Capítulo 5

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Rá'as Mehkalab

Sentado à mesa, na mais suntuosa sala de Jantar do Palácio, acompanhado com alguns guardas Reais que não desgrudavam de vossa alteza nem por um segundo, estava Mehkalab em sua luta com o prato de comida. O guisado delicioso em seu prato estava quase intocado, devido as náuseas que a dor lacerante lhe causam. Mesmo assim se recusa a deixar o prato intacto, forçando seu próprio corpo a se alimentar contra a vontade.

Após ser derrotado por fim em sua labuta na mesa de jantar, o Faraó decidiu por ir deitar-se pois já não conseguia mais vencer a dor. Com apoio dos guardas, caminhou pelos corredores sentindo-se fraco e doente. Como se estivesse nos seus derradeiros momentos.

Quando se aproximava dos seus aposentos, um Guarda surgiu correndo pelo corredor chamando pelo Faraó. Mehkalab o atendeu de pronto, mesmo sentindo dores terríveis.

- Alteza. Foi nos informado que o Príncipe Mehkdrill está na cidade. – Mehkalab nunca sentiu tanta alegria em ouvir o nome de seu irmão – E vem com uma moça Osíris e um Rá gordo. – Descreveu.

- Pois meu irmão não anda com troça. Trate de manda-los para a sala de Jantar. Prepare comida, bebida, quartos para as visitas. Quero uma recepção memorável. – Ordenou com dificuldade.

- Sim majestade.

O Guarda saiu disparado para preparar a tal recepção, enquanto os outros guardas apenas ajudaram o Faraó a retornar de onde veio. A Sala de Jantar.

Mehkalab enquanto ia para a sala de jantar, não conseguia parar de pensar no quão perverso foi ao permitir que seu irmão pagasse pelos seus pecados naquele monastério. Ele se lembra muito bem de quando quase ocasionou uma guerra entre Anúbis e Rá por conta de uma brincadeira estupida. Trocou os documentos verdadeiros por falsos, apenas por que adoraria ver aquele tal de Iacapo morrendo de medo. Só que por conta disso seu pai Mehk teve problemas terríveis para resolver e quando a punição lhe veio, Mehkdrill assumiu a culpa, com a condição de que ele se arrependesse. Foi um ato bonito de irmão, pois ele sabia que Mehkalab era o herdeiro. Mas mesmo assim aceitar foi uma atitude digna de um covarde. Talvez Mehkdrill não esperasse que Mehkalab aceitasse. Por isso o Faraó agora padece além das dores no corpo, de uma dor no coração.

Quando chegou viu a mesa disposta com frutas para abrir a refeição, mas os convidados ainda não haviam chegado. Sendo assim sentou-se e aguardou ansioso. Queria conversar e falar sobre o prisioneiro secreto. Queria pedir perdão. Acima de tudo queria não ter que pedir para Mehkdrill assumir o trono até que estivesse melhor.

Mehkdrill adentrou na sala de jantar, acompanhado de Iomhi e Raabe. Estavam maltrapilhos e sujos. As agruras da estrada os atingiram pelo percurso, e banhos só tomaram em Torso. A Osíris um vislumbre para os olhos de Mehkalab. Encantado tentou até mesmo se levantar, mas a dor o impediu. Ao menos o requinte da sala poderia lhe dar alguns pontos. A sala era enorme, com desenhos nas paredes e quadros com tecnologia Toth, os quais tinham figuras de antigos Faraós montados em seus cavalos, cavalgando por grandes campos rumo ao sol. O que realmente chamava a atenção era o movimento real, como se estivessem assistindo a cena. Algo extraordinário, dito como magia. De qualquer forma do outro lado havia uma cristaleira estupenda cheia de taças brilhantes e porcelanas maravilhosas. A mesa com prataria não deixava o requinte diminuir. Raabe sentou-se à mesa rapidamente sem utilizar de etiqueta alguma. Cumprimentou a majestade com apenas um aceno de mão, o que está mais do que distante do que deveria ser feito. Iomhi reverenciou e pediu permissão para sentar-se à mesa. Mehkdrill por outro lado ficou parado olhando o irmão. Não esboçou nenhuma reação de fácil entendimento. Seus olhos o encaravam a tal ponto que chegava a dar medo. Mehkalab com esforço visível levantou-se da cadeira e se aproximou do irmão. Parando frente a frente com ele, os olhares se chocaram e a vergonha estampada no atual Faraó deixou até os convidados perplexos. Uma lagrima escorreu de seus olhos e com certeza era uma lagrima carregada de sentimentos. Iomhi não faz ideia do que seria de fato está lagrima, pois Mehkdrill nunca lhe contou se tinha ressentimentos pelo irmão ou não. A mão de Mehkdrill se levantou e tocou o ombro de seu irmão, em seguida puxando-o para si. Um abraço cheio de significados, com um aperto muito forte vindo de Mehkalab. Nenhuma palavra, apenas o gesto tocante. Talvez palavras prejudicassem o que os corações queriam dizer. Uma certeza ali existia, de que, os olhos como portão da alma revelaram arrependimento e perdão. Mehkdrill apenas manteve o olhar sereno, como se quisesse confortar com carinho. Soltaram-se do abraço e então quebraram o silencio.

As Cronicas do Príncipe Rá - Uma Historia do Universo de HadesOnde histórias criam vida. Descubra agora