CAPÍTULO 27

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      — Eu sei que passei bastante tempo longe, e que é difícil pra você confiar em mim outra vez, porque eu te deixei aqui. — Eu podia ver a culpa que ele sentia emanando de seus olhos — Mas eu preciso de você Sayumi, e espero que me veja como alguém que te ama de novo.

      — Jimin... — Meus olhos estavam rasos, ele estava sendo tão sincero — Eu preciso contar algo.

      Mesmo que me doa lá no fundo, ou até mesmo que eu me arrependa depois de falar, eu tenho que contar para ele o que houve comigo no Japão, o que meus pais passaram por minha causa e o que eu tinha tanta vergonha.

      — Estou pronto pra ouvir. — Ele senta no sofá ainda segurando meu pulso.

      — Mas preciso que me prometa, que vai tentar não sentir nojo de mim. — Eu segurava as lágrimas como sempre acontecia.

      — Não importa o que tenha acontecido, eu nunca vou sentir nojo ou qualquer coisa ruim. Pelo menos, não de você.

      — Obrigada.

      Dei um meio sorriso e respirei fundo.

      — Eu tinha quatorze anos e ia pra escola sozinha já que a escola de Yoko era particular e a minha não, eu fazia um caminho vazio todos os dias, meus pais confiavam em mim para ir sozinha e voltar sozinha. — Eu nem havia começado a falar ainda e meus olhos já tinham lágrimas incontroláveis — Um dia, eu estava voltando da escola pelo mesmo caminho de sempre, mas dessa vez não foi como das outras, eu me sentia diferente, como se algo fosse acontecer, eu sentia que não deveria entrar na rua de sempre, mas mesmo assim eu entrei. Naquela maldita rua tinha alguém, um homem, eu apertei as alças da mochila e ajustei a saia tentando deixa-la maior, mas não adiantou muito, continuei meu caminho e então senti um aperto em meu pulso, era ele, o homem que estava naquela rua, a pior pessoa que já vi na minha vida.

      Nesse momento eu soluçava enquanto as lágrimas desciam no meu rosto, lembrar aquilo era demais pra mim, lembrar aquilo era como reviver e isso era o que eu menos queria em toda minha vida, até hoje ainda sinto o medo percorrer meu corpo.

      — Sayumi... — A voz de Jimin era de preocupação.

      — Não... tudo bem, eu comecei então tenho que terminar. — Continuei — Eu estava nervosa, com medo, eu era só uma adolescente idiota, estava em choque, então ele foi me puxando pelo pulso até um beco que havia naquela rua, eu não conseguia me mexer, estava congelada naquele lugar, até sentir o cheiro do álcool e começar a me debater para sair do aperto que o homem me dava, ele beijava meu pescoço e eu gritava por ajuda, ele parecia não estar se importando, ele estava calmo como se não fosse a primeira vez dele mexendo com garotas que não lhe pertenciam. Então ele me virou de costas em direção a parede e segurou com força minha cintura descendo minha saia até um certo ponto, a mão imunda dele me acariciou e então ouvi um barulho de garrafa é o seu aperto se desfez. Olhei para trás entre lágrimas e soluços, até ver um garoto, ele ajustou minha saia no lugar, segurou minha mão e me fez correr para fora daquele beco, ele tinha me ajudado a sair daquele lugar horrível, mas como seu pai era o chefe da segurança nacional, ele me levou para um lugar onde ficava a polícia, eles chamaram meus pais e tudo foi dito a eles. Desde então eu... não sou vista com respeito pelas pessoas que me conhecem no Japão, as pessoas se afastavam quando me viam e eu não tinha amigos por isso, era como se eu tivesse uma doença, meus pais ficaram tristes por bastante tempo, era difícil para eles... Eu me tornei a garota que foi tocada e ninguém mais queria a minha presença.

      Foi quando Jimin me puxou me fazendo sentar em seu colo e me abraçando por trás, ele estava quente, seu perfume era o mesmo de anos atrás, e eu sabia que ele podia sentir o meu sofrimento. Era horrível viver no Japão assim, como alguém que as pessoas rejeitam, eu só tinha Yoko, e sua família que era muito gentil com meus pais, mas mesmo com Yoko, eu me sentia um lixo, alguém que não merece viver, ou simplesmente não nasceu para isso.

      — Você não tem culpa. — Jimin disse.

      — Mas...

      — Não Sayumi! Você fala como se tivesse culpa, mas você não tem, você foi vítima de algo horrível, e seus pais deveriam ter ficado do seu lado. — Me impressionava a compreensão dele — Se achou que eu iria te julgar, estava errada, eu amo você e eu não quero que esconda mais nada de mim, ok?

      — O-Ok. — Abri um meio sorriso entre as lágrimas.

      — Quer me contar o que aconteceu depois? — Ele beijou meu ombro.

      Eu não queria contar, mas sabia que ele queria saber.

      — O homem foi preso. O pai do garoto o prendeu, porque o filho insistiu para que ele fosse encontrado e preso, se possível morto até.

      — E quem é esse garoto? Você ainda mantém contato com ele? Quero agradecer por ter sido alguém tão digno com você — Ele fala sorrindo.

      Talvez esse sorriso suma quando ele souber quem era esse garoto.

      — Quer mesmo saber? — Ergui uma sobrancelha.

      — Claro!

      — O filho do chefe da segurança nacional do Japão, é o Hiroshi, meu ex namorado, aquele que você queria dar um soco. — Viro o pescoço e olho para Jimin, seus olhos estão arregalados.

      — Então... é por isso que o protegeu? Por que ele já protegeu você de algo pior?

      — Hiroshi não só me protegeu, ele ficou do meu lado e impediu que eu fizesse algo horrível comigo mesma, enquanto todos me negavam um olhar se quer, ele segurava minhas mãos e me dava sorrisos.

      — Eu preciso ir. — Ele disse me colocando no sofá.

      — Mas eu ainda não acabei...

      — Eu sei. Ainda quer falar sobre a Andy, não é? — Meus olhos ficaram bem maiores, estava tão surpresa. — Eu conheço você muito bem, e também conheço a Andy, não sei como ela descobriu, mas ela vai pedir desculpas.

      — Jimin...

      — Preciso falar com alguém. Depois nos vemos. — Ele depositou um beijo em minha testa e saiu.

      Depois de refletir, percebi que de certa forma isso era uma mentira, por que eu escondi isso todo esse tempo, então eu estava mentindo, de novo. Ele fugiu de mim, talvez ele tenha mudado de ideia depois de saber que Hiroshi estava envolvido nessa história, o que eu faria agora? Como saber o que ele está pensando? Isso nunca acaba.

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