanos. Tão pequenos e encantadores. Mas, apesar disso, eram complexos, repletos de detalhes. Como se houvesse uma mente geniosa por trás de seu projeto. Uma mente tão extraordinária quanta a minha. Eu apenas não saberia dizer quem, pois fui incapaz de vê-lo com meus próprios olhos.

No entanto, lá estavam eles. Pessoas e mais pessoas. E assim que as conheci, tive a plena certeza de que eram a maior manifestação da perfeição. Me apaixonei por eles. Por cada um deles. Quis dar-lhes a eternidade. Uma longa vida para que pudessem usufruí-la a seu bel-prazer. Os dias se passavam conforme minhas ordens, e a humanidade evoluía. E quanto mais inteligentes se tornavam, mais fascinado eu me encontrava.

O meu amor era tão grande, maior do que a qualquer outros seres. E talvez tenha sido por essa razão que senti meu coração se despedaçar quando, ao invés de usaram seus dedos para trabalhar dignamente, os usaram para a violência. Quando trocaram atos de bondade, por injustiças, passando a oprimir seus semelhantes.

Todavia, o que mais me feriu foi o desrespeito que manifestaram por minhas leis. Eu os havia concedido a vida. E eu seria o único a poder tirá-la. Eu! Mas, presunçosamente, desconsideraram isso e com as próprias mãos arrancaram a vida uns do outros.

Eram brutais, impiedosos, frios. Todo o amor e bondade que tinham no início, esvaiu-se como uma fraca neblina. Não eram mais os mesmos.

Como um pai justo, os puni. Tirei-lhes a imortalidade, eles não a mereciam. Não enquanto a maldade perdurasse. Ainda assim, continuei a amá-los. Então não tirei deles todos os dias, eu os diminuí. Quem sabe não voltassem a ser como eram.

Hoje, séculos e séculos após, minha paciência perdura. Espero por sua redenção. Tenho a esperança de que, um dia, os humanos voltem a respeitar a vida. Quando esse dia chegar, eu estarei lá – como sempre estive – e terei o prazer de recompensá-los com a vida eterna.

Pois vida é tempo, histórias são tempo, amores são tempo. Tudo é tempo e sem tempo nada há. Sobre mim, saiba algo mais: sempre estarei lá, mesmo que não perceba. Mesmo que queira não perceber. E, enquanto você existir, eu também existirei. Porém, assim que você se for, eu ficarei e manterei suas lembranças guardadas na eternidade. Pois eu sou o Tempo.

O Rei Tempo.


END

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⏰ Última atualização: Mar 30, 2017 ⏰

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