Capítulo 45

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Já fazia quase duas semanas que Katniss e Annie não se falavam nem por mensagens, e isso havia sido uma escolha da minha namorada, que tinha bloqueado a irmã em todas as redes sociais, e continuava refugiada em minha casa, que ainda era um ótimo esconderijo.

Desde que ela e a irmã brigaram, Katniss passou a focar em outras coisas. Ela acompanhava todos os treinos de basquete, trabalhava com planejamentos de aulas, mesmo que não fosse necessário, havia arranjado novos livros para colocar sua leitura em dia, e algumas vezes, eu a via concentrada em seu notebook, que raramente era usado até então.

Katniss sempre procurava um lugar confortável para sentar, e começava a digitar sem parar, até que, em algum momento, eu tirava seu foco, o que ela nunca reclamava.

Assim que meu aniversário começou a se aproximar, ela deixou algumas dessas coisas de lado, e passou a focar em minha festa, que seria feita no sábado mais próximo do dia sete de março. Katniss passou a sair depois da aula, e voltava quase a noite, sempre com um sorriso, que mesmo parecendo sincero, eu reconhecia como um esforço para me mostrar que estava tudo bem.

Contudo, de madrugada, era como se todo esse esforço simplesmente sumisse. Como se o cansaço a alcançasse, e Katniss não conseguisse mais fingir. Ela continuava com dificuldade para dormir – algo que começou desde que Manoela havia aparecido –, e apesar de eu sempre dormir rapidamente, acordava no meio da noite, sentindo falta de seu corpo ao meu lado.

Normalmente, eu a encontrava sentada na poltrona que ficava ao lado da janela do quarto. Katniss sempre estava abraçando suas pernas, com seu queixo repousado sobre um de seus joelhos – coisa que ela fazia apenas quando estava triste –, enquanto seus olhos ficavam atentos na rua vazia.

Sempre que eu acordava e a via naquele estado, eu levantava, e me exprimia ao lado dela, até que Katniss não aguentasse mais aquele aperto e acabava se levantando para sentar em meu colo. Ela simplesmente se encolhia contra meu corpo, e escondia seu rosto em meu pescoço. Não havia conversa, não havia beijos. Era apenas eu, em uma tentativa de juntar novamente os pedaços de seu frágil coração. E era assim que ela acabava realmente dormindo um pouco.

Eu ainda não fazia ideia do verdadeiro motivo da briga entre ela e Annie, e mesmo que eu sentisse uma grande necessidade de saber o que exatamente havia machucado tanto minha pequena, eu também sabia que ela não estava pronta para falar, por isso, eu não havia insistido em saber. Eu apenas tentava deixa-la a vontade, para que ela soubesse que quando estivesse pronta para falarmos sobre o assunto, eu seria o melhor ouvinte do mundo.

Sábado chegou rapidamente, e Katniss caminhava pela sala desde que tomamos café da manhã, mandando mensagens em seu celular, parecendo concentrada demais, até que eu decidi finalmente me manifestar.

– Qual é a graça de comemorar um aniversário, depois dos vinte e cinco anos? – murmurei, enquanto Katniss se movia por minha sala.

Ela parou o que estava fazendo, e virou o rosto para me encarar no sofá.

– A graça é que eu estou planejando sua festa. E não é apenas a primeira vez que eu farei isso por você, mas por qualquer um. – minha pequena estreitou os olhos. – Não é o suficiente?

Acabei rindo baixo, e balancei a cabeça em afirmação.

– Tudo bem. – disse vencido. – É que não quero comemorar meus vinte e nove anos, Katniss. Estou ficando velho. – joguei a cabeça pra trás, deixando-a repousar no encosto do sofá.

– Você não tem nada de velho. – Katniss rebateu, fazendo-me olha-la. Ela havia franzido o cenho, e começou a se aproximar, colocando o celular sobre a mesa de centro. – E você me disse uma vez que se parecer velho, te deixava sexy, então ai sim você estava se saindo bem. – ela me lembrou, sentando-se de lado em minhas pernas.

O Sol em meio à tempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora