☆Por: Rubi☆
Encarar o teto não poderia ser mais entediante. Fazia algumas horas que eu estava ali, fingindo dormir, apenas para que Meena e a enfermeira se tranquilizassem.
Deveria ter colocado algumas fotos no teto, pensei. A dor no peito há muito havia passado, e agora eu estava ali apenas divagando. Esperava que meu coração colaborasse para a próxima apresentação de dança, que seria em dois dias.
- Boa noite. - disse Zilá, a velha senhora que cuidava de mim e do meu irmão desde o momento em que entráramos na Sociedade - você anda mal novamente? Sarah estava desandando a falar sobre isso na cozinha.
Assenti, empurrando as cobertas grossas e me sentando.
- Eles todos acham que sou inválida. - respondi, afastando de mim o ar depressivo.
Zilá riu.
- Mal sabem eles da espertinha que você é. - comentou, mandando-me para o banheiro.
Foi minha vez de rir, assim que levantei da cama e alonguei os músculos cansados. Não havia dormido nada, apenas me virado de um lado para o outro.
- Não diria tanto... apenas que, bem, sou um pouco mais observadora que o normal. - respondi, indo lavar o rosto.
- Aham.
Assim que abri a porta do balcão, no banheiro, alcancei o remédio que me causara tantos pesadelos no início. Provavelmente aquilo estava piorando minha situação, mas... morrer não era minha maior preocupação. No momento, meu profundo terror baseava-se numa foto que guardava em cima da cômoda, longe dos olhos atentos de qualquer um.
Era apenas um pequeno retângulo de papel, meio borrado, mas que exibia exatamente o que mais eu fazia além de fotografar paisagens com minha câmera. Eu procurava pistas, informações, uma maneira de sempre estar à frente da Sociedade. Por isso eu sabia tanto de todos ali, por causa de meus "olhos eletrônicos". A câmera fora de minha mãe, e virara meu tesouro mais precioso.
O único problema, que ultimamente insistia em martelar minha mente, era simples: na foto, estava a lista com as datas dos próximos contratos da Sociedade. E meu nome estava nela.
O nome de todos estava nela.
×××
Assim que saí do quarto, em um vestido dourado e de saia curta, além da nova cor loira nos cabelos (quase o branco do qual deveriam ser naturalmente, devido ao remédio), estranhei ao não encontrar Alessa no corredor. Normalmente, era eu quem me atrasava, e a inversão de papéis era um tanto suspeita. Porém, mesmo assim, resolvi me comportar normalmente, sorrindo e observando as demais bambolas.
Ao meu ver, sorrir talvez ajudasse a enfrentar o que viria, como uma veterana certa vez fizera, em minha primeira noite de trabalho. Queria fazer o mesmo pelas outras, dar-lhes força, mesmo que mal retribuída.
- Boa noite, Lyna. - falei, cumprimentando a pequena e assustada garota ao meu lado - onde está Lany?
Ela me encarou, trêmula como sempre, e hesitou em falar:
- Ela se atrasou com a escolha do vestido. Minha irmã mais velha é um pouco... excêntrica.
Lyna tentou fazer humor, mas fracassou miseravelmente. A testa enrugada a delatava.
- Sei. - respondi, sorrindo de leve.
De repente, a porta se abriu, e a luz tornou-se mais assustadora que a escuridão.
- Boa noite, mi bambini. É hora da mágica! - Datha falou e, mesmo que não pudesse vê-la devido ao escuro, quse estremeci. Quase.
O grupo de bambolas começou a se movimentar, levando-me junto. Não importava quantas vezes aquilo acontecesse, meu coração sempre acelerava. O que, diga-se de passagem, para mim não era algo bom.
Olhei para Lyna, no exato momento em que sua expressão de horror se transformara em um sorriso luminescente. O mesmo acontecia comigo, embora nem mais percebesse.
×××
Enquanto descíamos pelas passarelas compridas, nos aproximando cada vez mais das cortinas cor sangue, senti alguém puxar a manga de meu vestido. Virei bem a tempo de ver uma Alessa sorridente.
- Rubi! - exclamou, o cabelo trançado ainda meio úmido - não acredito que te encontrei! Ônix vai pirar quando souber que já acordou! Aquela Meena...
- Alessa! - interrompi seu falatório, tocando-a de leve e dando um sorriso sincero - fico feliz em te ver também. E, antes que pergunte, estou bem. Afinal, cheguei até mesmo antes de você.
Suas bochechas pálidas coraram intensamente, fazendo-a baixar o olhar.
- Desculpe, acabei demorando no banho. Foi difícil tirar a tinta do... - engasgou, calando-se de repente.
Arqueei uma sobrancelha.
- Tinta, é? - antes que continuasse com as perguntas, um par de braços quase me enforcou.
Nem precisei virar de costas para saber que era Ônix.
Ele, agarrando-me ainda mais forte, levantou-me do chão. Senti todos os ossos das costas estalarem.
- Você está bem! - quase gritou, animado - ah, mas eu vou matar a Meena!
- Me solta! Ou vai acabar comigo de vez! - respondi, fazendo-o me largar e se afastar uns dois centímetros - acho que com essa esticada você me fez crescer um metro à mais!
Os dois riram, de maneira completamente sincronizada. Suas mãos quase se tocavam, e as peles brancas pareciam atrair-se de alguma forma.
Minha cara amarrada durou apenas dois segundos, até que percebesse um ponto colorido no cabelo de meu irmão. Era quase impossível de notar, no meio das demais madeixas brancas. Mas a mancha azul ainda assim era visível. A tinta ainda parecia fresca.
Tinta? Interessante...
☆
☆
☆Oi gente!!! Desculpem pela demora, (e pelo tamanho do capítulo, hehehe) mas aqui está um especial feito pela visão da Rubi! Espero que estejam gostando.
P.S.: O dia de postagem agora será aos domingos. Consegui encontrar um bom tempo para escrever.
Bjsss!!!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)
Fantasy☆Sociedade Porcelana - Livro 1☆ "Pareciam bonecos em uma estante. Seus rostos, tão lindos, não tinham emoção alguma. Suas peles, tão brancas e sem marcas, pareciam porcelana. Seus olhos, tão multicoloridos, pareciam pingos de cor em uma tela vazia...