Como Matar o Homem Mais Rápido Vivo

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- Deveríamos ter vindo logo para cá. - Uma voz carregada de uma certa impaciência bem condizente com o seu tom jovem ecoou pelas paredes do laboratório fechado e escuro. - Deveríamos ter vindo direto pra cá!

- A leitura termal do laboratório era bem clara. - Uma segunda voz, dessa vez carregada e cansada respondeu. - Ele trancou o laboratório há quase 3 horas. Isso indica que ele deixou o lugar.

Finalmente, tateando no escuro, o dono da segunda voz alcançou o interruptor e, uma a uma, as luzes foram tomando conta do grande laboratório. O homem, identificado pelo crachá pendurado em seu bolso, era Gabriel Valentine, dono de um semblante cansado e um tom de voz quase inquisidor. Ao seu lado, seu filho, Daniel Valentine, carregado daquela saudável arrogância que quase todo jovem recém chegado na casa dos vinte carrega, e aquele olhar desgraçado de "sou o dono do mundo" que é capaz de tirar muita gente do sério.

Os dois caminharam pela sala, religando manualmente os computadores e painéis digitais, que piscavam leds azuis e vermelhos de gratificação.

- Pai! - A voz de Daniel ecoou pelo laboratório semi-desperto. - Vem ver isso aqui!

Havia, sob uma pequena mesa, uma antiga câmera digital. Daniel segurou a câmera com as duas mãos, sentindo uma insegurança inexplicável ao fazê-lo. Colado nela havia um post-it com letras quase ilegíveis dizendo: me assista em câmera lenta.

- Reproduzir. - Ordenou ele com voz firme. Nada aconteceu. - Play! - Ele tentou novamente. - Foi quando notou que seu pai abriu um sorriso escarnecido ao seu lado. - O que foi?

- O que eles te ensinam na faculdade? - Disse Gabriel tomando a câmera. - Você pode não acreditar, Daniel, mas já houve um tempo em que nós não transmitíamos dados exclusivamente por wireless.

- Então como...? - Daniel observou enquanto o pai se abaixava em direção à gaveta mais baixa da mesa, e voltava com um velho cabo USB. Ele revirou os olhos. - Isso soa exaustivo!

Gabriel ignorou o comentário do filho e plugou a câmera ao computador central. Um arquivo de apenas 8 segundos, uma gravação de altíssima capacidade de registros e captura de frames. 23 gigabytes de dados em um arquivo de 8 segundos? Era muita coisa, mesmo para uma gravação com uma taxa de frames tão alta. Diante dos olhos dos dois, a figura do doutor Silas Valentine se iluminou. Era visível a aparência abatida e cansada, os olhos fundos, a barba, que parecia não ser feita há meses, bem como os cabelos longos e desgrenhados, mas isso era impossível! Os dois o viram naquela mesma manhã e ele estava tão bem quanto poderia estar. Porém, essa foi a única coisa notável na gravação. Assim que teve, de fato, início o que se seguiu foi um vídeo incompreensível. Os movimentos do doutor estavam tão acelerados que ele se tornou um borrão. Sua voz era inaudível e indecifrável aos ouvidos humanos, vibrando em uma frequência tão rápida que os tímpanos dos dois chegaram a doer. E, então, oito segundos depois, acabou. Pai e filho trocaram olhares, buscando algum tipo de esclarecimentos um no outro. Em vão.

- O que foi isso? - Daniel foi o primeiro a quebrar o silêncio momentâneo que ameaçou se instalar.

- O arquivo estava com problemas. Provavelmente foi erro de compilação, vai ver o arquivo está corrompido.

- Impossível. Estamos falando de 23 gigabytes, pai. Não tem nada corrompido aqui.

- Então o que foi isso?

- Bom... - Daniel puxou a cadeira e começou a digitar furiosamente no computador. - É uma projeção gravada em hiper-captura de frames. Vou tentar uma coisa... Pronto.

- O que você fez? - Gabriel perguntou com os olhos fixos na tela.

- Diminuí a velocidade de reprodução. O máximo que nosso servidor aguenta é 150x mais lento, mas creio que seja o suficiente.

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