Gelada; é assim que eu me sinto. Meus dias estão sempre os mesmos, como se uma pessoa apertasse o botão de repetir toda vez que a noite cai e eu me perco nos sonhos, para começar tudo de novo em um ciclo infinito.
Estou sozinha, sem nada, sinto-me vazia. Meus amigos?! Todos se foram. Eles sempre se vão, não importa o quanto eu tente mantê-los perto, é inútil. Eu deveria já estar acostumada com isso. Acho que na minha vida, somente os meus pais me aturaram por tempo suficiente pra saber que eles realmente me amavam... Mas como os outros, eles também se foram. Maldito mundo! Maldita vida! Corro em direção ao único lugar que me faz sentir alguma coisa e o busco desesperadamente agora, para que essa dor, essa sensação de sufocamento acabe.
Aqui nesse lago, é o único lugar onde me sinto mais viva, ou talvez menos morta. Ficar à deriva, boiando e flutuando, como se eu simplesmente pudesse criar asas e voar... Mas então as grandes águas me abraçam e me ninam, para que eu possa descansar em seus braços. Por que deveria continuar com essa vida medíocre? Talvez eu ainda tenha esperanças de que um grande amor possa me livrar desses tormentos... Bobagem! Essas coisas só existem em livros e em filmes, são criadas para que você se apegue a essa ideia maluca de príncipe encantado! Estou farta de tudo e de todos. Me deixarei, enfim, consumir pela calmaria das ondas, pelo silêncio, pela beleza. Não quero mais boiar, não quero mais lutar para respirar... Seguro o fôlego e adentro nas profundezas do lago. Está tão silencioso aqui, não é de se estranhar, mas de se admirar. Meus pulmões ardem com a falta de oxigênio, mas aquilo não me incomoda. Respiro calmamente, deixando as águas adentrarem pelas narinas até encharcarem meus pulmões, sem desespero, sem medo, sem arrependimento. Afundando, afundando, afundando... Morrendo? Não. Eu nunca, em anos, havia me sentido tão viva. Tão livre.
