Os passos ritmados das duas silhuetas que andavam pela beirada do prédio não podiam ser ouvidos. Havia algo neles, algo que os fazia silenciosos, os perfeitos predarores á espreita, esperando que sua presa da vez estivesse distraída o suficiente para poderem fazer seu trabalho. O cheiro que vinha do beco escuro abaixo deles era de ovo podre, lixo e sangue, fazendo Florence torcer o nariz em uma careta.
Ela percebeu que o rapaz a quem seguiam parecia não saber pra onde ir, mas sabia muito bem o que fazer, apenas não queria ser seguido, já que olhou para os dois lados antes de abrir uma grande porta de metal fazendo um barulho alto.
Ela revirou os olhos e riu baixo pensando em como os humanos eram burros.
— Pra que uma porta tão barulhenta se ele não quer chamar atenção? — murmurou enquanto prendia o cabelo ruivo num rabo de cavalo e olhou para o homem ao seu lado. Percebeu que o tempo que o mesmo levou pra se arrumar fora gasto bem. O cabelo preto estava impecávelmente jogado para o lado e cobria um pedaço do rosto. A roupa, Florence lembrou, foi a mesma que usou no enterro de Juliet, uma amiga, três semanas antes.
— Pegue leve com ele, Flea, humanos não tem tanto tempo pra realmente aprender á serem cuidadosos — ele riu — Angelo e Electra já estão lá dentro, vamos.
Então os dois desceram graciosamente com a ajuda das grades da escada de incêndio e, enquanto andavam até a mesma porta por onde sua presa havia entrado, Florence teve a impressão de ouvir passos, mas decidiu esquecer. Algumas vezes, tantos anos a faziam ver e ouvir lembranças que não eram reais. Diferente de Raphel, ela percebeu, que andou confiante e sem olhar para trás.
A porta havia sido deixada levantada o suficiente para que ambos pudessem passar. Mais uma vez, Florence riu do descuido humano.
O interior do depósito onde se encontravam era meio iluminado e cheio de caixotes de madeira e serragem, fazendo Florence ter de passar as mãos nas roupas para limpá-las. Observou o local e pôde ouvir os passos do rapaz no assoalho não muito distante de onde estavam. A garota pode ver, do outro lado da grande sala, o reflexo amarelo da adaga favorita de seu melhor amigo. Subiu os olhos e o viu sorrindo atrás de uma das pilastras que ajudavam a sustentar o local. Havia apenas alguns minutos que tinham se separado para que ela e Raphael acompanhassem a presa da vez, mas Angelo já parecia diferente. Ele sempre ficava assim quando estavam no meio de um trabalho. Ficava mais silencioso e, ao mesmo tempo, mais calculista, pensando e antecipando cada respiração e cada passo.
Florence adentrou mais o local e camuflou seu corpo em uma das sombras projetadas por uma pilha de caixas, tendo uma visão mais aberta do lugar e localizando o rapaz mais á frente prestes a entrar em um corredor.
Foi quando Electra, que até então estava observando de uma das vigas do telhado, saltou exatamente na frente dele. E então Angelo apareceu á meia luz e caminhou lentamente até estar á alguns centímetros dos dois.
Florence sorriu e o acompanhou, assim como Raphael, cercando o rapaz.
— Mas o que...? — o homem alternou o olhar entre eles de modo confuso, como uma presa olharia para seu predador antes de finalmente entender o que o destino lhe reservara. — Quem... quem são vocês?
Florence riu com desdém apoiada na parede de entrada do corredor á frente, enquanto analisava os sinais de nervosismo do homem. Viu uma gota de suor escorrer por sua têmpora e reparou na pele brilhante do pescoço onde sua veia pulsava demonstrando as batidas fortes de seu coração.
Um coração que, dentro de alguns minutos — talvez segundos, dependendo da vontade deles de brincar com sua presa — estaria inerte.
— Nós? — ela tombou a cabeça ligeiramente para o lado estreitando os olhos ainda com o sorriso maldoso nos lábios — Somos seus pesadelos.
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Seven Devils
RomanceÁgua benta não pode te salvar agora. Você não terá para onde correr se o seu nome estiver na lista deles, terá apenas que aceitar a morte eminente. Existe apenas um jeito deles não matarem você: ser um descendente da magia. E é isso mesmo o...