Uma bebida, por favor

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— Oi? — mamãe parou, olhou para o redor, para ele, depois para mim — Miranda carnen, esse é seu namorado?

Minhas mãos soavam frio, Scott prendia o riso e papai parecia o mais interessado na história. O que eu iria dizer? Meu namoro um dia e meio com o idiota do Scott? Ele tinha uma reputação que todos conheciam e a primeira coisa que ela ia perguntar era isso. Minha boca abriu, mas não sabia bem o que dizer.

— Vamos, Miranda — papai pegou minha mão, de maneira carinhosa — você já é grande o suficiente para ter um relacionamento, não estamos bravos com você, pelo contrário — gargalhou, como se a piada fosse boa demais para deixar aquela gargalhada abafada escapar — nós achamos que era... Lésbica.

Scott estava tão vermelho quanto a blusa de frio de papai. Vermelho de prender risada, presumo.

— É, minha querida.  Quer dizer... Você nunca fala sobre garotos, não que você tenha feito a melhor escolha... Mas se te faz feliz, estamos de acordo.

***

Depois que meus pais entraram no velho Palio e sumiram na estrada movimentada, eu pude gritar. Gritar como nunca tinha gritado antes.

— Você viu o que você fez ? — disse massageando as temporadas — meus pais até mensionaram de um jantar, você sabe o que isso significa?

— Comida — sorriu ele, dei logo um soco em seu braço esquerdo.

— Agora eles vão lembrar de mim com você, Scott. Eu queria ter feito as coisas certas. Eu tinha planejando uma pessoa diferente, quer dizer... Uma pessoa que realmente me merecesse — Se não o conhece- se diria que uma nuvem de tristeza pousou sobre seu cabelo bagunçado. Mas ele não era desse tipo.

Agora já estava feito. Antes de qualquer coisa corri. Passei pelo gramado do Campus, passei pelos três prédios cinzas até chegar no dormitório. Uma série de pequenos apartamentos cuja metade dos alunos ainda estavam arrumando suas coisas. Passei por todos sem ver Aika.

" Não fume. Não beba. Não seja barulhenta e vamos nos dar muito bem" debaixo do escrito de caneta permanente, uma pequena placa metálica " quatro 335" e vários adesivos gastos em volta.

Bati uma, duas, três vezes, na quarta entrei com tudo.

Quase fui em direção a cortina, para abrir tudo de umas vez. O quarto tinha apenas uma parte iluminada, a outra era entregue para a escuridão.

— Aí está você — Uma garota bem no fundo da escuridão abaixou um livro grosso, mostrando olhos bem puxados, mas atentos.

— desculpa, eu não sabia que tinha alguém... Eu até bati...

A garota se aproximou arrastando o corpo.

— Aquela é sua cama — ela apontou para uma cama semelhante a dela, a cama transbordava de malas, que no caso eram minhas — o quarto tem um banheiro, e se você entupir, você cuida. Não aprecio cheiro de merda, se é que me entende — a garota voltou e deitou.

Depois de muito pensar, acabei perguntado

— você não devia estar lá? Nos prédios?

— E você, não deveria?

O silêncio reinou. Peguei algumas das malas e arrastei até debaixo da cama, tentando fazer menos  barulho possível.

O segredo da borboleta quase azulOnde histórias criam vida. Descubra agora